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LUNA

A cada dia que passava, Harry parecia estar cada vez mais distante.

Nos primeiros dia, ele vinha até mim insistentemente, mas tudo o que eu queria era distância dele, para poder pensar com tranquilidade.

Eu ainda não acreditava que ele tinha cogitado a ideia de esconder aquilo de mim. O que ele estava pensando? Que iria lá, faria a cirurgia e voltaria depois de recuperado, dizendo "surpresa! E aí, o que achou dos meus novos olhos?"

É isso?

Ou ele estava muito fortemente considerando a ideia de não fazer a cirurgia. Mas eu não entendo, desde que eu o conheci ele odiava o fato de ter ficado cego, então por que ele iria considerar a ideia de não fazer a cirurgia e conseguir aquilo que ele mais queria, que era voltar a ver?

— Oi? Terra chamando Luna! — levantei minha cabeça rapidamente, vendo Heitor acenar pra mim. Com um sorriso carinhoso e animado, ele disse: — Eu sei que seu nome significa lua, mas você não precisa viver no mundo da lua.

Dei um pequeno sorriso, sentando sobre meus próprios joelhos e devolvendo a esponja no balde com água e sabão. Esfregar o chão realmente me distraía do mundo exterior e me dava tempo para pensar em tudo o que estava acontecendo. Não que eu gostasse de esfregar o chão, mas era o que eu tinha que fazer que não precisava lidar com pessoas.

— Desculpa, Heitor. Eu só estou pensando demais. Você se importa em repetir o que disse antes? — suspirei baixinho e dei um pequeno sorriso cansado. — Prometo prestar atenção dessa vez.

Ele apenas deu uma gargalhada gostosa, e depois se sentou ruidosamente, prestando atenção em mim.

— Eu sei como vocês jovens são. Eu posso até começar a falar, mas a partir da segunda palavra sua atenção volta para o que quer que esteja te incomodando — ele disse, ainda sorrindo. — Não sei nem se você ainda está me ouvindo!

Ri levemente, secando minhas mãos no meu avental.

O dia estava calmo, completamente nublado e... vazio. A maioria dos moradores estão viajando, e a outra parte que está em casa ainda está de férias, então está na casa de algum parente ou dormindo. Os funcionários do condomínio estão pela metade: a primeira metade, da qual eu fazia parte, acabou de voltar das férias, enquanto a outra parte saiu de férias agora, e voltará só no fim do mês.

Felizmente, eu e Heitor fizemos parte do mesmo grupo, e agora estávamos de volta. E ele me conhecia bem demais para me deixar do jeito que estou.

— Não vou, juro. O que você perguntou, antes?

— Na verdade eu perguntei se você poderia arrumar uma coisa no sistema do computador, na portaria. Mas você estava ocupada, então pedi para Morris, o garoto novo. Ele entende bastante dessas coisas também — ele suspirou, cansado e com um sorriso. — Mas agora o que eu realmente quero saber é o que está te deixando assim.

Suspirei com seu último questionamento e peguei a esponja grande e macia novamente, voltando a esfregar o chão. Quando abri a boca para dizer que tudo estava bem, ele me calou acrescentando: — e não ouse mentir pra mim, eu tenho oitenta e dois anos e cinco filhos.

Esfreguei o chão com mais avidez, sentindo o assunto com Harry voltar à minha mente com um estalo.

— Homens mentem muito — resumi tudo numa frase só.

Heitor apenas me encarou, esperando que eu continuasse, e eu dei de ombros.

— Que foi? É isso.

Good Years || Harry StylesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora