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  O mundo tem girado mais lento, desde ontem. Como se estivesse me preparando para algo. Algo em que não saberei como reagir.

  Não paro de pensar nisso, principalmente agora, por ser chamada no consultório à essa hora da manhã. Sendo que já fiz meu exame de sangue semana passada.

  Namjoon ao meu lado, analisa algumas coisas em seu celular antes de desligá-lo e se voltar para mim.

  — Hoje faz três meses. — Namjoon solta essas palavras no ar, me fazendo virar em sua direção.

  — De quê? — questiono.

  — De que eu sou seu cuidador. — ele sorri com suas covinhas, enquanto franzo o cenho, raciocinando.

  Isso é surpreendente! Faz três meses que conheço Namjoon, Hoseok voltou hoje, será Páscoa?

  — Nossa! Passou rápido. — encaro confusa seu rosto, me vindo uma recente dúvida. — Que dia é hoje, Namjoon?

  A pergunta faz o mesmo ligar seu celular, dando a visão do ecrã.

  Pela áurea de Namjoon, que mudou de repente, posso dizer que estou enjoada. Namjoon abre levemente sua boca, mostrando certo receio.

  — Hoje é dia treze, Soyun. 13 de maio. — a voz de Namjoon é pausada na minha mente. Me desvio de seu olhar, sendo incapaz de encarar qualquer coisa agora que não seja meu passado.

  Um filme violento passa na minha cabeça. Me lembro de quando quebraram meu óculos na pré-escola, de suportar o gosto do fígado descendo violentamente na garganta, quando minha mãe me deu um tapa por não gostar do uniforme do internato, de ser socada pelos amigos do garoto que eu gostava no internato, de ver meu irmão apanhando por mim, quando eu saí de casa, quando conheci Taehyung, quando sorri para Jimin, perder o amor da minha vida até... hoje.

  Hoje fazem, exatamente, os três anos que tiraram a minha vida de mim.

  — Soyun? — Namjoon interrompe meus pensamentos. — Soyun?

  Preciso balançar levemente minha cabeça para saber se não há perdi.

  — Hoje é dia do meu pesadelo, Namjoon.

  Minha voz sai embargada, mas não por vontade de chorar, e sim, pela sensação de estar sendo sufocada por mim mesma.

  Não consigo ouvir Namjoon ao meu lado, é como se tudo fizesse silêncio apenas para apreciar o meu desespero. Sinto minha alma pesada, como se fosse um fardo carregá-la dentro de mim.

  Na verdade, minha alma implora para ser retirada de mim.

  Eu estou implorando para ser morta.

  E, como se toda a barreira que eu construí nos segundos do meu silêncio fosse pó, volto a realidade. Como?

  Por um instante, sou curiosa o suficiente para procurar o que me tirou do meu desespero. Meu olhar varre o consultório, vasculhando cada ponto por mínimo que seja. Até perceber que Namjoon não para de falar, ao meu lado.

  — Como um sinal, entende? — no momento, não presto atenção em sua fala mas sim em... sua mão. Sua mão está ali, sobre a minha. Encaro com a boca aberta seu ato, mas não tenho coragem de retirá-la.

  Então, foi isso que me retirou do meu desespero...

  — Soyun? — volto novamente, à realidade, só que, sem deixar de encarar a mão de Namjoon sobre a minha.

  — O que estava dizendo, Namjoon? — tenho forças suficiente para encarar Namjoon novamente. Seus olhos também encaram nossas mãos juntas, mas de forma receosa. Tudo indica que foi por impulso.

Winter Flower Where stories live. Discover now