- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶...

By godhannie

65.8K 8.7K 16.9K

[COMPRE O LIVRO FÍSICO EM https://www.luoeditora.com/produtos/antares-aqueles-que-nao-tem-perdao-em-producao... More

AVISOS
Prólogo | I can't forgive and I can't forget
001
002
003
004
005
006
007
008
009
010
011
012
013
014
015
016
LIVRO FÍSICO CONFIRMADO
017
018
019
020
021
022
023
024
025
026
027
028
029
030
032
033
034
035
036
037
038
039
040
041
AGRADECIMENTOS + LIVRO FÍSICO
PRÉ-VENDA ABERTA!!!!!!!

031

625 90 299
By godhannie

Guryong Village, Seoul
Sete meses antes do crime.
19:46

— Ei, garoto.

O homem olhou para os lados checando se tinha alguém por perto, mas a essas horas todos os moradores da vila estavam se aconchegando em algum lugar pra passar a noite.

— Ei – sussurrou mais uma vez – Olha aqui.

Bang Chan que cochilava encostado em sua bicicleta, abriu os olhos de uma vez e levou um pequeno susto ao ver o homem desconhecido lhe encarando.

— Quer ganhar uns trocados fazendo um favor pra mim?

— Claro – ele se levantou de uma vez se empolgando com a ideia. O dia foi difícil hoje, não conseguiu muito dinheiro mesmo fazendo vários bicos, e estava juntando forças pra voltar pra casa sem comida outra vez.

— Vá até Gangnam, vai ver um estúdio de tatuagem chinês, entregue isso aqui – estendeu um pedaço de jornal dobrado.

— Gangnam? – Chan franziu o cenho.

— Isso, entregue a um jovem de cabelo vermelho, ele vai te dar algo em troca – disse – Vou ficar aqui esperando você trazer pra mim.

— O que ele vai me dar em troca? – o garoto perguntou por curiosidade.

— Quer ganhar doze mil wons ou não?

— Quero – respondeu sem nem pensar duas vezes.

— Então vai logo – mandou – Te pago assim que voltar.

Bang Chan não podia questionar muito, estava sempre precisando de dinheiro e eram poucas as coisas que não faria em troca de alguns trocados.

Ele subiu na bicicleta, guardou o jornal dobrado no bolso e pedalou até o bairro vizinho. Começou a ficar nervoso quando viu os faróis dos carros caros, e as luzes dos apartamentos milionários que haviam ali perto. O garoto tinha medo de alguém dizer algo contra ele, talvez lhe acusarem de ser um ladrão ou exigir que ele voltasse pra Guryong, já que suas roupas surradas e os pneus sujos de sua bicicleta evidenciavam que ele não pertencia ali.

Não demorou muito pra que visse uma placa de neon vermelho com caligrafia chinesa, leu o nome Antares e pelos desenhos da fachada notou que era o estúdio de tatuagem que o homem falou. Chan deixou a bicicleta encostada em um poste, e com o coração na mão abriu a porta do estabelecimento fazendo um sininho tocar assim que a porta foi toda aberta.

A sala de espera estava vazia, por isso Bang Chan permaneceu no mesmo lugar esperando que alguém aparecesse. Reparou em todos os detalhes da sala, desde as tatuagens e desenhos colados na parede, até a mesa digitalizadora enorme onde um dragão estava sendo desenhado na tela. A luz vermelha oscilava entre mais fraca e mais forte, algumas decorações chinesas estavam penduradas na parede ou em cima da mesa de desenho, e no geral havia tanta poluição visual naquele cômodo que Chan ficou até um pouco tonto conforme a luz oscilava.

Quando estava cogitando a ideia de se sentar em uma das cadeiras de espera, ouviu passos e vozes de pessoas conversando que ficou mais alto a medida que eles voltavam pra lá. Primeiro, Chan viu um homem totalmente tatuado aparecendo com um plástico enrolado no braço, e em seguida um garoto mais baixo de cabelos vermelhos atrás dele explicando sobre a cicatrização da tatuagem.

Assim que ambos o viram, Bang Chan sentiu o olhar dos dois percorrer seu corpo todo e a expressão familiar de desprezo aparecer em seus rostos. Ele já esperava isso, é assim que todos de Gangnam olham pessoas de Guryong, e nesse momento ele já se preparou pra ser chutado pra fora antes de ter a chance de dar o recado do homem desconhecido.

— Quem é você? – o de cabelos vermelhos perguntou com desprezo.

— Olha, eu já vou embora – o homem tatuado se virou pro outro – Volto na próxima sessão. Obrigado, Xiaojun.

Os dois se curvaram um para o outro, e o homem fez uma curva enorme pra desviar de Chan e passar pela porta. Antes que tivesse que ouvir outro comentário sobre seu cheiro ou suas roupas, o garoto imediatamente já estendeu o jornal dobrado e se explicou antes que Xiaojun perguntasse.

— Um homem em Guryong me pediu pra te entregar isso, disse que você vai lhe dar algo em troca. Ele me ofereceu dinheiro pra vir até aqui, não sou um ladrão, só me entregue o que ele pediu e eu vou embora.

— Ei, se acalme – o homem acabou rindo – Eu não disse que você é um ladrão, só me assustei pois não estava esperando ninguém.

— Me desculpe por ter entrado – se curvou.

— Relaxa um pouco, cara – ele riu e pegou o jornal da sua mão. Quando desdobrou, havia dinheiro lá dentro, assim como Chan já tinha imaginado – Está precisando de dinheiro mesmo, não é?

— Sim – engoliu em seco.

— Imaginei – respondeu – Você nem se deu o trabalho de perguntar o que viria buscar.

Chan estremeceu e arregalou os olhos, o garoto de cabelo vermelho riu se divertindo com sua reação. Foi até a sala seguinte, Chan escutou ele destrancar alguma gaveta, e em seguida voltou de lá com um saquinho branco na mão.

— Receba seu dinheiro e fique de bico calado, ok? Não é difícil fazer isso – ele tirou de uma gaveta um saco de batatas chip's e rasgou a embalagem colocando o saquinho com pó branco dentro – Toma.

Chan estava assustado, nunca tinha visto tanta coisa diferente de uma só vez. Primeiro, estava nervoso por estar em Gangnam e surpreso por ter entrado em um estúdio pela primeira vez, e segundo, não entendeu porque aquele homem não lhe chutou pra fora e surtou internamente por estar mesmo ajudando alguém a traficar em troca de dinheiro.

Sabia que tinha chegado no fundo do poço pra se submeter a isso, mas como o homem disse, não é tão difícil esconder. Vai ser simples, irá pedalar rápido porém discreto, entregar a droga e receber seu dinheiro. Não é grande coisa. Ele deveria era agradecer por alguém querer lhe dar dinheiro por isso, em sua atual situação, não há quase nada que não faria pra alimentar seu irmão mais novo e parar de sentir esse vazio no estômago.

— Eu... – ele esticou o braço pra pegar o saco de batatas. O cheiro que ficou na sala fez seu estômago roncar, e Chan sentiu a saliva juntar na boca – Posso comer depois?

— É seu – entregou a ele.

Chan se segurou pra não abrir e devorar as batatas, devia esperar pra entregar a droga ao homem e só depois levar as batatas pra casa e dividir com Jisung. Pensar em dividir comida é tão difícil quando se está com tanta fome, mas Chan sempre mentaliza Jisung até que seu estômago se acalme. Não vale a pena comer se ele não comer também, provavelmente vomitaria tudo de tanta culpa.

— Obrigada – seus olhos até quiseram chorar – Muito obrigada, não sabe o quanto estou com fome.

— Sem problemas – sorriu fraco – Qual o seu nome?

— Bang Chan – se curvou lhe cumprimentando – E o seu?

— Xiao Jun – respondeu – Você é mais novo que eu, não é?

— Talvez um ou dois anos, apenas. Já passei da maioridade.

— Hum – murmurou concordando – Certo.

Chan se curvou outra vez, não sabia mais como agradecer a ele, e sem enrolar muito se apressou pra cumprir seu serviço rapidamente e ter seu dinheiro pra comprar mais comida. Se aquele desconhecido não lhe pagar, pelo menos ganhou um saco de batatas cheinho e isso já vale a pena.

— Vou indo. Obrigada, Xiaojun.

O homem de cabelos vermelhos acentiu, e Chan se virou pra ir embora até que ouviu a voz de Xiaojun outra vez.

— Ei.

Enquanto pegava sua bicicleta, viu o homem sair do estúdio e ir até ele até chegar perto o suficiente pra mais ninguém ouvir a conversa.

— Muitas pessoas compram comigo, seria bom se pudesse fazer esse serviço mais vezes. Posso te pagar por cada entrega – deu alguns tapinhas em seu ombro antes de correr de volta pro estúdio – Pense nisso, sabe onde me encontrar.

A ideia é tentadora, Chan pensou em dizer sim imediatamente quando ouviu que seria pago, mas fechou a boca antes que saísse algum som.

Fazer isso várias vezes parece perigoso, e se fosse preso por isso, ninguém iria até sua casa cuidar de Jisung e levar comida pra ele. Mas ao mesmo tempo, se ele não arranjar dinheiro pra comprar comida, Jisung morreria de fome do mesmo jeito.

É uma bola de neve, e ao sentir o cheiro da batata outra vez, Chan decide pensar nisso depois. Ele pedala fazendo a bicicleta velha ranger, e sai de Gangnam o mais rápido possível voltando pras ruas sujas e lamacentas de Guryong.

O homem estava sentado no chão agora, e Chan escutou sua respiração ofegante ao se aproximar e disfarçadamente abrir o saco de batatas e entregar a droga pra ele.

O homem sorriu, pegou com os dedos trêmulos e desesperados, e só depois de alguns segundos que Chan continuou parado esperando, o homem colocou a mão no bolso e jogou o dinheiro em direção a ele como prometido.

Seu coração se encheu de felicidade, e seus pés cansados e doloridos correram o mais rápido que podia até a conveniência mais próxima, onde compraria comida pra matar a fome de hoje.

A fome de amanhã, quem sabe não poderia ser saciada com o mesmo trabalho que fez hoje, afinal de contas, tudo vale a pena pra ver Jisung saudável e de barriga cheia, e se conseguisse proporcionar isso todos os dias e ainda comer o quanto quisesse, não pediria por mais nada, pois todos os outros sofrimentos são suportáveis, mas a fome não. A fome mata. E Chan não queria que Jisung morresse assim.

***

Antares, Gangnam-gul.
19:29

— Por que está me contando isso? – perguntei – Ainda estou esperando você me amarrar.

Desde que chegamos, a única coisa que Xiaojun fez foi me fazer sentar no sofá do seu estúdio de tatuagem e me contar como conheceu Bang Chan, enquanto dois homens que não consigo ver o rosto estão parados na porta como um aviso de que eu não posso sair, mas também não sou violentamente obrigado a ficar.

— Eu já disse, Minho – ele cruzou as pernas sentado na cadeira – Isso não é um sequestro.

— É o que, então? – ri com deboche.

— Se eu te convidasse pra vir, você viria?

— Nunca.

— Então pronto – deu de ombros abrindo um pirulito de coração – Quer um?

— Vai se foder, Xiaojun – disse de uma só vez – Diz logo o que você quer.

Estou agoniado, não consigo esquecer do olhar de tristeza que Jisung me deu quando eu fui embora e ignorei sua surpresa que ele preparou com tanto carinho. Tudo isso é culpa de Xiaojun, tudo de ruim que já aconteceu na minha vida é culpa desse maldito homem sentado na minha frente, e tudo que eu mais quero nesse segundo é levantar e esmurrar a cara dele.

— Não estou te entendendo – riu – Há alguns minutos atrás você estava tremendo de medo feito um cachorrinho, e agora está mandando eu me foder.

— Que seja – respirei ofegante sentindo meu sangue ferver – Você não pode simplesmente ser direto?

— Não – respondeu – Temos muito tempo, essa é uma longa história. Mas se você não quiser saber, por mim tudo bem.

— É claro que eu quero saber da verdade – disse – Eu só não entendi porque você quer me contar.

— Porque eu quero algo em troca, é claro – sorriu lambendo o pirulito – Ou você achou que eu simplesmente te contaria tudo porque tenho um bom coração?

— Não – respondi – Isso é a última coisa que você teria.

— É – sorriu – Porque se eu tivesse eu seria um bananão igual você.

Idiota.

Eu o odeio tanto, até o simples som dele respirando faz eu fechar minhas mãos em punhos e ranger os dentes. Parece que tudo que há de errado na minha vida é culpa dele, não consigo suportar olhar em seus olhos e pensar que também por culpa dele eu estou aqui agora.

— Ah, qual é Minho? Vamos ser sinceros – apoiou os dois pés em cima da mesa de centro – Você tinha tudo nas mãos, se fosse inteligente já saberia da verdade há muito tempo, já que eu nunca escondi nada de você. Tudo o que você fez foi se alienar na sua vidinha de merda e fingir que era feliz, você não se preocupou em lutar contra mim, é por isso que é tão entediante perseguir você. Qualquer pessoa é menos estúpida, até o bunda mole do Jisung teria feito alguma coisa.

— Não fala assim dele! – gritei. Posso ouvir ele me xingar a noite toda, mas não posso ouvir o nome de Jisung sendo pronunciado por sua boca nojenta que meus pelos se arrepiam de tanta raiva.

— Você não pode discordar – deu de ombros – Decida logo, não estou obrigando você a ficar aqui. Se não quer saber o que aconteceu, saia.

— Como vou saber que você está dizendo a verdade?

Ele riu e suspirou relaxado, até alongou os braços antes de responder.

— Minho... – riu – Pra quem mais você vai perguntar? A única pessoa que também estava lá já morreu.

Meu peito doeu, e dessa vez devo assumir que ele está certo. Se eu quiser mesmo saber sobre tudo, ele é o único que pode me contar. Posso simplesmente ouvir o que ele tem a dizer e decidir se quero acreditar ou não, afinal de contas, não vale a pena viver o resto da minha vida com essa dúvida sobre o que aconteceu.

