— Eu vim de outro país mesmo. Eu nasci na Inglaterra.

— Agora faz sentido essa bandeira enorme na parede. Mas você não tem sotaque britânico, tipo os meninos da One Direction.

Ele solta essa risada excitante de novo.

— É que o meu pai é filho de britânico com americana e se casou com uma mulher britânica, a minha mãe. E eu vim morar nos Estados Unidos com 11 anos de idade. Os pais do meu pai estão morando aqui nos Estados Unidos, já os pais britânicos da minha mãe ainda moram na Inglaterra. Então eu estou acostumado. Adaptei-me rápido ao inglês daqui.

— Percebi.

— Eu costumava vir à Muir Beach todo fim de semana. — ele volta a dizer.

— E por que não veio mais? — eu pergunto — Por acaso existe outras casas como essa que costuma ir?

— Bom... — ele se aproxima lentamente enquanto fala — Existe, mas, faz um tempo que eu não vou lá.

— Deve ser um paraíso ainda mais belo que este.

— Na verdade é o contrário disso.

— É onde você morava em Daly City? — suponho.

— Sim.

— Como a casa está? Vocês venderam?

— Ainda não. Mas, meu pai está vendo o que fazer com ela, assim como essa casa em que estamos. Enquanto ele não resolve, eu habito. — ele explica, voltando para dentro — Você quer comer alguma coisa? Eu estou cheio de fome.

— Quero. — eu entro atrás dele — Tem alguma coisa para comer aqui?!

— Claro. — ele confirma. Eu chego à cozinha e ele está mexendo nos armários — Temos coisas enlatadas, biscoitos, bebidas no congelador, só que estão quentes, porque eu desliguei a energia da casa e... cereais, leite. Essas coisas básicas.

— Tipo... Coisas de adolescentes. — eu tento entender, pois é o que parece e ele solta risos pegando uma caixa de cereal fechada no armário. Eu me aproximo da ilha da cozinha e me sento num banquinho onde tem mais três — Costuma vir aqui?

— Costumava. A última vez que eu vim foi um dia antes de entrar na escola nova. — ele explica voltando ao outro armário de copas e pegando dois pratos fundos de plástico roxos próprios para cereais, duas colheres na gaveta e os coloca na mesa ao lado da caixa do cereal.

— Ah, então já tem um tempo. — eu deixo meus braços cruzados sobre a mesa. — Eu gostei, é bem aconchegante, relaxante. Um lugar ótimo para tirar umas férias desse mundo.

— Ah é. E pra outras coisas também. — ele solta risos travessos, sugestivo, enquanto pega a caixa de leite fechada e coloca sobre o balcão ao lado das outras coisas.

— Humm. Então você não ficava aqui sozinho. — eu concluo com um certo ciúme, enquanto ele prepara nosso lanche.

— Relaxa. Você foi a única que eu trouxe aqui. — bom saber.

— Então você ficava aqui sozinho? — quero conferir mais uma vez.

— Solo. — ele fala como um cantor, abrindo a caixa do leite.

— Você realmente gosta de ficar sozinho, mesmo tendo tantos amigos. — eu notei — Eu sei como é isso. Era melhor ficar sozinho do que mal acompanhado, não é mesmo?

— Exato. — ele abre a caixa do cereal e coloca em grande quantidade para ele e pouca para mim. Ele sabe que eu não sou de comer muito. — Pouco leite, não é?

A Maré das LembrançasWhere stories live. Discover now