O mistério do anel desaparecido

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O gato Dusty:

Quando Anne viu Gilbert Blithe na porta, ergueu o rosto de supetão, os olhos azuis arregalados como nunca

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Quando Anne viu Gilbert Blithe na porta, ergueu o rosto de supetão, os olhos azuis arregalados como nunca. As lágrimas cessaram, mais pelo choque que por alegria. Por um instante, pensou que fosse uma miragem. Pensou que sua consciência, estava lhe pregando uma peça; que sua ansiedade depois do dia estressante, havia pesado com demasiada realidade em sua mente.

Porém, quando Gilbert irrompeu a sala rapidamente sem esperar convite, caminhou até ela, e tomou as delicadas mãos dela nas dele com uma expressão extremamente preocupada e confusa, Anne teve de admitir: era tudo real.

Os dois se encararam por alguns segundos, enquanto do lado oposto da sala, os jovens ali presentes trocavam olhares espantados entre si. Lily perguntava à Sra. Blackmore, usando a linguagem de sinais: "Este é o noivo?". E a Sra. Blackmore, também com gestos, respondeu: "Suponho que sim!".

- Anne? O que foi? - perguntou Gilbert, apoiando carinhosamente a mão no rosto sardento manchado de lágrimas de sua noiva, ignorando todas as pessoas ao redor deles, que apenas acompanhavam com curiosidade a cena. Anne abriu a boca para falar.

- A...A...A...ATCHIM!!! - foi a resposta dela. Depois, jogou-se nos braços de seu amado e debulhou-se em lágrimas. Gilbert a abraçou com força, ainda sem saber o que estava acontecendo, e a Sra. Blackmore procurou tirar todos dali, alegando: "Eles precisam de privacidade...". Foi quando começaram a conversar.

Primeiro, Gilbert, sabendo lidar com as lágrimas e o desespero de sua Anne tanto quanto com um macaco bailarino, contou que havia acabado de chegar de Toronto, para fazê-la uma visita surpresa, e iria ficar durante 3 dias. Delicadamente, perguntou o que tinha acontecido: "Por que está chorando litros d'água? Por que toda essa gente estava aqui?".

E então a ruiva, começou um longo monólogo que ninguém no mundo conseguiria entender além de Gilbert, pois de 2 em 2 segundos, ela soluçava; de 5 em 5, assoava o nariz; e de 10 em 10, espirrava tão violentamente que o rapaz precisava desviar das gotículas! Além do quê, os "M"s de todas as palavras transformaram-se em "B"s, na linguagem típica dos pobres seres resfriados deste universo, e a voz dela, outrora nítida e complacente, havia se tornando um resmungo anasalado, acompanhado do guinchado de suas narinas.

Porém, havia certa conexão mágica entre os dois, e como uma mãe que compreende o "gugu-dadá" de seu neném, Gilbert Blithe compreendeu o "buá-buá" de Anne: ela havia perdido seu anel de noivado. Era uma longa história, mas no fim, era isso que a garota tentava explicar com sofreguidão.

E naquele momento, Gilbert não se importou nada. É claro, aquele pequeno objeto era uma das únicas coisas que tinha de sua falecida mãe, uma das coisas preferidas de seu falecido pai, e ele havia dado à Anne como forma de demonstrar o quanto a amava. E é claro, ele não teria condições financeiras de comprar outro anel de noivado no momento. Mas ver Anne arfar de tanto chorar lhe partia o coração de uma forma muito maior do que um simples objeto perdido.

E foi isso que ele disse à ela. Que de fato, era uma pena, mas que ele só queria que ela ficasse bem, que sorrisse. E por sequência, a beijou, lenta e profundamente, ali mesmo, naquela iluminada sala de estar.

E pela segunda vez na noite, a campanhia tocou. Foi uma cena engraçada: Anne e Gilbert, paralisados, com os olhos arregalados voltados para a porta, mas os lábios ainda colados.