Eu demoro um pouco pra responder, estou assustado com tantas coisas ao mesmo tempo, e minha raiva faz meu coração bater tão acelerado que não consigo pensar direito. Eu quero saber sobre tudo, nem que seja a última coisa que eu faça, eu quero pelo menos ter a chance de entender por qual motivo minha vida se tornou o que é hoje, e por mais que eu tenha tanto medo de saber, eu preciso.

— Continua – pedi. Meu suor escorre pela testa e meus lábios tremem de nervoso.

Xiaojun sorri satisfeito e pega outro pirulito, mordeu devagar e começou a mastigar me provocando com o barulho irritante que faz minha cabeça arder.

— Chan começou a trabalhar pra mim, ele vinha a Antares praticamente todos os dias. Ficamos amigos com o tempo, mas eu já sabia quem ele era. Eu sempre soube.

Eu levantei o olhar pra ler sua expressão, ia questiona-lo mais uma vez, mas Xiaojun se levantou com um sorriso e abriu uma gaveta tirando de lá um pacote de chocolate. Ele tem compulsão alimentar, isso é fato.

— Minho, qual é o seu sonho?

— Pff! – revirei os llhos – Por que eu fui acreditar em você? Não vai terminar essa história nunca.

— Não, isso faz parte da história, devia saber interpretar melhor – me ofereceu o chocolate e eu recusei – Vou te contar meu sonho, meu maior sonho. Sabe por que decidi estudar química?

Eu o olhei com desprezo, não quero demonstrar tanto interesse em algo que é importante pra ele, porque do fundo do meu coração eu não desejo nada de bom pra esse ser repugnante, e muito menos quero saber qual seu sonho ou o que raios ele quer fazer da vida.

— Eu queria descobrir a felicidade – sorriu gesticulando como um louco – A felicidade de verdade Minho, o nível mais alto de endorfina que o corpo humano pode suportar. Eu queria saber a fórmula pra isso.

Maluco.

Ele é completamente louco e a cada segundo que passa tenho medo do que ele vai dizer. Toda essa história ainda é imprevisível pra mim, e meu coração não sabe como se preparar pra isso.

— Desde que conheci as drogas eu comecei a estuda-las, substância por substância, até que achasse a combinação perfeita que causasse a melhor sensação que um corpo já sentiu. A felicidade em seu maior nível Minho, era isso que eu queria criar. E eu consegui.

Seus olhos brilhavam conforme ele falava, e o sorriso em seus lábios ao mesmo tempo que era tão verdadeiro, era tão assustador.

Nunca vi alguém dedicar sua vida a uma ideia tão maluca, e não consigo entender porque ele queria tanto criar isso. Não parece ser com o único intuito de vender uma droga nova, Xiaojun parece obcecado nessa história de felicidade, como se fosse o único motivo pelo qual ele viveu até hoje.

— Onde quer chegar com isso? – perguntei com medo da resposta.

— Bom – seu sorriso sumiu e ele deixou o chocolate de lado dessa vez – Eu fiz uma proposta pra Bang Chan naquela época.

— E? – perguntei quando Xiaojun ficou em silêncio.

— E ele aceitou – deu de ombros – Foi escolha dele.

***

Gangnam-gul, Seul.
Cinco dias antes do crime.
15:38

— Ufa! – expirou com todo o ar nos pulmões – Minhas costas doem como se alguém tivesse me atropelado.

Se jogou no sofá do estúdio de Xiaojun, fechando os olhos e esperando a dor em seus ossos aliviar um pouco. Bang Chan estava exausto, todo o seu corpo estava cansado de pedalar, correr, pedir emprego, pedir ajuda, pedir comida, pedir tudo que podia e ainda assim não receber nada. Nem uma simples oportunidade.

— O que fez hoje pra se cansar tanto? – Xiaojun perguntou enquanto terminava de desenhar o pedido de um cliente.

— O mesmo de sempre.

Chan sentia que não tinha mais condições físicas e muito menos emocionais pra continuar assim. Tentava de tudo todos os dias, oferecia prestar serviços em troca de alguns centavos, pedia emprego pra alguns motoristas que paravam no semáforo, e agora também implorava por remédios na farmácia.

— Jisung está resfriado, muito resfriado – suspirou exausto – Não sei mais o que fazer, preciso leva-lo ao médico.

— Os remédios não resolveram? – perguntou.

— Não – disse preocupado – Ele está cada dia pior, não sei mais o que fazer pra conseguir dinheiro. Não tem nenhuma entrega hoje?

— Não, você já entregou em Guryong, as pessoas em Gangnam costumam vir buscar.

— Droga – xingou sentindo outro aperto no coração. Estava tentando esconder de Xiaojun o seu desespero, ele já tinha lhe ajudado com uma quantia que usou pra comprar remédios pra Jisung, não queria que parecesse que ele estava implorando por mais, afinal, Xiaojun já tinha ajudado o bastante.

O silêncio pairou na sala, e Chan encostou a cabeça no sofá pensando na própria vida enquanto Xiaojun desenhava e esterelizava alguns materiais. Chan queria voltar pra casa, queria ver se o garoto estava melhor e fazer companhia pra ele, mas odiava voltar pra casa sem nada. Hoje, não tinha comida nem dinheiro, não tinha novos remédios nem uma falsa esperança de que ele se recuperaria logo. Não podia voltar pra casa quando só o que tinha era um coração preocupado e mãos vazias, isso ia deixar Jisung pior.

Ele precisava saber o que fazer, sua obrigação como irmão mais velho era saber pra onde deveria ir, mas ele estava esgotado demais pra pensar. Precisava da ajuda de alguém, de qualquer pessoa que estivesse bem o suficiente pra pensar em uma solução, por que Chan já tinha passado tempo demais tentando pensar em algo de estômago vazio.

— Não sei o que faço, Hyung – disse com toda a humildade e sinceridade do mundo, esperando que isso fosse o suficiente pra que ele lhe amparasse – Me ajude.

Xiaojun respirou fundo e deixou a caneta de lado, se levantou e esticou os braços até que seus ossos estalassem. Pegou um pirulito laranja na gaveta e colocou na boca, depois se virou pra Bang Chan enquanto mordia o doce.

— Lembra quando eu te disse que estava criando uma novo "produto"? – fez aspas com a mão e sorriu.

— Lembro – Chan respondeu e apoiou  os antebraços nos joelhos.

Xiaojun colocou a mão dentro do seu pote de pirulitos, em seguida tirou de lá um saquinho pequeno com algo que se parecia com sais de banho.

Voilà – sorriu – Mefedrona, metilona, e alguns ingredientes secretos. Essa é a Cloud Nine.

— Nuvem nove? – Chan perguntou – Isso não significa, sei lá, felicidade?

— Correto – disse – Com a dose certa, a Cloud Nine estimula os neurônios a produzir o maior nível de endorfina possível pra um ser humano. É como a fórmula da felicidade, eu a criei pra isso, nenhuma outra substância pode causar o mesmo efeito. Isso aqui – levantou a droga em direção ao céu – É uma dádiva.

— Quando vai começar a vende-la? – Chan perguntou empolgado. Se vendesse logo, teria mais entregas, e poderia juntar dinheiro pra levar Jisung ao médico ou comprar algum remédio mais forte.

— Eu não posso vender ainda.

— Por que não? – sua empolgação foi por água abaixo.

— Porque eu preciso testar antes.

— Pensei que já tivesse usado. Você me disse que era um usuário.

Xiaojun ficou em silêncio, se sentou em frente ao garoto e seu sorriso sumiu por um momento.

— Channie – disse com cautela – Por que não unimos o útil ao agradável?

O mais novo engoliu em seco, não estava esperando por isso, e ficou em choque com o rumo da conversa.

— Você precisa de dinheiro e eu posso te dar muito, o quanto você quiser e mais – disse – E eu só preciso de você pra um simples teste, não é assustador como você pensa.

— Não – Chan negou imediatamente – Eu não posso, eu nunca usei nenhuma droga antes.

É claro que Chan faria absolutamente qualquer coisa pra ver Jisung bem, mas essa ideia é aterrorizante e faz seu corpo todo tremer assustado. Parece arriscado demais, mesmo sempre colocando a vida de seu irmão em primeiro lugar, ele também não queria morrer tão novo assim. É claro que sua vida não é muito feliz, mas não é tão triste o bastante pra se arriscar dessa forma. Ele ainda tem um irmão pra cuidar.

— Vamos lá, Channie, não seja covarde – Xiaojun insistiu – Do que você tem medo?

— Tudo – disse – Não sei como vou reagir, não sei o que pode acontecer comigo experimentando algo que ninguém nunca experimentou antes. Se eu sobreviver vou ficar viciado, e como vou sustentar esse vício? Eu nem tenho dinheiro pra comprar comida, Jun.

— Você não vai morrer, nem ficar viciado – garantiu – Chan, eu dediquei minha vida toda pra estudar e fabricar isso, não confia na minha inteligência?

— Confio – respondeu – Sei que você estudou em universidades caras, deve saber muito mais que eu, mas eu tenho medo. Muito medo.

— E onde acha que o medo vai te levar? Pensa que vai acordar um dia e alguém vai oferecer um plano de saúde pra você e seu irmão, e um carrinho de compras cheio de comida? – riu com um tom afiado na voz – Chan, você devia saber que a vida em Guryong não é assim, ninguém vai ter pena de você. As pessoas gostam que a pobreza exista como uma forma de incentiva-las a dar valor no que elas tem, faz bem pro ego delas.

O mais novo sentiu aquilo como uma facada em seu coração, mas Xiaojun estava certo. As pessoas ignoram os moradores de Guryong porque não se importam o suficiente, e as poucas pessoas que notam preferem levar algum ensinamento disso pra si mesmas, e não ajudar quem precisa.

Essa é a primeira chance de mudar de vida que ele teve em anos, Xiaojun tem condições de pagar uma quantia que pode fazer Chan conseguir até alugar um apartamento fora de Guryong. A ideia é tentadora, só de imaginar uma vida sem as dificuldades que enfrenta todos os dias seus olhos já querem se encher de lágrimas. Ele faria qualquer coisa por isso, qualquer coisa por uma vida onde Jisung e ele pudessem comer todos os dias sem ter que lutar tanto assim, qualquer coisa menos colocar sua vida em risco. É muito difícil aceitar.

— Me diz, se não aceitar isso, vai arrumar dinheiro onde?

— Eu não sei – apertou seus fios de cabelo completamente angustiado, preocupado, e confuso.

— Não espere Jisung piorar, Chan. Estou te dando uma oportunidade – cruzou as pernas – É muito simples, não vai doer nada e nem vai te matar, você estará novo em folha depois de dois dias. Eu te garanto.

— Quanto? – perguntou com as mãos suando de tanto nervosismo pela dúvida – Quanto você me pagaria por isso?

— O quanto precisasse – respondeu – Dois milhões de wons, talvez.

Chan arregalou os olhos surpreso, só ouviu falar desse valor quando assistiu parte de um filme no estúdio de Xiaojun. É tanto dinheiro que ele nem sabe quantas coisas pode comprar, comida infinita, roupas, remédios, alugar um apartamento e poder tomar banho em um chuveiro quentinho todos os dias. A ideia não parece tão ruim agora, e aos poucos o medo foi diminuindo.

— Eu... – massageou a têmpora pois sua cabeça estava quase explodindo de tanta dor – Eu preciso pensar. Preciso ir pra casa ver como Jisung está.

— Como quiser – sorriu – Posso te adiantar um valor caso queira deixar comida pra ele antes de vir.

— Tá, tá – respondeu sem conseguir mais ouvir uma única palavra sem surtar – Eu vou pensar sobre isso.

Chan se levantou com a cabeça latejando de dor, aceitou um pedaço de chocolate que Xiaojun lhe ofereceu, e guardou no bolso pra dividir com Jisung.

— Obrigado – disse – Por estar tentando me ajudar.

Xiaojun deu de ombros e revirou os olhos.

— Tentar eu tento – respondeu – Você quem precisa aceitar ser ajudado.

— É – Chan suspirou cansado e se curvou em despedida – Eu sei.

Ele saiu pela porta fazendo o sininho ecoar, e Xiaojun sorriu satisfeito. Sabia que ele voltaria daqui uns dias, afinal, Chan não tinha escolha. Nunca teve.

***

— Desgraçado! – eu levantei do sofá com toda a força e impulso do mundo pronto pra empurra-lo contra a parede, mas assim que tentei chegar perto dele, as mãos do homem encapuzado me puxaram pra trás até que eu caísse sentado no sofá – Foi assim que você o matou, não foi? Você o drogou até a morte!

Nananinanão – Xiaojun balançou o indicador de um lado pro outro – Bang Chan aceitou ser minha cobaia, eu nunca fiz nada sem seu consentimento.

— Ele não tinha escolha, seu idiota! Como você teve coragem de fazer isso com alguém que só precisava de ajuda? Você matou ele, seu monstro!

Gritei com todo o ar que tinha em meus pulmões, minha respiração ofegante e a raiva avassaladora que aos poucos sai de dentro de mim me fazem querer mata-lo com minhas próprias mãos, mas os seus dois capangas continuam me contendo naquele maldito sofá.

Quero rasgar seu rosto com minhas unhas, não consigo acreditar que ele teve coragem de tortura-lo tanto mesmo sabendo das dificuldades que ele passava. Jisung estaria completamente quebrado se soubesse disso, meu coração sofre como se ele fosse meu irmão e seguro uma vontade imensa de chorar. Ele se submeteu a isso pela sua família, Chan não merecia morrer de uma forma tão dolorosa.

— Você sabe muito bem que esse fardo é seu, Minho – sorriu sarcástico – Eu comecei o trabalho e você finalizou. Cruel da sua parte, não?

— Eu não matei ele! Ele estava praticamente morto, ele mal andava ou falava direito, ele cheirava a ácido e sua pele era... – meu estômago revira – Sua pele era escamosa.

— É – ele abre um maldito saco de batatas agora – Digamos que algumas coisas não saíram como o esperado.

— O que houve? – pergunto desesperado, sinto como se meu corpo estivesse em chamas e quanto mais me imobilizam mais eu quero alcança-lo.

— Você parece bem interessado – sorriu irônico – Bom, vamos lá. De volta ao esplêndido dia cinco de maio de dois mil e dezessete...

***

Antares, Gangnam.
Dia do crime.
23:15

— Já faz um bom tempo que ele está usando, Xiaojun – disse o homem – Quando acha que vai acontecer?

— Relaxa, cara – deu alguns tapinhas em seu ombro – Estamos perto, sei disso.

— Perto? – ele aumentou o tom de voz – Já fazem dias, quantas doses ele já tomou? Cinquenta?

— Não foram nem nove doses, abaixa a bola aí, parceiro – apontou a agulha pra ele – Se ficar enchendo muito meu saco você é o próximo a levar um pico.

Preparou outra seringa depois de derreter a droga, mais uma dose pra aplicar no homem sentado na poltrona há dias na mesma posição. A cabeça caída pra trás, os dois braços apoiados nos braços da poltrona, as veias roxas de tantas doses que já tomou, e os olhos virados pra trás com as pálpebras levemente abertas.

Estava inconsciente, ou quase isso. Murmurava algumas coisas de vez em quando, respirava devagar, e salivava tanto que escorria pela sua boca. A pele branca ficou acinzentada, a maciez ficou áspera e seus músculos tremiam involuntariamente, mas as vezes ficavam tão imóveis que Xiaojun precisava checar os aparelhos que colocou nele pra saber se ainda estava vivo.

— Se ele morrer agora seu plano vai dar errado, talvez seja melhor não aplicar outra dose. Estou falando sério, Hyung.

— Cala a boca, você fala demais – disse com desprezo – Essa parte do acordo é minha, cuide da sua e não se meta.

— Inferno – ele murmurou baixo e colocou as mãos na cabeça totalmente agoniado.

Xiaojun amarrou o elástico em seu antebraço, deu alguns tapas e logo as veias arroxeadas apareceram em seu braço. Ele colocou a agulha, injetou o líquido devagar e quando retirou deu alguns passos pra trás pra olha-lo. Seus batimentos cardíacos de repente aumentaram fazendo o aparelho apitar.

— É agora ou nunca.

Chan começou a tremer de novo, cada parte dele tinha espasmos tão fortes que faziam seu corpo pular da poltrona. Levantou sua cabeça devagar, seus olhos estavam virados pra cima e sua boca aos poucos começou a espumar.

— Jun... – o homem segurou no braço do mais novo – O que está acontecendo?

O aparelho apitou mais rápido, e Chan começou a sorrir enquanto todo o seu corpo chacoalhava. Seu sorriso era gigante, e logo em seguida puderam ouvir sua gargalhada. Estava acontecendo, todo o seu corpo sentia a mais intensa e profunda felicidade, o maior nível de endorfina que alguém já pode sentir em vida.

— Eu consegui! – Xiaojun gritou feito um louco e agarrou os ombros do homem comemorando – Eu consegui, porra! Está acontecendo!

Chan continuou tremendo, gargalhando e suando, todo o seu corpo aproveitava da sensação mais incrível e prazerosa que já sentiu. Sua mente estava levemente consciente, não trazia nenhuma memória ruim a tona, como se todo o seu corpo e cérebro tivessem se unido pra projetar a experiência mais perfeita de todos os tempos. E Chan amou sentir isso, amou sentir a mais pura felicidade por alguns minutos da sua vida, pois nunca tinha provado dela por completo. Era como voar e cair sobre as nuvens.

E Chan aproveitou isso, sentiu como se suas células estivessem pegando fogo de tanta alegria, assistiu todos os melhores momentos da sua vida serem projetados em sua mente. Sorriu e sorriu mais do que podia, sorriu até suas bochechas doerem e ainda queria sorrir mais. Aproveitou cada segundo como se fosse o último, porque sua mente nunca voltaria ao normal pra saber que de fato era.

— Jun... – o homem agarrou seu braço – Por que ele está ficando... Cinza?

— Não, não, não – Xiaojun colocou as mãos na cabeça desesperado – O efeito durou menos do que eu esperava.

O sorriso de Chan aos poucos desapareceu, sua cabeça caiu pra trás e seu corpo voltou a ter espasmos fortes. Seus batimentos cardíacos aceleraram, Xiaojun correu pra derreter a droga outra vez e injetar mais uma dose, mas sentiu a mão do outro homem agarrar seu pulso.

— Chega – disse com firmeza – Faça o que tem que fazer e acabe com isso.

Xiaojun olhou pro homem na poltrona, a pele já estava começando a enrugar e os vasos sanguíneos dos seus olhos estoravam deixando a parte branca vermelha. O plano ia por água abaixo se ele aplicasse outra dose, Chan estaria completamente inconsciente e morreria, não ia poder fazer o que Xiaojun planejou que ele fizesse.

Ele está certo, agora é a hora certa pois Chan não tem consciência o suficiente pra negar um pedido. Ele vai obedecer como um morto, mas vai lutar como um vivo. Assim como Xiaojun preveu, a queda veio depois do pico de endorfina, e Chan foi da pessoa mais feliz do mundo pra um monstro que não sente mais absolutamente nada.

Xiaojun se levantou, tinha até algumas lágrimas em seus olhos de emoção por ter conseguido, mas de frustração por ter durado tão pouco tempo. De qualquer forma, respirou fundo e decidiu se conformar pois não tinha tempo pra decepções, olhou pro homem em pé do seu lado e colocou seu plano em prática.

— Descubra onde Gahyeon está – ordenou.

Se virou pro homem na poltrona, seu rosto ainda é reconhecível, mas todo o seu corpo parece que sofreu algum tipo de mutação. Xiaojun sorriu, orgulhoso de si mesmo por ter estudado o suficiente pra saber que Chan agora seria seu fantoche canibal.

— Vamos lá, Channie – disse ao corpo imóvel – Hora do efeito zumbi!

***

— Nuvem nove menos nove – repetiu – Nove doses, menos nove minutos antes da queda. Essa é a fórmula da felicidade, Minho.

Estou chorando agora, e não há mais nada que eu queira fazer além de chorar.

A medida que Xiaojun contava tudo, meu coração se partiu outra vez, e mesmo que já tenha se partido outras vezes, a dor que sinto agora talvez seja a mais forte que já senti.

Eu sou inocente, eu finalmente me dou conta disso, talvez mais do que um inocente eu seja na verdade um salvador.

Eu salvei Bang Chan, salvei da dor reprimida que estava presa dentro dele, da dor que seu coração já não sentia mais, pois sua mente não se reconhecia, e seu corpo só se movia por ordens ou reflexos de defesa, como um fantoche.

Eu não consigo imaginar como foi passar por tudo isso. Talvez tenha doído, talvez sua mente tenha alucinado e ele nunca chegou a ter consciência do que realmente estava acontecendo. Talvez ele tenha tentado gritar, mas não saiu voz, talvez ele tenha desistido no meio do caminho, mas não pode implorar pra que Xiaojun parasse. São tantas as possibilidades que penso que minha única reação é deixar as lágrimas escorrerem, e soluço com dor e com alívio.

Não foi eu, nunca fui eu, e se foi, talvez essa tenha sido a coisa certa. Eu acabei com seu sofrimento, acabei com a tortura silenciosa que acontecia dentro dele, talvez em uma próxima vida eu possa dizer a Bang Chan que sinto muito, mas que no fundo, me senti honrado por ter sido aquele que libertou sua alma de tanta dor.

— Por que... – meu peito dói tanto que mal consigo falar – Por que fez ele sofrer tanto assim? Por que...

— Minho, ele nem mesmo sabia o que tinha acontecido, a última vez que ele teve um pouco de consciência foi quando atingiu o pico da Cloud Nine.

— Ele não merecia – não consigo parar de chorar, meu corpo inclusive perde a força e o aperto das mãos me segurando diminui – Você o torturou até a morte.

— Ele foi o único homem mais feliz do mundo antes de morrer, Minho – respondeu – Ninguém nunca sentiu o que ele sentiu, e provavelmente essa foi a última sensação que ele se lembrou antes de partir.

Não adianta, isso não faz meu coração se sentir melhor ou unir seus pedaços de volta, na verdade, me deixa ainda mais triste pensar que Bang Chan precisou de uma droga pra se sentir tão feliz, e pra partir sem se prender tanto ao que deixava na terra.

Passei tantas noites em claro pensando no que aconteceu que achei que já tinha pensado em todas as possibilidades existentes, mas não. Saber da verdade agora me faz sentir mais machucado do que antes, pois tudo que eu queria ter feito por Bang Chan era ajuda-lo, mas no primeiro momento achei que ele fosse o vilão.

Me arrependo por não ter lhe amparado, mesmo sabendo que o efeito provavelmente era irreversível. Dói em mim saber que sofreu em silêncio, e que tudo o que fez até o último segundo foi por amor a sua família, assim como tudo que fiz também foi pra proteger minha única irmã.

Se tivéssemos nos conhecido melhor, tenho certeza que iríamos nos entender, mas não houve tempo o suficiente pra isso. A dor que sinto é por mim, por ele, e por Jisung que ainda não sabe da verdade tão dolorida. Vai doer tanto, eu sei disso, e me machuca pensar que as coisas nunca param de ser dolorosas pra ele. É tudo tão difícil, tão sofrido. Nunca pensei que a vida em Guryong podia ser ainda mais cruel do que eu imaginava.

— Para de chorar, Minho. Seu problema é ser emocional demais – cruzou as pernas relaxando na cadeira – O que dói tanto em você? A culpa?

— Eu não tenho culpa, você é quem matou ele! Eu o salvei! – gritei com raiva.

— Ah sim, claro – gargalhou – Tenho certeza que a primeira coisa que Jisung vai pensar é que você o salvou.

Essa conversa de novo não, já tivemos essa conversa vezes demais e eu não quero repeti-la hoje.

Não consigo parar de chorar por me sentir tão aliviado, e ao mesmo tempo tão machucado ao saber de tudo. Estou exausto disso, exausto de estar há tanto tempo vivendo um pesadelo que não acaba, e quando finalmente sei a razão pela qual estou envolvido nisso, sinto um estranho alívio que tira um peso das minhas costas.

— Você planejou tudo, não foi? Você armou pra cima de Gahyeon.

— Correto – sorriu orgulhoso – Melhor do que matar dois coelhos em uma cajadada só, é usar um pra matar o outro. E de quebra, você me ajudou nisso também, só não precisava ter me deixado pra limpar sua bagunça, não é?

— Cala a boca! – gritei – Eu não aguento mais olhar pra você! Você é doente Xiaojun, você é nojento e cruel! Por que fez isso? Por que quis matar Bang Chan? Só pra satisfazer seu ego de assassino? Você é um monstro terrível, e Gahyeon jamais ia sentir algo por você.

Tenho nojo dele, só de olhar pro seu rosto sinto meu estômago revirar. Ele ultrapassa o limite de crueldade de um ser humano, ele é a pior pessoa que eu já conheci e só vou sossegar quando vê-lo na cadeia.

— Aquela vadia vai ter o que merece, assim como Chan teve.

— Chan? – ri irônico enquanto o ódio me possui – Qual o seu problema? Ele nunca fez nada pra você, nada! Assuma que você só quis matar um inocente porque você é um psicopata de merda!

— Acha que sou um psicopata? – ele gargalhou tão alto que os dois homens voltaram a me segurar com extrema força. Quero espanca-lo até que ele se esqueça de seu próprio nome – É isso que você pensa?

Xiaojun abriu outro pirulito calmamente, andou até sua bancada e pegou algo. Estendeu em sua mão um broche azul e branco, e se aproximou de mim pra que eu visse.

— Não se lembra disso?

Ele virou o objeto na mão, e vi o número vinte e um gravado atrás. Eu era muito novo na época, mas consigo me lembrar de algumas bandeiras com essas cores, papéis espalhados pelo chão com esse mesmo número.

E então, eu entendo tudo.

— Você... – arregalo os olhos e meu corpo todo treme.

— Não precisa mais me chamar de Xiaojun – sorriu colocando o broche em sua camisa – Eu sou Kwan Jaehyun, filho do ex-presidente da Coréia do Sul, Kwan Youngsoo.

É ele, é ele a pessoa que Chan sempre temeu que voltasse e fizesse algo contra ele e Jisung. Ele estava fingindo esse tempo todo, ele não é da China, nunca foi. Ele enganou todos nós, principalmente Bang Chan.

— Meu pai viveu a vida toda com medo, medo de um dia alguém resolver dizer alguma coisa e provar que foi ele quem acabou com seu rival, Daeshim. Meu pai não poderia comprar o silêncio da polícia caso isso fosse comprovado, por isso ele caçou os dois até seu último dia, jurando matar um por um pelo bem da nossa família e dos meus irmãos que hoje são candidatos.

Agora tudo faz sentido, o que antes já estava tão claro, agora está mais ainda. Xiaojun matou Chan por vingança, e provavelmente ele está me usando pra chegar até Jisung. Ele não vai parar até tirar ele e Gahyeon de mim, e eu preciso fazer alguma coisa antes que seja tarde demais.

— Eu me vinguei, fiz o que meu pai me pediu antes de morrer, mas ainda falta um.

Sinto como uma facada no peito, mas não posso abaixar a cabeça pra ele agora. Eu já sei de tudo, finalmente sei da verdade e só agora tenho um pouco de confiança pra enfrenta-lo, pois não me sinto tão culpado como antes.

Eu não lutei contra ele até agora, mas isso acabou apartir desse momento. Não posso deixar ele destruir o que restou da minha vida, nem a pessoa que eu mais amo no mundo. Ele tirou tudo de bom que havia dentro de mim, ele não vai tirar o pouco que restou.

— Não vou deixar você machucar Jisung – digo entre os dentes.

Xiaojun ri, sua gargalhada alta me faz fechar os punhos querendo acerta-lo. Eu o odeio tanto que nem consigo colocar em palavras, eu poderia mata-lo se dentro de mim eu não soubesse que não quero ser igual ele.

— Minho, não há nada que eu não faria pelo meu pai, matar Jisung seria inclusive uma das coisas mais fáceis.

— Vai ter que passar por cima do meu cadáver se quiser fazer isso – disse com meu coração palpitando de tanta raiva, e sendo segurando pelos seus capangas.

