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A voz de Michael me acordou.

— Rosalie Brook, tire seu traseiro dessa cama e vá salvar seu semestre. Pelo amor de Deus, se eu deixar um cara jogar fora meu amuleto acadêmico assim, eu nunca vou me perdoar. E nem a você.

Eu fiz um som desdenhoso de debaixo do edredom antes de espreitar para ele.

— Que amuleto acadêmico?

Com as mãos nos quadris, ele estava com sua usual jaqueta jeans personalizada, com uma bolsa lateral adornando seu corpo alto.

— Ha. Ha. Muito engraçado. Levante-se. — Às vezes, eu me odiava muito por ter dado a chave do meu dormitório para ele. Funguei, mas não me mexi.

— Eu estou indo bem em todas as minhas outras matérias. Não posso simplesmente reprovar nessa?

Sua boca caiu aberta.

— Você está ouvindo a si mesma?

Eu estava ouvindo a mim mesma. E eu estava tão indignada com meus sentimentos covardes quanto Mike, se não estivesse mais. Mas o pensamento de me sentar perto de

Jack para uma hora de aula, três dias por semana, era insuportável. Eu não podia ter certeza de que o seu recente status de solteiro significaria em termos de flertes abertos ou contatos, mas seja o que isso significasse, eu não queria encará-lo de frente. Imaginar os detalhes foi ruim o suficiente.

Se ao menos não tivesse o pressionado a fazer uma aula comigo neste semestre. Quando nos registramos para as aulas de outono, ele perguntou por que eu queria fazer Economia, um curso não obrigatório para o meu diploma de Educação Musical. Eu me perguntei se ele tinha percebido, até então, que era onde iríamos acabar. Ou se ele tinha sabido.

— Eu não posso!

— Você pode e você vai! — Ele roubou o edredom. — Agora se levante e entre naquele chuveiro. Eu tenho que chegar na aula de Francês a tempo ou Monsieur Bidot vai me questionar sem misericórdia no passé composé. Eu mal posso fazer o tempo passado em Inglês. Deus sabe que eu não posso fazer isso en français a essa maldita hora da manhã.

Cheguei fora da sala de aula exatamente às 09h00min, sabendo que Jack, habitualmente pontual, já estaria lá. A sala de aula era grande e inclinada. Deslizando pela porta de trás eu o reconheci, sexta fila no centro. A cadeira à sua direita estava vazia, a minha cadeira. Dr. Muller tinha passado pela sala um mapa de assentos na segunda semana de aula, e ele o usava para anotar presença e dar créditos pela participação na aula. Eu teria que conversar com ele depois da aula, porque não havia nota no mundo que me faria  sentar lá novamente.

Meus olhos percorreram as fileiras. Havia dois lugares vazios. Um era três linhas para baixo entre um cara apoiado em sua mão, geralmente dormindo, e uma garota bebendo um tipo de café e tagarelando sem parar com seu vizinho. O outro assento vago estava na fileira de trás, ao lado de um cara que parecia estar rabiscando algo na margem de seu livro. Eu virei naquela direção, ao mesmo tempo em que o professor entrou por uma porta lateral abaixo, e o artista levantou a cabeça para verificar a frente da sala de aula.

Eu congelei, reconhecendo meu salvador de duas noites atrás. Se eu pudesse me mover, eu teria me virado e fugido da sala de aula.

O ataque veio como uma inundação. O desamparo. O terror. A humilhação. Eu tinha me enrolado em uma bola na minha cama e chorado a noite toda, grata por Michael ter me mandado uma SMS dizendo que estava com Luke. Eu não tinha contado a ele o que Kyle tinha feito, em parte, porque eu sabia que ele se sentiria responsável por ter me feito ir, e por me deixar sozinha. Em parte porque eu queria mesmo esquecer o que tinha acontecido.

Jet Black Heart // cth Where stories live. Discover now