Eles se separaram, e Anne se levantou, insatisfeita por alguém tere interrompido seu momento romântico. Ela enxugou o rosto, abaixou o cabelo, alisou o vestido, forçou um sorriso, e foi atender, pensando com indignação: "Quem poderia ser à esta hora da noite?"

E ali, bem diante dela, outra miragem: a senhora Merkel, com seu gato peludo no colo, Dusty, que se contorcia e ronronava nos braços da dona. Ela começou, como sempre, enrolando horrores para chegar ao ponto:

- Há alguns minutos, eu estava lá em casa, e bom, depois de um dia particularmente exaustivo, exceto no momento que você me visitou, é claro, pois você é uma querida e estar ao seu lado é simplesmente voltar a sentir o frescor da juventude em meu sangue... me sentei na minha poltrona favorita, aquela amarela, e Dusty veio se deitar no meu colo. Você sabe como eu amo esse gato, senhorita Shirley! Ele foi da minha irmã! Enfim, eu o acariciei, tentando relaxar. E neste momento, senti algo duro perto da coleira dele. Por um instante pensei que fosse algum pequeno animal, mas Dusty é bem limpinho! Então, quando fui ver, era o anel que você tinha ido procurar!

A idosa, como um milagre, estendeu o anel que Anne passara o dia procurando. A pedrinha verde reluziu na frente do rosto da moça, e sua única reação fora ficar de boca aberta.

- Fiquei muito surpresa! - a Sra. Merkel prosseguiu, com um sorrisinho - Onde já se viu? Perder o anel nos pelos de um gato? Quase soltei uma gargalhada ali mesmo... Pensei em entregá-lo amanhã, mas você, coitadinha, estava tão desesperada para encontrá-lo que resolvi vir hoje, e torci para a Sra. Blackmore não me expul...

- Oh, Senhora Merkel!!! - exclamou Anne, recuperando a capacidade da fala. - Você salvou minha alegria! Não sei como posso lhe agradecer, senhora Merkel, eu realmente não sei! - Anne pegou o anel, colocou-o no dedo, inclinou-se para frente e beijou a bochecha enrugada da Sra. Merkel, que inicialmente estranhou, fazia décadas que ninguém a beijava, porém depois contente com o ato.

O humor de Anne havia ido de um oposto ao outro dentro de três segundos, tão intensamente quanto sempre eram os sentimentos dela. Um choro convulsivo tornara-se uma risada loucamente animada, e agora, ela saltitava pela casa com seu anel no dedo, de onde ele nunca deveria ter saído.

Gilbert, assim como todos os que haviam ajudado a procurar o anel, ficaram muito contentes. E Diana, ao saber que a jóia realmente estava nos pelos do gato da Sra. Merkel, riu escandalosamente com Anne, tão surpresa quanto era de se esperar.

- Oh, Anne! - disse ela - Nunca mais duvidarei de suas hipóteses malucas! Quer dizer, havia a mesma probalidade do anel estar perdido em meio ao pelos de Dusty quanto de você tê-lo engolido!

Depois, Fred, Moody e Charlie foram para suas casas, e Anne pediu a Sra. Blackmore com jeitinho:

- Gilbert pode dormir aqui?

Só faltava a Sra. Blackmore ter um infarto. O discurso dela durou por volta de meia hora, e enquanto ela parecia estar mais irritada que nunca com aquele pedido, Anne, Gilbert, Lily e as meninas, morriam de rir.

- Ora, mas que absurdo! - exclamou, levando a mão direita ao peito para mostrar o quanto estava horrorizada. - Eu não deixo nem que pretendentes as visitem todos os dias, como espera que eu permita uma coisa dessas? Dormir aqui?! A simples hipótese de você ter pensado nisso... Oh, onde essa juventude vai parar?! Daqui a pouco vai me pedir para que vocês dois durmam no mesmo quarto! Do que todos estão rindo? Andem, me digam agora! Eu quero saber a graça!

Mas Anne e Gilbert não se importaram. Não poderem dormir nem na mesma casa, afirmava o quanto o compromisso deles era sério.

Tão sério, que tinha até um anel!

Continuação de Anne com EWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu