- Você tá bem com isso?

Pensei em diversas maneiras de responder, mas só uma era verdade.

- Se ele estiver bem, eu estou bem.

De alguma forma, eu parti o coração de Luke. A minha presença era uma lembrança constante que impedia ele de se recuperar.

No meu desespero para não perdê-lo, eu o sufoquei. Agora ele escapava mais rápido do que nunca, fora do meu alcance.

Eu faria as pazes por nós dois.

- Vai vir me visitar ao menos? - Calum me olhou com olhos de cachorrinho.

- Claro - dei meu último sorriso amistoso da noite.

Era minha hora de ir pra onde eu devia ter ido desde o começo: o hotel.

Não tive saco para dobrar as roupas que estavam fora da mala, apenas empurrei para que tudo coubesse ali. Eu as arrumaria na manhã seguinte, junto com a minha vida, mas essa noite eu me permitiria sofrer um pouco.

Que merda, Hemmings. O nosso quase me matava por completo.

O quarto do hotel era grande demais, claro demais. A cama me engoliria se eu chegasse perto dela. A janela tinha uma vista ampla para um monte de luzes que não significavam nada. Nada significava nada.

Parecia que eu já tinha vivido aquela cena.

[Play]

Puxei a poltrona reclinável para perto da janela e desejei ter bebido um pouco mais. Só o suficiente para não ter que pensar nele naquela noite.

Há alguns meses atrás eu nunca imaginaria que me encontraria do outro lado do mundo desejando estar em casa. Meu pai e Luke na cozinha, fazendo sei lá o quê enquanto eu escolhia um filme. Mais tarde, eu esticaria meus pés como um sinal para que Hemmings se aproximasse, aí então ele puxaria um sorriso de lado antes de tocar em mim.

E minha única preocupação seria não me apaixonar por ele.

Não, aquilo não ia acontecer.

Eu não era estúpida o suficiente para me deixar levar por Luke Hemmings.

O rosto dele iluminado pela luz da TV, o furinho do lipring quase imperceptível na boca. Eu conhecia cada centímetro daquele rosto, tinha gravado cada movimento dele.

Eu me tremia por dentro tentando evitar o inevitável.

Luke Hemmings era inevitável.

Levantei da poltrona para empurrar os vidros. Eu precisava do vento, da força de qualquer coisa maior que eu. Qualquer coisa que fizesse a guerra no meu peito parecer uma brisa leve.

Não muito distante da minha visão, eu vi a praia. Escura, gigante e vazia.

Meu olhar seguiu para a marina onde estavam vários barcos de vários tipos e tamanhos. Eu queria saber o nome deles. Será que algum teria "Storm" escrito no casco?

Então a ideia invadiu a minha cabeça.

Enviei uma mensagem pra Hannah. Pelo horário, ela ainda estaria dormindo lá do outro lado do mundo. Ninguém poderia me impedir.

Desci com a roupa que estava para a rua, decidida a pegar a saída oeste e seguir para o meu destino.

Esvaziei a mente durante a minha caminhada de pouco menos de dez minutos, temendo que uma simples folha seca no chão me fizesse mudar de ideia.

"Coragem, Jules". Repeti algumas vezes até sentir que já era tarde demais para voltar atrás.

O homem grisalho que parecia vigiar os barcos à vela me avistou e logo me saudou.

Sem me preocupar com detalhes, passei o olho rápido nos cascos das pequenas embarcações e escolhi.

"Calm" estava escrito nele. O extremo oposto do "Storm" que um dia me quebrou.

Parecia que o universo tinha trabalhado para me levar até ali. Eu senti a certeza me preencher. Aquela era a hora certa no lugar certo. Eu me senti encaixar como uma peça perfeita.

Aquele momento tinha sido feito para mim. O céu escuro salpicado pelas constelações que eu sabia nomear, o cheiro familiar da maresia, a densidade do ar e a vontade que eu tinha.

Há um mundo de distância de onde tudo começou, a tempestade virou calmaria.

Pensei na sequência de eventos que culminaram naquele momento. Pensei nela, a minha mãe, e como sentir a presença dela ali não me causava dor.

Ela que me ensinou a velejar, que me criou sob o sol dourado das tardes de Port Jackson. A duas maiores paixões da sua vida, ela dizia: eu e o mar.

Eu era pequena demais numa existência tão vasta. Eu nunca entenderia, mas sentia nos meus ossos abraçados pelos meus músculos que não tremiam.

- Pronta, mocinha? - o homem grisalho perguntou.

Sorri para ele e confirmei.

Respirei fundo uma última vez. Não pra ganhar coragem, mas para guardar aquele segundo perfeito comigo.

Pisei na proa sentindo o movimento da maré alta. O vento anunciou que era a hora e eu sorri por trás das mechas escuras do meu cabelo que dançaram no ar.

Subi no barco e soltei a corda.

Eu estava novamente no mar.

Eu estava novamente no mar

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Lover of Mine | Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora