365 dias,
Eu havia dormido um maldito ano, a porra de uma ano perdido presa em uma cama.
Se eu fechar meus olhos eu ainda consigo sentir a água queimando minha pele, a forma com que minha cabeça doía, eu ainda consigo sentir o queimor do veneno em minha perna.
Um ano, eu tenho que me acostumar a lidar com a idéia de ter ficado ausente por um ano, é surreal o pensamento, porra. Simplesmente surreal, acordar foi um inferno!
Parecia que meus olhos estavam colados, eu quase rasgo meus olhos com minhas mãos para conseguir abri-los, ao acordar ver aquele homem que se intitula médico tão próximo a mim, me fez entrar em estado de ataque,
Afinal, minha última lembrança era estar em uma missão em que as pessoas me queriam morta, eu quase o mato com um agulha, se não fosse Damian para me trazer de volta eu tinha despachado o loirinho.
Tive certeza que meu coração estava em ótimo estado quando não tive um infarto com o médico me comunicando do tempo que fiquei em coma, ele fez dezenas de perguntas e exames, quando eu já estava ficando irritada ele disse que estava bom e que mandaria os dois homens da minha vida entrarem.
- Eu não vou ser vista nisso aí não!
Murmuro como uma garota mimada encarando um Dimitri muito sério de braços cruzados e sobrancelhas erguidas.
- Ou você vai na cadeira de rodas, ou eu te levarei em meus braços. Escolha?
Jogo o corpo na cama com raiva, a idéia de virar e voltar a dormir está bem tentadora, já havia se passado uma semana desde que acordei, por muita insistência minha recebi alta mas terei que voltar aqui uma vez a cada 15 dias para fazer a avaliação em meus pulmões já que foram os órgãos afetados e eu ainda sinto um pouco de dificuldade para respirar, aquele veneno desgraçado.
- Qual a maldita razão para eu não ir andando?
Cruzo os braços ainda sem entender essa idéia ridícula de que meu corpo ainda precisa de descanso e que não posso fazer esforço,
Porra, eu descansei por um ano!
Dimitri não me responde, simplesmente caminha até mim como um leão caminha até sua presa, me envolve em seus braços como um bebê e me coloca na cadeira de rodas,
Damian entra nesse momento e ao me ver olha para mim com um olhar de interrogação.
- Pai, cadê minhas facas? Traz uma para mim, eu quero cortar Dimitri em cubos!
Ele nega com a cabeça rindo e eu o ignoro, Dimitri começa a empurrar a cadeira até a saída, passo as mãos no rosto para não pular da cadeira ir andando, amarro meus cabelos em um coque bagunçado pois estão um ninho.
Credo, não tiveram a decência nem de passar uma escovinha em meus cabelos.
Quando chegamos perto do carro, ia me levantar para entrar no carro sozinha, mas novamente o desgraçado me pega no colo.
- Coração, se você colaborar tudo isso passará mais rápido!
Mostro a língua para ele que beija minha testa antes de sentar no meu lado, Damian vai em outro carro logo atrás da gente.
- Eu nem consigo acreditar que estou finalmente voltando para casa com você.
Pega minha mão e da um beijo
- Como foi esse tempo sem mim?
O olhar dele se torna melancólico, triste.
- Um inferno!
Sem aviso prévio ele me abraça apertado, ele vem fazendo isso desde que acordei, sempre me tocando, sempre se certificando que meu coração está batendo. As vezes ele até me acordou durante a madrugada para saber se eu estava bem, claro. Sempre inventando desculpas e achando que eu ainda não percebi tudo isso, não digo nada, finjo não saber se isso significa que ele ficará um pouco em paz.
Quando chegamos em nossa casa eu não aguento e começo a rir da cena, hilário.
Meus soldados segurando uma faixa enorme me dando as boas vidas, outros segurando bolas em diferentes dor de vermelho, homens que não pensam duas vezes em matar, que são temidos e considerados sem coração, estavam agindo de forma tão sentimental, algumas estão com um sorriso enorme no rosto, outros estão tentando esconder os olhos marejados,
Eu entrei nesse mundo sem querer, muitas vezes achei que se podesse eu sairia. Mas agora olhando para tudo isso eu tenho certeza.
Não há lugar nenhum que eu queira ir, aqui é o meu lugar. A minha casa!
Fiz muitas coisas por Kevin e ele me traiu não só uma, mas duas vezes, porém. Eu deveria agradecê-lo pois querendo ou não foi por culpa dele que hoje eu tenho tudo isso,
Damian me contou que ele quando eu estava com cinco meses em coma descobriu a minha situação e quis ir me visitar mas como eu já tinha dado a ordem para que ele não se aproximasse a visita dele não foi permitida,
Eu agradeci pois mesmo ele sendo meu irmão eu não o quero perto de mim, não confio nele e posso apostar que ele iria querer usar a minha situação a seu favor.
- Há poucos passos, eu consigo ir andando!
Faço uma cara de cachorro que caiu da mudança, Dimitri suspira e concorda.
- Tá bom, mas eu estarei bem próximo.
Concordo sorrindo feliz, abro a porta do carro e desço ele corre e para ao meu lado. Meus soldados começam a bater palma conforme eu vou me aproximando e eu sorrio.
- É um prazer está de volta!
Digo para todos, eles tiram as armas apontam para cima e começam a atirar em comemoração pelo meu retorno,
- Seja bem-vida senhora!
Pablo se apresenta me olha como se quisesse dizer algo mais, mas desiste.
Descobrir que foi ele quem me tirou do lago, quebrou uma mão para conseguir me tirar de dentro e eu já agradeci quando o vi mas ele me disse que não precisava agradecer pois eu tinha feito o mesmo por ele a anos atrás.
Não diretamente para ele, mas fui eu quem fez o parto da mulher dele e salvei a sua filha.
- Precisamos entrar, não é bom abusar!
Dimitri sussurra em meu ouvido e eu concordo, minha respiração já estava ficando desregular e eu queria um banho, tirar esse maldito cheiro de hospital de mim,
Me despeço de todos acenando com a mão, quando entramos na casa o calor do ambiente vem até mim e eu me sinto aliviada por ter conseguido voltar.
- Pai, fica para jantar conosco?
Viro para Damian que nega com a cabeça
- Tenho uma reunião com Alejandro da máfia Mexicana daqui a pouco.
Ele caminha até mim e me de dá um beijo seguido de um abraço.
- Te amo!
Outro coisa que mudou, dizemos que amamos uns aos outros todas as vezes que vamos nos afastar pois não queremos correr o risco de acontecer alguma coisa e não termos dito.
O futuro é incerto.
- Também te amo pai!
Ele olha para mim como se não quisesse me soltar nunca mais, porém sorrir e vai embora,
Olho para Dimitri que já estava andando em minha direção, me pega no colo novamente e sobe as escadas comigo estilo noiva.
- O que a minha mulher quer agora?
Ele pergunta quando entramos no quarto
- Um banho de banheira com tudo que eu tenho direito.
Ele sorrir e concorda indo até o banheiro.
Eu sei que eles ainda tem medo de que eu desapareça a qualquer momento, sempre estão tentando me tocar e eu não irei me opor,
Sei que se fosse comigo eu teria me desesperado tanto ou mais que eles, afinal. Eu sei como é a dor de perder alguém que amamos muito!
Mas eu driblei a morte e estou aqui agora, não irei a lugar nenhum.