Esferas Elementares

By LeticiaMedeiiros3

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Quando coisas estranhas começam a acontecer na vida de Miranda, ela começa a se perguntar se a possibilidade... More

Notas Iniciais.
Prólogo.
Parte I
Capítulo 1 - Um péssimo começo.
Capítulo 2 - Palestras e discussões.
Capítulo 3 - Uma conversa irritante.
Capítulo 4 - Vamos ao parque?
Capítulo 5 - Encontros.
Capítulo 6 - O mago do ar.
Capítulo 7 - Apresentações.
Capítulo 9 - Pequenas grandes coisas.
Capítulo 10 - Uma pequena fada azul.
Parte II
Capítulo 11 - Bem-vindos a Trigan!
Capítulo 12 - Banhos, discussões e profecias.
Capítulo 13 - Os pássaros negros.
Capítulo 14 - Emoções.
Capítulo 15 - Mal-entendidos.
Capítulo 16 - Você se lembra?
Capítulo 17 - Indo a lugar nenhum.
Capítulo 18 - Feridas abertas.
Capítulo 19 - Cicatrizes da alma.
Capítulo 20 - Conversas, muitas conversas.
Capítulo 21 - Feliz aniversário!
Ficha e curiosidades sobre os personagens.
Capítulo 22 - Despedidas.
Capítulo 23 - A beira do precipício.
Capítulo 24 - Sozinhos.
Capítulo 25 - Tempestades.
Capítulo 26 - Despertar.

Capítulo 8 - Conversas dolorosas.

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By LeticiaMedeiiros3

Zoe



Sobre aquele lance de sentir as pessoas? Esquece, é um saco.

Estar em uma sala com outras três pessoas que não sabem se gostam umas das outras ou se odeiam deixa meu "superpoder" louco. Eu consigo saber que os meninos não confiam um no outro, mas isso qualquer um vê só de olhar para o rosto deles, consigo saber que Luke fica nervoso perto de mim, que Mira, apesar das brincadeiras, está realmente irritada conosco e que Tyler odiou a ideia de contar sobre si. Mas é como Miranda disse, uma troca justa.

- Ninguém para começar? - Mira pergunta suspirando. - Ok, que tal isso? Ao invés de começarmos com histórias de vida, que no mínimo vão ser difíceis de falar sobre a julgar pelo clima. Que tal a gente dar algumas informações aleatórias sobre nós apenas para começarmos a conversa?

- Como assim, Florzinha? - Tyler pergunta e vejo minha amiga revirar os olhos antes de responder.

- A cor favorita, o que faz da vida. Tipo, quantos anos vocês têm? Todo mundo já salvou a minha vida pelo menos uma vez desde que nos conhecemos e não sei nem isso sobre vocês.

- É uma boa - digo divertida. - Então quantos anos vocês têm?

- Vinte - diz Tyler.

- Vinte e um - Luke anuncia com um sorriso, os dois trocam olhares feios. - E vocês?

- Eu e Mira temos dezenove - digo.

- Garotos mais velhos, o que acha, Zo? - minha amiga diz divertida e Tyler nos olha arqueando uma sobrancelha. Desvio o rosto corando por que me lembro de uma vez ter dito a Miranda que gostava de caras mais velhos e sei que ela se lembra disso.

- Vamos só continuar - peço. - Ainda tem duas perguntas na sua listinha. O que vocês fazem da vida?

- O meu vocês sabem, fiz um curso sobre arqueologia que, por causa dos meus pais, aprendi a gostar e agora sou estagiário na faculdade de vocês - Ty dá de ombros e vejo Mira sorrir.

- Estudante de enfermagem que não faz mais nada por que não conseguiu um único estágio - minha amiga diz depois de erguer a mão.

- Faço faculdade de educação física e trabalho alguns dias da semana na academia aqui do bairro - digo e todos nós olhamos para Luke.

- Eu sou mecânico, nunca fiz faculdade e trabalho em uma mecânica há cinco quadras daqui.

- E assim vemos que a única desempregada sou eu, então vocês bem que podiam pagar a pizza não é? - Miranda pergunta divertida.

- Não mesmo, você ganha mais dinheiro do tio do que eu recebo de salário - reclamo a fazendo gargalhar.

- Isso é verdade? - Luke pergunta e minha amiga o olha e quando o faz está sorrindo.

- Que meu pai me dá dinheiro? É sim. Privilégios de ser filha única e meus pais terem bons empregos. E pode dizer, eu sou uma filhinha de papai e não tenho vergonha disso.

- Queria eu poder dizer o mesmo - Luke sorri pra ela, mas sei só de olhá-lo que está triste.

- Certo, último tópico, cor favorita - digo antes do clima pesar.

- Roxo - Mira diz animada.

- Preto - Tyler resmunga e às vezes me pergunto se a chatisse dele tem cura.

- Vermelho - digo.

- Laranja - Luke comenta e todos nós o olhamos.

- Sério? - pergunto e ele dá de ombros fazendo todos rirem.

- Acho que é a primeira pessoa que conheço que a cor favorita é laranja – Mira diz divertida. – E eu já estou quase mudando a minha para verde.

- Por quê? – Luke pergunta e ela sorri.

- Por causa do seu olho. Engraçado isso de "olho", geralmente são olhos no plural, mas com você não. E desculpa estar falando demais, mas é engraçado – minha amiga ainda está falando, mas não consigo sentir nenhuma maldade vinda dela. É diversão pura e simples. Já Luke, posso sentir sua vergonha alta e clara, mas também posso ver que as falas da minha amiga o deixam feliz.

- Você realmente não conhece a discrição – o loiro comenta fazendo Mira rir. Tyler olha os dois e não preciso nem sentir seus sentimentos para saber que não gosta da interação.

- Nós podemos continuar? – pergunta o moreno de cabelo comprido e mal-humorado. O que Mira tem de animada ele tem de carrancudo, acho que dariam mesmo um ótimo casal.

- Que Cavaleiro chato – Miranda reclama e depois suspira. – Certo, quem vai falar agora?

- Posso só fazer uma pergunta antes de continuarmos? – Luke pergunta depois de olhar para a janela onde a chuva bate, ele está nervoso e, se eu não estiver enganada, com medo, muito medo. Fico sem entender.

- Qual? – Tyler resmunga e vejo Mira revirar os olhos, isso me faz sorrir, esses dois são realmente uma graça.

- Só queria saber o porquê dos apelidinhos já que aparentemente você e a Mira nem gostam um do outro.

- Ah, isso – acho que é a primeira vez que Tyler sorri desde que chegamos à casa de Mira. E eu era realmente obrigada a admitir que meu amigo ficava bem bonito quando fazia isso e sei que Miranda pensava o mesmo por que a peguei olhando-o. – Pergunte a Florzinha.

- Idiota – foi como minha amiga o respondeu fazendo todos sorrirem. Depois ela se virou para Luke. – O cavaleiro é por causa da versão superpoderosa do Tyler, quando você o vir vai entender e a florzinha é por que ele é um idiota.

- A florzinha é por que ela não quis me dizer o nome dela quando nos vimos pela segunda vez e estava com uma tiara de flores no cabelo então ficou por isso mesmo – Tyler responde e sinto quando Mira se surpreende por ele lembrar o que ela usava aquele dia.

- Entendo – Luke olha de um para o outro como se realmente entendesse.

- Certo, e agora quem fala? – pergunto por que eu quero mesmo mais algumas respostas.

- Que tal você? – Ty pergunta com um sorriso, mas sei que está nervoso e dou de ombros.

- Vocês querem saber sobre mim? É fácil. Sou filha de uma mãe solteira, por que o cretino do meu pai foi embora quando eu tinha um ano. A tia Suze e o tio Dean, os pais da Mira, que ajudaram minha mãe quando ela precisou. Tio Dean foi o único pai que tive o que me faz um pouco irmã da Mira. E sobre as esferas e magia, achei a minha há duas semanas, na rua, num lugar onde qualquer um poderia ter visto, mas fui eu quem vi e depois acabei na maior confusão. Então depois disso fui atacada por um homem-pássaro e quase morri quando não acreditei no Tyler sobre essa coisa toda e é isso, no fim o próprio Ty me salvou e estou treinando a uma semana, mas tirando me transformar não aprendi muita coisa não.

- Então você nunca mais viu seu pai? – Tyler pergunta e faço que não.

- Eu nem se quer me lembro dele e se quer saber prefiro assim, esse cara não é o meu pai. Mas para deixar a história um pouco mais feliz a minha mãe arrumou um namorado há quase dois anos e o Danny é muito gente boa e a faz feliz o que me deixa feliz também.

- O Danny é realmente bem legal, ele estava nos ensinando sobre jardinagem – Mira sorri. – E Zo, avisa para ele que minha orquídea morreu.

- Ele vai ficar decepcionado, estava colando maior fé me você – comento e depois olho para os meninos, estou prestes a perguntar quem vai falar quando um raio cruza o céu com um estrondo tão alto que aprece estar atingindo a sala.

Ouço outra coisa também, é um grito assustador, Luke abaixou a cabeça e a cobriu com os braços, está ofegante e tremulo, ele está apavorado, eu posso sentir seu medo como uma onda avassaladora, é assustador. Ninguém se mexe por alguns segundos até Mira ir até ele e o abraçar. Eu não sei nem se ela se dá conta do que está fazendo, mas Miranda sempre foi assim. Levo uns instantes para ver que ela está conversando com ele, o distraindo do mesmo jeito que fazia comigo quando éramos crianças e eu fugia pra cá quando ouvia minha mãe chorar na cozinha, pela falta de dinheiro e a falta do meu pai para ajudá-la.

- O Sr. Bigodes está bem? – pergunto depois de alguns minutos em silêncio onde a única coisa que se ouvia era a chuva batendo na janela e a voz de Mira.

Os três olham pra mim. Os meninos obviamente não entendem, mas minha amiga olha para o rosto de Luke e começa a rir ainda sentada no braço da poltrona perto do loiro, ele não parece incomodado com a proximidade.

- Quem? – Tyler pergunta e consigo sorrir ainda olhando Luke.

- Desculpa, saiu sem querer. Eu tinha um gato quando era pequena que tinha os olhos de cores diferentes, um era azul e o outro verde, o nome dele era Sr. Bigodes.

Isso é o suficiente para fazer Tyler gargalhar e Luke ficar vermelho, é fofo de ver. Eu já percebi que ele não é muito bom com interação social.

- Adorei – Tyler diz divertido e Mira o olha feio.

- Nem pense nisso – ela diz num tom que não deixa margem para discussão e depois de pensar por um segundo Ty suspira.

- Tudo bem. Mas o que foi aquilo, você vai nos dizer? – ele olha para Luke, eu e Mira fazemos o mesmo.

- Quando eu tinha quatro anos fui atingido por um raio – essa é a última coisa que eu espera ouvir, mas ele diz tão calmamente que me questiono se ouvi certo.

- Como? – consigo perguntar ainda o encarando.

- Vocês queriam saber e é isso. Quando eu tinha quatro anos teve uma tempestade, eu tinha brigado com minha mãe por algum motivo idiota e sai de casa sem ela ou meu pai saberem, me escondi no jardim numa cabana que tinha feito com meu pai, fiquei lá escondido e acabei dormindo por que acordei com tudo tremendo e metade da cabana desabando sobre mim, mas não chegou a me machucar eu sai de lá ainda no meio da chuva e corri pra casa só para ver tudo desmoronar, nós morávamos perto de um morro, a chuva derrubou tudo, todas as casas do nosso quarteirão foram varridas por lama e água, eu só não fui levado junto por que uns vizinhos me arrastaram dali, mas depois que tudo se acalmou eu fugi e voltei, mas não havia nem mais meus pais nem a casa, a enchente levou tudo, a chuva tinha recomeçado, os raios caiam e eu chorava, última coisa que me lembro dessa noite antes de sentir uma dor excruciante e apagar, é o barulho do trovão.

- Meu Deus – ouço Mira murmurar e o abraçar outra vez, Luke aceita o carinho, mas consigo sentir sua tristeza.

- Sinto muito – digo a ele que assente. – Mas o que aconteceu depois? Com você, seus pais?

- Eu acordei no hospital vários dias depois com algumas cicatrizes e soube que estava órfão. Eles tinham encontrado os corpos dos meus pais. E foi isso, fim da história.

- Ah, mas não tem como ter acabado! – digo exasperada. Por algum motivo estou irritada, como podemos ser pessoas tão azaradas? – Você está aqui, vivo, vivendo a sua vida. Então definitivamente a história não acabou.

Luke olha nos meus olhos e tenho a sensação que ele vê mais do que deveria, seus olhos são desconcertantes e me deixa vulnerável e odeio essa sensação. Mas ao mesmo tempo me sinto impelida a dar mais a ele.

- Tudo bem, a história não acabou, mas daí em diante ela fica ainda mais triste. Eu tinha quatro anos e fiquei órfão. Fui parar em um orfanato e lá fiquei por quatorze anos até ser maior de idade e me deixarem ir, ninguém me quis, nenhum parente e nenhuma família interessada em adotar uma criança.

- Por quê? Por que ninguém te quis? Meu Deus eu adoraria ter uma criança como você, aposto que quando era pequeno era uma gracinha – Mira diz a ele e Luke sorri, mesmo que por poucos segundos é bom vê-lo com essa expressão.

- Por que eu não falava, Mira. Nenhuma palavra, nada. Quando eles me disseram que meus pais tinham morrido que tudo aquilo tinha mesmo acontecido eu não quis mais viver, brincar, nem mesmo falar. Pelo que me falaram eu mal piscava, só ficava sentado olhando para o nada. A primeira pessoa com quem eu falei quase quatro anos depois do acidente foi a Sra. Forbs, que na época era a psicóloga do orfanato e depois virou diretora, ela foi a primeira a conseguir me tirar da bolha onde me coloquei, mas isso não adiantou muito, eu mal falava com ela e com os outros ainda era nada. Eu não sou bom com pessoas, diálogos e conversas e estar aqui com vocês é estranho e assustador. E se isso não fosse o suficiente, tem isso – ele termina ficando de pé e tirando a camisa, quando vira de costas fico surpresa.

Há varias linhas vermelhas em suas costas, como rios em mapas num emaranhado assustador, elas começam em um ponto em seu ombro esquerdo e se abrem por toda extensão das suas costas e sobem até o lado esquerdo do peito. Eram as marcas deixadas pelo raio e eu sabia disso e não conseguia nem imaginar como foi para um garotinho de quatro anos passar por tudo isso sozinho.

- Dói? – Miranda pergunta tocando seu ombro e Luke nega com a cabeça.

- Não mais, mas estão aí para me lembrar daquela noite – ele suspira e volta a colocar a camisa.

- Elas estão aí para te lembrar que está vivo – digo sem conseguir me conter e todos me olham, mas não paro. – E se está vivo, pode seguir em frente. É o que a minha mãe fala, é o que ela faz todos os dias desde que meu pai foi embora.

- Gosto do jeito dela de pensar – Luke diz voltando ao seu lugar na poltrona, Miranda que ainda está sentada no braço dela se apóia no loiro como se isso fosse a coisa mais natural do mundo, ele não parece se importar.

- Eu também. Mas depois disso tudo como foi que você se envolveu com as esferas, poderes e monstros?

- Esse é uma história ainda mais surreal – Luke sorri pra mim e sorrio também. – Como eu disse depois de passar tantos anos no orfanato, fui embora, três anos atrás. E foi no dia em que estava indo embora de lá que eu encontrei a minha esfera no jardim, estava no chão, foi como aconteceu com você, Zoe, qualquer um podia ter visto, mas fui eu quem a vi e acabei a trazendo comigo. Na época eu tinha conseguido um emprego então pensei que poderia ter uma vida tranquila, trabalhar como mecânico cuidando de carros e maquinas que são muito mais fáceis de lidar que pessoas, mas não foi bem assim. Mais ou menos um ano depois que sai do orfanato eu fui à biblioteca pública, estava apenas passando lá em frente e tive uma ideia súbita de entrar e procurar alguma coisa pra ler, mas agora sei que não foi do nada, eu tinha que entrar para encontrar o que encontrei.

- E o que foi? – Mira pergunta curiosa antes que eu possa fazer o mesmo.

- Um livro sobre Trigan – diz Luke para surpresa geral.

- Como? – Tyler quase engasga. – Um livro sobre Trigan, mas como?

- Eu não tenho ideia de como ele foi parar lá ou mesmo que estava fazendo ali, mas foi como com a esfera, poderia ter sido encontrado por qualquer um, mas eu o achei. Enfim, junto com o livro eu acabei encontrando problemas, era como se minha esfera ainda não tivesse "despertado" antes de eu ler sobre Trigan e os poderes, por que até então ela estava no fundo da minha gaveta, mas não tinha brilhado ou feito qualquer coisa, mas depois que encontrei o livro, o li e comecei a pensar que aquela bolidinha de vidro pudesse ser mais que uma bolinha a coisa desandou, minha esfera começou a brilhar, um desses monstros me encontrou e eu só não morri por que estava com ela. Ainda estava tentando entender o que estava acontecendo quando o livro da biblioteca simplesmente sumiu, eu ia vê-lo todo dia depois do trabalho lendo e relendo para entender algumas partes que não estavam completas, eu já estava fazendo planos de tentar levá-lo comigo, mas depois de seis meses ele simplesmente sumiu, procurei por semanas antes de deduzir que alguém o tinha levado. Perguntei à bibliotecária, mas ela simplesmente disse que o livro não existia, então desisti de procurar e passei o resto do ano tentando apenas não morrer e encontrar as outras esferas, mas não tive sucesso. Até quatro meses atrás quando a Sra. Forbs disse que tinha conseguido um emprego novo pra mim e vim parar aqui e depois de muitos brilhos, monstros e desencontros, encontrei a Mira.

- Nossa – digo e acho que isso resume bem o sentimento e todos. - Então você está metido nessa confusão há quase dois anos?

- Exatamente e estou vivo quase que por sorte e já tinha desistido de encontrar vocês.

- Ai eu te atropelei – Mira diz divertida e ele assente.

- Ai você me atropelou – Luke concorda.

- O livro não sumiu – Tyler diz de repente e sinto a mesma raiva que já havia sentido vinda dele antes.

- Como? – pergunto e ele me olha, não sei decifrar sua expressão.

- O livro que Luke achou por acaso não sumiu, ele foi destruído. Esse livro, assim com as esferas e os monstros não pertencem a esse mundo, não deviam estar aqui então foi destruído pelos monstros seguidores de Arian para que não tivéssemos acesso a informações que pudessem nos dar alguma vantagem.

- E como você sabe disso tudo, Tyler? – Mira pergunta e só dela ter usado o nome dele eu posso sentir a seriedade da pergunta.

- Por que foi o que meu pai me disse, foi o que ele descobriu. Foi o que aconteceu comigo.

- Então acho que já passou da hora de você nos contar o que é – digo e ele assente.

Nessa hora a buzina do entregador soa do lado de fora e todos nos sobressaltamos, Tyler e Mira, que por um milagre chegaram a um acordo vão buscar as pizzas, ela por que é esse tipo de pessoa e ele simplesmente por que sei que quer adiar um pouco mais essa conversa. Só depois que estamos todos com sua fatia de pizza e Mira finalmente deixar Luke sozinho na poltrona e ir para o outro sofá, é que retomamos a conversa.

- Então Sr. Cavaleiro, pode começar a falar – Mira pede e Tyler suspira sabendo que dessa vez ele não pode fugir.

- Tudo bem, eu falo, é só que... – ele se interrompeu respirando fundo. – Falar sobre isso, é falar sobre os meus pais e eu não gosto muito de falar sobre eles – Ty hesitou, mas continuou logo em seguida. – Tudo bem, como vocês sabem, meus pais eram arqueólogos, viajavam muito e faziam diversas escavações, eu era pequeno na época, mas lembro de algumas coisas, quando eu tinha três anos eles acharam algo que não deviam, algo que não parecia estar enterrado por muito tempo, na verdade era algo que nem devia estar lá, eles acharam minha esfera. É claro que naquela época eles não tinham nem ideia do que era.

- Eles sabiam sobre as esferas e Trigan? – pergunto sem entender e Tyler sorri triste.

- Foram eles me contaram tudo que sei.

- Mas, como...? – Mira pergunta resumindo a curiosidade de todos.

- No início eles não tinham nem ideia do que a esfera era, mas era linda e interessante e como nenhum museu a quis eles ficaram com ela. E o mais incrível é que eles passaram dois anos com ela e nada aconteceu era quase como se a esfera não tivesse "despertado" ainda, como disse o Luke. Mas aconteceu que eles encontraram outras coisas que não deviam estar nesse mundo.

- Livros – diz Luke como se soubesse e Ty assente.

- Exatamente. Eram livros sobre Trigan e as esferas, eu me lembro de tê-los visto, mas era muito pequeno, então nunca cheguei realmente a lê-los, falavam sobre Arian e as quatro nações, sobre poderes e bem no final numa parte que parecia ainda estar sendo escrita sobre as esferas, mas não pudemos ficar com eles, meus pais só os tiveram por cinco anos e me disseram que nos dois primeiros achavam que eram apenas ficção, afinal como aquilo tudo era possível? Mas quando eu tinha sete anos eles apareceram pela primeira vez – Tyler fez uma pausa, fechou os olhos respirando fundo e depois olha para mim. – Um monstro como o que vocês duas enfrentaram no parque, um homem-pássaro cuspidor de fogo, na época ele parecia mais interessado em destruir os livros do que em nos machucar realmente, meus pais o mataram depois muita confusão e finalmente acreditaram que alguma coisa estava acontecendo.

- Sete anos? Sério você está metido nisso desde os sete? – Luke pergunta e ele dá de ombros.

- Infelizmente é.

- Eu tenho uma pergunta – digo. – Seus pais viam os monstros? Eu achei que as pessoas sem as esferas não pudessem.

- Viam, mas eles tinham uma teoria sobre isso. Que eles os viam por que acreditavam na história, por que tinham lido sobre Trigan e sabiam que era tudo verdade, eles os viam por que sabiam que existiam. Por que você não vê algo que não acredita que existe.

- Então a Mira os vê por que acredita neles? – pergunto e vejo minha amiga se encolher.

- Eu acho que não, afinal ela não sabia sobre nada disso no dia da boate e mesmo assim viu o Cão do Inferno.

- Podemos continuar? – Mira pergunta e sei que está nervosa, resta eu descobrir por que mais tarde.

- O que aconteceu depois? – pergunto a Tyler e ele suspira.

- Depois disso nós nos mudávamos com muita frequência, nunca ficávamos mais de dois meses em um mesmo lugar, meus pais estudavam os livros procuravam mais informações, mas não existem. Não deveriam existir pelo menos.

- Como assim não deviam existir? – Mira perguntou e vi Tyler sorrir.

- Trigan é um mundo paralelo ao nosso, não é como se nossa internet os alcançasse – Ty responde irônico e minha amiga faz uma careta pra ele. – Até onde eu sei, se não fosse por essa confusão envolvendo Arian nossos mundos nunca teriam se cruzado. Então quando eu tinha dez anos eu já estava ciente da confusão em que estávamos metidos, mesmo achando aquilo tudo muito louco eu acreditava nos meus pais. E foi então que os monstros finalmente nos encontraram e nos atacaram outra vez, estávamos em casa nesse dia, um homem-pássaro surgiu do nada, não estávamos esperando, não conseguimos nos defender, naquele dia houve um incêndio, perdemos os livros e a minha mãe – ele encerrou o assunto e eu sabia só pela raiva que Tyler sentia que ele não tinha contado toda a história.

- Sinto muito – disse com sinceridade, nenhuma criança devia passar por isso de perder os pais. E, ironicamente, nós três os tínhamos perdido de um jeito ou de outro.

- Obrigado – Tyler disse assentindo, mas eu ainda sentia sua raiva. – Enfim, depois disso meu pai se dedicou a me ensinar tudo o que conseguisse se lembrar sobre Trigan, as esferas e os monstros, alguns monstros até apareceram depois disso, mas com menos frequência, como se já não fossemos tão interessantes, por algum tempo eu e meu pai até achamos que tinha acabado, que não voltariam mais, e meio que não voltaram mesmo, quando eu fiz quinze anos eu e meu pai já estávamos instalados há quase um ano no mesmo lugar, não haviam monstros, nem livros mágicos, nem nada. A única coisa que provava que tudo aquilo não tinha sido um sonho era a esfera que meu pai ainda guardava e o fato da minha mãe não estar mais conosco.

"Mas foi ai que aconteceu, voltando de uma viagem meu pai sofreu um acidente, foi fatal, um maluco bêbado bateu seu carro no dele. E isso foi demais pra mim, eu meio que surtei, estava morrendo de ódio de tudo, dos meus pais por terem me deixado sozinho, daqueles malditos livros e principalmente da esfera, por que foi por causa dela que tudo começou em primeiro lugar, daí voltei pra casa e vasculhei as coisas do meu pai até encontrá-la, e quando o fiz estava prestes a dar com ela na parede até virar cacos, mas ela começou a brilhar, um brilho vermelho que nunca tinha emitido antes, e num minuto era apenas eu na sala de casa e no segundo seguinte eu tinha virado um guerreiro de armadura. Essa foi a primeira vez que me transformei e a partir disso os monstros não me deixaram mais em paz."

- Uau – Mira diz e isso resume bem o sentimento de todos. – Mas você se transformou pela primeira vez mesmo sem um monstro por perto, por quê?

- A minha teoria é que a esfera reagiu aos meus sentimentos. Por que é isso, raiva, amor, medo, são nossos sentimentos que nos dão poder, são a eles que as esferas reagem.

- Isso é assustador – murmuro. – Pensar que isso tudo aconteceu com você por causa desses poderes, desse mundo e desses monstros e que você nunca pediu por nada disso.

- Não, não é justo e eu odeio – Tyler diz simplesmente. – Mas não vou mais fugir disso, não posso, eu tenho o poder e o conhecimento então tenho que usá-los. Era isso que a minha mãe dizia pra mim, que se eu pudesse tinha, precisava ajudar. Dar o meu melhor e cuidar de quem não pudesse se cuidar sozinho.

Quando Tyler terminou de falar, não pela primeira vez, eu me perguntei onde tinha me metido.

~~ ♥ ~~

Olá meus amores! Voltei!

O que estão achando da história? E essas histórias tristes desse povo? Vamos colocar todos em um potinho e proteger!

Por favor, preciso da opinião de vocês! Comentem aí se gostaram!

Beijocas e até, Lelly ♥

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