Xiaojun se aproximou, abaixou seu rosto de frente pro meu me fazendo sentir o cheiro enjoativo dos malditos doces que ele tanto come.

— Eu passo – sorriu – Eu criei a felicidade pelo meu pai, criei a única substância capaz de fazer alguém morrer feliz porque ele me disse que gostaria de morrer sem tristeza. Eu até poderia oferecer isso a Jisung, mas pelo tanto que você me encheu o saco, eu prometo que ele vai morrer aos poucos com muita, muita dor.

Fico paralisado por um instante, só de pensar nisso se transformando em realidade posso sentir um calafrio na espinha e uma dor imensurável no coração. Quero enfrentar Xiaojun, mas não acho que no momento isso seja a melhor ideia. Estou sozinho e ele tem dois capangas, estou desarmado em sua propriedade e sabe lá o que ele pode fazer comigo. É suicídio lutar agora, então tenho uma ideia melhor.

— O que você quer em troca? Peça o que quiser – usei minha última tentativa – Posso fazer qualquer coisa que pedir, posso levar Jisung pro outro lado do mundo e te garanto que ele jamais vai abrir a boca. Me diga o que quer pra deixa-lo vivo.

Ele riu, assim como eu pensei que ele iria. Riu debochado se divertindo com a minha humilhação desesperada, me fazendo sentir mais ódio dele. Se a vida de Gahyeon e Jisung não estivessem em risco, eu certamente aceitaria entrar em uma porradaria até a morte com ele, pois se eu fosse o único a morrer, pelo menos morreria aliviado por ter tirado toda essa ira de dentro de mim.

— Eu te adoro, Minho. Adoro a forma como há uma linha tênue entre sua coragem de me enfrentar, e a velocidade com que você se humilha – sorriu – Isso te faz único, nunca conheci outra pessoa tão submissa e tão sem amor próprio feito você.

Eu respiro fundo e devagar, não vou me afetar com as provocações dele pois não posso surtar agora. Um acordo é minha última chance de salvar Jisung, não há mais tempo pra fugir e eu nem tenho como lutar. Eu vou perder pra ele, isso é fato, mas eu juro que daria até minha própria alma e vida se fosse pra Jisung e Gahyeon ficarem vivos.

— Só me diz – peço com a voz baixa – Me diz o que quer.

— Por agora, só tenho um pedido, Minho. Foi por ele que te trouxe aqui.

— Então diga.

Ele apoia as mãos nas coxas novamente, e olha no fundo dos meus olhos tão relaxado como se estivesse em um dia de férias.

— Eu quero que conte a ele que você matou Bang Chan. Quero que se entregue a polícia.

Meu corpo estremece e meu peito dói, mas não nego de imediato. Eu faria tudo por ele, inclusive isso.

— Por que? – pergunto sentindo meus olhos queimarem.

— Não é óbvio? – ele riu – Além de livrar minha pele vou poder ter o que sempre quis. A dor de Jisung, e o seu eterno e constante sofrimento.

É claro que ele me pediria isso, ele nunca faria as coisas serem menos dolorosas.

Eu tento respirar fundo, meu coração dói e eu estou ofegante e assustado. Eu sabia que esse momento chegaria, mas nunca imaginei como eu me sentiria nessa hora.

Não mudou muita coisa. Me sinto fraco, derrotado, mas uma pequena parte de mim até se sente inocente. Eu queria ter tempo pra pensar, queria ter tempo pra me despedir ou pra me redimir com Jisung antes de ter que partir seu coração. Nenhum dos meus últimos desejos são atendidos, e tenho certeza que esse também não será. Decido pular a parte em que eu sempre sofro, choro, e imploro por justiça como se eu fosse merecedor disso, mas quase ninguém é.

— Você deixaria ele vivo se eu fizesse isso? Deixaria minha irmã em paz?

Ele faz um bico pensativo, e arqueia as sobrancelhas analisando. Meus dois braços são puxados pelos dois homens, e eu olho pra trás assustado tentando entender o que está por vir.

— Posso pensar nisso – respondeu dando de ombros – Boa noite, Minho.

Um deles cobre meu nariz com um pano, e eu inalo um cheiro forte enquanto me debato tentando me soltar. Alguns segundos depois, tudo se apaga. É como morrer por um breve momento.

***

Gangnam, Seul.
Alguns minutos antes.

Algumas lágrimas suas caíram sobre o papel manchando-o, ele até pensou em fazer um novo bilhete mas não tem muita força pra isso. Gahyeon provavelmente está dormindo no quarto e não vai sair de lá tão cedo, não é necessário se preocupar tanto.

"Volto logo. Precizo respirar"

Jisung não queria ficar ali, olhando pra tudo que preparou durante tanto tempo, para as folhas de caderno onde escreveu as melodias da música que queria tocar pra ele, e pra comida que preparou com Gahyeon durante toda a tarde e que agora estava gelada com algumas moscas rondando.

O dia foi de pura felicidade pra pura tristeza em tão pouco tempo, ele ainda não conseguiu absorver todo aquele choque. Estava tão empolgado e feliz, criou tantas expectativas com a reação de Minho, e no final a única reação que ele teve foi se despedir e virar as costas. Jisung queria bater a cabeça na parede por ter sido tão bobo, é claro que ninguém se importa tanto com suas surpresas ou músicas estúpidas, na vida real isso não passa de uma grande bobeira.

Ele vestiu uma blusa de moletom cinza e saiu pela porta da frente, o vento fresco e gelado lhe permitiu respirar fundo e segurar as lágrimas de um jeito mais fácil. Não estava tão magoado assim, Minho provavelmente teria uma boa explicação pra ter que sair tão de repente, e ele ia conseguir perdoar e esquecer depois de um tempo, mas por agora ainda dói. Já sentiu dores piores, é claro, mas provavelmente nunca vai tocar aquela música de novo. Não faz muito sentido dar tanto valor pra essas coisas mais.

— Burro – murmurou pra si mesmo enquanto andava na calçada da rua vazia. Gostaria de nunca ter feito nada daquilo, de nunca ter gastado tanto tempo em algo que não era tão importante pra Minho como era pra ele.

Precisava de um amigo agora, e gostaria de não ser uma pessoa tão apegada em Minho, pois tudo gira em torno dele mesmo quando não está por perto. Sua única amiga é também irmã de Minho, e ela provavelmente também ia ficar chateada quando soubesse que ele foi embora, e Jisung não queria causar mais tristeza. Pensou em falar com Sicheng, mas ele é uma pessoa muito ocupada pra dar atenção aos seus problemas fúteis. Talvez Jisung só precisasse deixar de ser tão imaturo e sensível, e de depender tanto das pessoas.

Ouviu alguns passos, virou pra trás e um homem de preto também andava pela calçada. Pensou que ele provavelmente estava rindo dele por ser tão solitário, andando sozinho no meio da noite sem ninguém pra conversar e com o coração partido. Gostaria que não fosse tão difícil fazer amigos, se ele tivesse alguns a vida ficaria menos difícil, e seu coração deixaria de ser sempre, o tempo todo, de Minho.

Continuou caminhando sem rumo, puxando o ar fresco da noite, tentando se sentir mais calmo e menos idiota por ter feito o que fez. Afastou a memória quando se lembrou de Chan e do quanto queria conversar com ele agora, pois se pensasse nisso muito a fundo ia acabar em uma das maiores crises de tristeza e luto que já teve em sua vida.

Começou a andar mais rápido quando percebeu que o homem atrás dele estava mais perto agora, tentou lhe dar passagem caso ele quisesse ultrapassar mas ele não o fez. Jisung se lembrou do quanto odiava andar na rua, só fez isso poucas vezes quando precisou roubar comida das lojas de conveniência depois que Chan desapareceu. De repente, não se sentiu mais tão livre e aliviado quanto antes, pois a simples presença do homem e do barulho dos seus passos lhe deixou desesperado.

Andou mais rápido, praticamente fugindo, mas o homem acelerou mais ainda e Jisung começou a respirar ofegante, suando frio e entrando em pânico.

— Não corra – ouviu ele dizer, e nesse ponto ele já estava praticamente chorando de medo.

Mas ele correu, rápido e desesperado, tentando ficar longe do desconhecido que ele nem conseguiu ver o rosto pois não teve coragem de olhar pra trás. Ouviu seus passos correndo também, e a mão do homem puxou sua blusa quase conseguindo fazê-lo parar.

— Socorro! – gritou. Já não conseguia mais enxergar pois seus olhos estavam cheios de lágrimas.

Correu mais rápido e mais rápido, e de repente se chocou contra outra pessoa e caiu sobre o asfalto gelado da calçada.

— O que você quer? Seu desgraçado! – ouviu alguém gritar – Volta pra onde você veio antes que eu chame a polícia pra você.

Jisung tinha o coração saltando pela boca, seu corpo todo estava em estado de choque, formigando e tremendo sem conseguir se levantar do chão sozinho.

Ele ergueu levemente a cabeça e enxergou dois pés com um tênis verde de corrida, e antes que pudesse ver mais as mãos da mesma pessoa o levantaram e o colocaram de pé. Ele esfregou os olhos primeiro, e só depois de sentir sua tontura aliviar ele pode ver quem era. A última pessoa que ele imaginou que fosse.

— Felix?

Ele também parecia sem jeito, sem saber o que fazer ou dizer. Estava suado, com uma faixa no cabelo, vestido com regata e shorts e usando fones de ouvido. Claramente estava correndo pelo quarteirão quando viu alguém lhe seguindo.

— Você está bem?

— É... – Jisung ainda sentia como se fosse desmaiar de tanto pânico, mas não era tão ruim quanto antes – Acho que sim. O-obrigada, muito obrigada.

— Tudo bem, sempre há alguns loucos por aqui.

O clima constrangedor se instalou entre eles, só se ouvia a respiração ofegante dos dois tentando se recompor depois da corrida.

— Vem, eu te levo em casa – disse um pouco envergonhado.

Começou a caminhar em silêncio ao lado de Jisung, reparando em como o garoto continuava respirando rápido e desesperado mesmo depois de longos minutos.

Jisung se sentiu mais aliviado com a presença dele, é claro que é um pouco desconfortável e o silêncio é incômodo pra ambos, mas Jisung não conseguia expressar em palavras o quanto estava grato por ele ter lhe salvado.

Se estivesse sozinho, não ia ter conseguido fazer todo o caminho de volta pois estaria assustado demais, mas Felix lhe acompanhou até a porta da casa de Minho e ele se sentiu muito mais seguro por isso.

— Tem certeza que está bem? – perguntou quando chegaram.

Jisung não conseguia mais recuperar o ritmo da sua respiração, e todo o seu corpo formigava e tremia. Não estava bem, acabou trocando um sofrimento pelo outro, e sentiu raiva de si mesmo por nem mesmo conseguir se cuidar sozinho.

— A-Acho que me assustei muito – respondeu – Me sinto tonto.

— Minho está em casa?

A menção do nome dele fez o coração de Jisung doer.

— Não.

— Vem – ele segurou seu braço sem nem mesmo pedir, mas Jisung não se incomodou.

Eles entraram na casa em passos curtos e lentos, Felix lhe ajudou a não cambalear até que estivessem na sala de estar. Jisung andou até o quarto de hóspedes e ele lhe acompanhou ainda segurando seu braço, depois o colocou sentado na cama com muito cuidado pra que a vertigem não piorasse ao abaixar.

Jisung segurou a própria cabeça de tanta tontura, não conseguia nem olhar ao seu redor pois tudo estava girando infinitamente, e ele estava odiando sentir isso.

— Vou pegar um travesseiro pra você.

Felix olhou nos armários mas não encontrou nada, então saiu do cômodo indo até o quarto de Minho pra procurar em seu guarda-roupas. Queria ser rápido antes que ele chegasse, e também porque o clima entre ele e Jisung não é muito descontraído e confortável, mas Felix faria isso por qualquer pessoa que estivesse na mesma situação.

Abriu as portas mais altas do armário, e quando puxou o travesseiro de lá sentiu algo cair em seu pé. Quando olhou pra baixo, viu uma faca velha com a lâmina riscada, e deixou o travesseiro de lado pra pega-la.

Quando se abaixou e franziu o cenho ao segurar a faca, viu que ela não tinha sido a única coisa que caiu. Havia algo alguns centímetros do lado, e quando ele segurou nas mãos e viu o que era sentiu suas pernas perderem a força.

O documento de Bang Chan velho e sujo, e a faca que provavelmente Minho usou naquela noite. Os dedos de Felix tremeram, e sua mente aos poucos ligava todos os pontos fazendo seu coração disparar.

— Foi ele – sussurrou pra si mesmo com os lábios tremendo – Foi Minho que matou Bang Chan.

***
oi galerinha, usem muito #AlémDeAntares no twitter e me contem suas opiniões

e fiquem atentas ao meu tt e insta @godhannie porque tem umas novidades vindo por aí!

até mais e se cuidem!

Continue Reading

You'll Also Like

558 73 7
| FIC EM HIATUS | sempre fui bom em escrever histórias mas nunca testei escrever sobre os meus sentimentos e sobre.....a minha vida Mas oque teria a...
930 156 7
ꗃ • ꒰ 𝗰𝗮𝗺𝗲𝗹𝗹𝗶𝗮 ꒱ • ▸ 𝙘𝙖𝙢𝙚𝙡𝙡𝙞𝙖 𝘦𝘳𝘢 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘶𝘮 𝙩𝙚𝙨𝙤𝙪𝙧𝙤 𝘦𝘴𝘤𝘰𝘯𝘥𝘪𝘥𝘰 𝘦𝘮 𝘶𝘮 𝘣𝘦𝘤𝘰 𝘤𝘩𝘦𝘪𝘰 𝘥𝘦 𝙗𝙚̂𝙗𝙖𝙙𝙤...
44K 6.1K 13
Minho se pegou apaixonado por Jisung depois de tantos anos de amizade. Obviamente não lhe parecia recíproco e estava cogitando a ideia de deixar seu...
3.2K 525 9
Han Jisung passou por toda sua vida sofrendo nas mãos de familiares, amigos, colegas de trabalho. E em um dia desejou fortemente, que o Karma vinhece...