TRINTA E TRÊS

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Scott Amber debruçou-se sobre a amurada do barco, fechou os olhos e vomitou.

Não saiu muita coisa: só um pouco de bile azeda que ficou pendurada em seu queixo. O balançar das águas fez seu estômago dar outro nó. Scott gemeu, sem coragem de abrir as pálpebras. O mero pensamento de olhar as ondas do mar cinza o fazia querer vomitar de novo. Suor frio cobria sua testa. Suas mãos estavam geladas e trêmulas.

- Falta pouco para chegarmos – disse Donna. – Aguente firme aí.

Acho que vou morrer antes de chegarmos, Scott pensou. Caiu sentado no chão do convés e enfiou a cabeça entre os joelhos, agarrando os tornozelos na vã esperança de amenizar a guerra que acontecia em seu estômago. Não adiantou: ele sentiu outro jato subindo, tateou às cegas atrás do balde que Donna lhe trouxera mais cedo e vomitou dentro dele.

- Ah, bom Deus – Scott murmurou.

- Tome um pouco de água – disse Donna. – A última coisa da qual precisamos é que você fique desidratado.

Com esforço, ele abriu os olhos, tirou a mochila cor-de-rosa das costas e pegou uma garrafa cheia de água. Bebeu, obrigando o líquido a descer por sua garganta seca e com gosto de vômito. Esperou para ver se iria colocar tudo para fora, mas a água permaneceu em seu estômago. Scott ergueu o rosto para o céu cinza. As nuvens pareciam baixas demais, prestes a cair sobre sua cabeça. O som do motor do barco se misturava ao barulho das ondas batendo contra o casco da embarcação. Scott respirou fundo e o cheiro de sal do mar encheu seu nariz.

- Quanto tempo falta? – ele perguntou num fio de voz.

- Uma hora, talvez duas – respondeu Donna. – Beba mais água.

- Não consigo.

- Beba. Não estou pedindo.

Pensando em como Donna ficava parecida com Margot ao falar daquela forma, ele bebeu mais alguns goles. Então obrigou o corpo a ficar de pé e olhou para o horizonte à frente deles. Viu uma fileira de silhuetas de prédios recortada contra as nuvens cinzas. Apontou:

- Aquilo é Nova York?

De pé diante do manche, guiando o barco, Donna respondeu que sim. Scott deu graças a Deus por estarem chegando à cidade. Fazia oito horas desde que haviam partido de Oak Island, e Scott passara sete delas vomitando as tripas. No começo, achou que o vai-e-vem das ondas seria fácil de encarar, mas não demorou para o balanço das águas levar a melhor sobre ele. Prometeu a si mesmo que nunca mais passaria por algo parecido: preferia atravessar o mar nadando a subir em um barco outra vez.

Donna, por outro lado, não era afetada pelo balançar do barco. Na verdade, estava quase mais à vontade em alto-mar do que em terra firme. Ela contara a Scott que costumava navegar com o avô quando menina.

- Até ganhei uma competição de barcos à vela certa vez – ela dissera, com um sorriso não desprovido de orgulho. – Eu guardava o troféu em minha casa. Aquela coisa me dava mais orgulho do que meu diploma.

Eles tinham partido de Oak Island pouco antes do raiar do dia. Ninguém dormira durante a noite. Haviam passado a madrugada enterrando Skies no jardim ao lado do lago. Scott e Henry cavaram a terra, e Donna sozinha envolvera o corpo de Skies em um lençol branco e o colocara em sua nova morada, na qual ele permaneceria até o Dia do Juízo Final. Aí então cuidaram do pé de Margot. E de Zoey.

Zoey.

Quando Scott saíra de Oak Island, Zoey continuava viva. Ou algo parecido com isso. Ele duvidava que restasse muita coisa dela. Ela passara a noite deitada no chão da sala, com a cabeça destruída sobre o paletó de Scott, porque Margot e Donna disseram que movê-la para a cama só pioraria a situação. Eles a cobriram com cobertores e tentaram deixá-la o mais confortável possível. É só o que podemos fazer, dissera Margot. Zoey caíra em um estado quase comatoso: dormia por uma hora, então acordava, embora os olhos – o olho, no singular, já que o direito não existia mais – permanecesse sem o menor traço de consciência. Ela balbuciava uma porção de coisas sem sentido, sobre como sonhava em fazer ballet e chamando pela mãe, apenas para cair na inconsciência logo em seguida.

A Viajante.Where stories live. Discover now