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HARRY

Já não via ela há pouco mais de uma semana.

Se eu estava sentindo falta? Um pouco.

Se eu admitiria? Bom, no início eu pensava "nem morto". Mas agora, pensando bem... talvez.

Eu não queria ter sido grosso com ela, mas esse é um assunto tão delicado que eu nem pensei direito antes de agir. Eu só sabia que não queria falar sobre o assunto e ponto.

Nesse exato momento, tudo o que posso sentir é a vibração e o grave da música alta que vem do home theater conectado à enorme televisão no meu quarto. Estou trancado aqui há alguns dias, minha mãe sempre aparece aqui sugerindo algo divertido para fazermos, mas... a resposta é sempre negativa.

Mas ela é muito compreensiva, tenho certeza de que ela me entende.

Né?

Suspirei. Não importa o quanto eu tente impedir que isso aconteça, sempre acabo ferindo alguém, seja com ações ou com palavras, intencionalmente ou não. É por isso que eu sempre tento me afastar de todos, porque eu não quero machucar ninguém, não quero que pessoas fiquem próximas de mim pra logo perceberem que eu sou um lixo e se afastarem, decepcionadas. Eu também não quero me machucar.

Mas aí tem a Luna.

Eu nunca conheci alguém como ela. Ela parece ser meiga e gentil, mesmo com o gênio forte, é engraçada e tem opinião. Ela parece tão descontraída, não liga pra quem vai, pra quem vem, nem para quem fica ou para quem sai. Ela simplesmente... vive. Coisa que eu evito todos os dias.

Mas eu enxotei ela na semana passada. Supimpa!

— Harry!

Ouvi uma voz que eu já não ouvia há meses, e então a música parou.

— Além de cego, você também quer ficar surdo? É isso? — Louis disse alto, mesmo com a música já desligada.

— Não precisa gritar. E eu mandei desligar minha música, por acaso? — falei, sem me mexer. — Oi pra você também, Tomlinson.

Louis me visitou poucas vezes desde que fiquei cego, e todas as vezes que ele veio eu estava em um dos meus momentos. Ele é um dos poucos que já falam a verdade na cara, sem medo, e minha mãe sempre conta com ele pra isso.

Ele suspirou e eu senti a cama se afundar do meu lado.

— E aí, cara. Como você está?

— Tô tranquilo.

— "Tranquilo"?

— É.

Eu já conseguia imaginar a cara dele. Louis, de todos os garotos, sempre foi o mais próximo a mim, desde o início. As vezes eu sentia falta de poder olhar em seus olhos azuis, de ver os olhos dele quase fecharem quando ele sorri, e até mesmo de seu sorriso.

Nossos diálogos nunca foram muito compridos depois que a gente brigou. Era como se, mesmo tudo já estando apaziguado, nós não quiséssemos forçar a barra. Mas eu meio que sinto falta das longas conversas que tínhamos.

Sinto falta até mesmo de quando morávamos juntos, no início da banda.

Suspirei e completei:

— Só ando pensando demais.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

— Sua mãe disse que tem uma garota. Qual o nome dela?

Respirei fundo e passei a mão nos olhos, por baixo do óculos.

— Luna.

Senti Louis balançar a cabeça levemente.

— É um nome bonito. Como ela é?

— É realmente um nome muito bonito. Ela trabalha aqui no condomínio. É simpática, geralmente — dei uma risada, — ama comida japonesa, tem uma gargalhada alta, até parece uma sirene de ambulância quando ela não se segura, mas é linda. Enfim, é uma ótima pessoa.

— Nossa, sua melancolia chega a ser dolorosa. E é por causa dela que você se trancou nesse quarto?

Grunhi.

— Mais ou menos. Foi mais por causa de mim.

Contei pra ele o que aconteceu no dia em que ela esteve aqui, e ele ficou meio tenso quando falei sobre o show na Itália. Querendo ou não, o assunto já era tenso, mas ficou ainda mais tenso depois que eu me isolei. Mais uma vez, eu sou a causa de tudo.

— Você deveria só ter falado com ela, cara.

Balancei a cabeça, frustrado.

— Esse é o ponto, Lou– eu não falo sobre isso, eu odeio falar sobre isso! — bufei, com as mãos no rosto. — Se tornou um assunto doloroso pra mim, a época onde eu era feliz com os meus quatro melhores amigos, viajando pelo mundo!

Louis ficou em silêncio por uns instantes.

— É, é um assunto delicado pra todos nós, em diferentes maneiras.

Tirei as mãos trêmulas do rosto e encostei minha cabeça na cabeceira da cama.

— Mas sabe que, mesmo se eu pudesse, eu não mudaria nada?

Senti ele colocar a mão na minha.

— Nem o fato de eu ter ficado cego?

Ele negou.

— Isso aconteceu por algum motivo, Styles. Se você não tivesse ficado cego, você não seria essa pessoa que eu estou vendo agora: uma pessoa que só tem melhorado, dia após dia. Uma pessoa que sempre busca dar o melhor de si, mesmo que seja só para a família, e não mais para o mundo todo. Você sempre foi uma pessoa ótima, Harry. Mas agora você é incrível, a caminho de ser espetacular! Todos nós mudamos, mas pra melhor!

Entrelacei nossos dedos.

— Aquelas musicas que você escreveu e que estão ali no seu guarda-roupas– aquelas músicas são parte de você, Harry, de quem você é. De um Harry diferente do que a gente conhecia antes. Cara, só vai lá e vence mais esse obstáculo! Fala com ela e diz o que você sente, sobre a vida, sobre a One Direction, sobre sua carreira solo, sobre ela. Sobre tudo! Não perca tempo, Styles, porque tempo é algo que nunca temos o suficiente.

Respirei fundo. Louis sempre sabe o que dizer.

— E pelo que sua mãe me falou, essa tal Luna é gostosa — ele acrescentou, e eu soquei o braço dele, fazendo ele rir.

Depois de alguns segundos, soltei nossas mãos e me levantei, indo me trocar.

— Você vem comigo, então — eu disse, depois de trocar de roupa.

— O que? Onde?

— Vamos descer até a recepção do hotel.

Louis bufou.

— Bom, pelo menos vou conhecer a tal Luna.

Good Years || Harry StylesWhere stories live. Discover now