CAPÍTULO 2

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Saio do banheiro e sigo até a sala principal.

Chegando até a sua porta, eu dou algumas batidas.

— Entre. — ouço a permissão do outro lado. Eu abro a porta e entro, vendo que a diretora está entretida na tela do seu Notebook e olha para mim de forma surpresa — Aluna Brook?! O que faz aqui?

— Sra. Jones, eu vim fazer uma reclamação. — aviso.

— Pois então, sente-se. — ela me pede, ainda surpresa em me ver, pois eu não sou de ir à sala dela.

Se isso é estranho para ela, imagine para mim.

— Diga. O que lhe trouxe aqui de tão alarmante para sair no meio da sua aula de Biologia? Espero que seja algo relevante.

— Então... — eu me acomodo no assento — É sobre o aluno novo.

— Carter? — ela pergunta me decifrando.

— Sim, esse mesmo. — eu confirmo.

— Hum. Prossiga.

— Sra. Jones, ele não me deixa estudar, fica me atrapalhando a aula toda e isso está me irritando. Diretora, eu quero aprender e parece que ele não, então como ele pode ser meu parceiro se continuar assim? Ele não presta a atenção em nada e não quer que eu preste também. — denuncio num certo desabafo, pois ele realmente me estressou. — Isso precisa parar. Eu quero que ele saia, ou então me tira daquela classe.

— Aluna Brook, eu entendo que está sendo complicado dialogar com o aluno novo, entretanto, não temos como mudá-la de classe, estão todas esgotadas. Você não precisa sair daquela aula. Sei que gosta muito de Biologia e é uma ótima aluna. Pense em como seria genuíno de sua parte ajudá-lo a se tornar um garoto exemplar como você. — ela me incentiva.

— Por que ele foi transferido pra cá? — pergunto curiosa.

Ela respira fundo, levantando-se, e começa a caminhar pela sua sala, com as mãos unidas sobre as costas.

— Os pais de Nathan queriam apenas morar em São Francisco e por isso ele teve que vir para cá já que sua antiga escola fica mais distante. Digamos que ele está começando uma nova vida. — ela conta, chegando a minha frente e poiando os quadris sobre a mesa.

— Ele arrumou encrenca por lá, não foi? — acabou escapando. — Desculpe.

Ela demora alguns segundos para me responder, tolerando-me.

— Isto é um caso complexo e particular. É evidente que o aluno tem um temperamento difícil, indisciplinado. Ele está se tratando há algum tempo com pessoas formadas que sabem exatamente como ajudá-lo. Carter está muito melhor agora. A mudança foi somente para preencher o que faltava. — ela explica.

Nossa. Se ele está melhor agora, imagine quando ele não estava.

— Mas, o que ele fez exatamente? — pergunto.

— Aluna Brook, isso se trata de um arquivo pessoal no qual você não está listada. Carter é um aluno em busca de aprendizado assim como você e todos dessa escola. Ele está aqui para ter disciplina e ele terá. Por tanto, eu acho melhor que você volte para a sua classe, está bem? — ela encerra o assunto e eu não estou gostando disso. — Não se preocupe. Falarei com ele e darei uma advertência. Caso isso se repita, terei que resolver de maneira rígida. Enquanto a você, tente ser amigável. Sei que é uma aluna paciente e ele precisa de novas amizades. Aproveite e seja sua primeira amiga.

Ela me incentiva novamente, dando ênfase ao meu lado exemplar e eu tento juntar forças para aceitar que eu terei que estudar com aquele doido.

— Volte para sua classe. Vamos. — ela ordena.

Eu me levanto e sigo até a porta de saída da sala.

Parece que eu voltei para o ensino fundamental e olha que eu nem tenho recordações dessa época.

Um garoto encrenqueiro está estudando aqui. Eu compreendo que isso é algo que está acontecendo em todo lugar. Essa triste realidade de adolescentes que vão para o caminho errado da vida.

Mas, por que justamente um garoto como aquele foi se sentar do meu lado? Tratar-me de forma rude, além de não me deixar estudar.

Isso é tão doido e minha cabeça ainda está doendo.

Volto à sala de aula e ao entrar percebo que todos estão em silêncio ouvindo o professor e olhando para mim.

Nunca fui de sair no meio da aula.

O professor Harrison volta à explicação com se nada houvesse.

Chego à minha mesa e noto que Nathan continua do mesmo jeito de quando eu saí.

Ele realmente não quer estudar.

— Pensei que o papinho do banheiro fosse um ótimo pretexto para fugir da sala de aula e do que há dentro dela. — Nathan sorri perverso, com os braços sobre a mesa, encarando-me.

Ele continua, agora com deboches.

— Hm. — eu o ignoro.

— Diz para mim, foi me denunciar para as autoridades? — ele pergunta. — Isso é maldade.

— Ah, mas seria uma maldade muito boa. — digo, tentando afrontá-lo, mas no fundo, seu olhar me intimida.

Ele mantém a me encarar, agora muito sério, sequer a piscar, e eu não desvio meu olhar.

A porta da sala se abre novamente e a Sra. Jones interrompe a aula com uma feição nada agradável.

— Nathan Carter, venha comigo imediatamente. — ela ordena e todos olham diretamente para o novato.

— Já não era sem tempo. — ele parece agradecido por ter que se retirar e eu muito mais.

Carter recolhe suas coisas e segue rapidamente até a porta sem deixar de me olhar de forma sombria.

Acabo deixando escapar um sorriso vitorioso por conseguir vencê-lo nesse jogo.

Afinal, se ele quer guerra comigo, ele terá.

Meus pais sempre me dizem: lute pelos seus ideais.

Eu quero estudar e ele não, então, é exatamente isso que eu estou fazendo.

[...]

O sinal bateu. Finalmente hora do intervalo. Nathan não voltou para sala até agora.

Que bom que eu consegui pegar a matéria normalmente como de costume.

Saio da sala e ando até meu armário para guardar meu livro.

Digito a senha: 11, 22, 33, 00... Números iguais. Não sei a razão, mas eu gosto disso. O cadeado abre, eu finalmente desocupo meus braços e fecho o armário.

— Desocupada agora? — caramba, Quinn, que susto! — Nossa, se assustou comigo? O que foi? Andou vendo filme de terror esse fim de semana sem a sua melhor amiga?

— Quase isso. — não quero nem comentar.

— E aí? Vamos para a biblioteca? — ela me pergunta.

— Claro, vamos sim. — estou dentro.

Se existe um lugar que eu mais gosto nessa escola é a Biblioteca. Além de ler livros e estudar, também podemos acessar a internet nos computadores disponíveis.

Quinn sempre estuda comigo na biblioteca, foi lá que eu conheci ela; estava lendo HQ de super herois e se interessou pelo meu livro de romance de época.

Eu nem acreditei. Ficamos tão empolgadas. Foi engraçado.

Seguindo pelo corredor com Quinn, eu passo pela porta da diretora e me lembro de que Nathan ainda possa estar ali dentro e isso me deixa intrigada.

Tento esquecer por algum tempo e sigo para a Biblioteca com a Quinn.

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Obrigada por ler. :)

A Maré das LembrançasWhere stories live. Discover now