⋆⊰ Capítulo 85 ⊱⋆

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[...]

Faz uma semana desde que Ryan e eu voltamos da nossa viagem. Ficamos bons e inesquecíveis dias lá, em nosso próprio mundo, desfrutando de tudo o que tivemos vontade e eternizando isso em nossas memórias. Porém, algo continuou me assombrando constantemente durante esses dias, algo que esperei dia após dia para mudar, mas não aconteceu.

Por sorte ou não, uma vez na minha vida consegui fingir bem. Ryan não pareceu perceber minha preocupação, nossa animação o distraiu o suficiente para não se lembrar ou prestar muita atenção em nada relacionado a isso.

Mas até quando levarei isso?

— Terra chamando Ally! — Tyler estala os dedos na minha frente, me tirando da concentração de não respirar muito profundamente o aroma da comida que ainda está na cozinha.

Preparar o almoço tem sido um desafio.

— Está viajando pra onde?

— Lembrando da minha lua de mel. — Arqueio as sobrancelhas, recebendo um olhar duvidoso.

— Por acaso secou as bolas do meu irmão pra estar tão perdida assim?

— Tyler! — Ryan e eu protestamos, envergonhados das palavras escrachadas.

— Parem, vocês não são santos! Querem que eu acredite que ficaram na capital apenas admirando a praia? — Aponta, empenhado em seu deboche.

— Não. Era a nossa lua de mel, a praia foi mais um cenário...

— Ryan! — O repreendo, vendo que ele entra na brincadeira do irmão para não ser massacrado.

— Credo. Eu não preciso desse pensamento, já pode parar! — Tyler ri, um tanto descrente do que ouve.

Ainda bem que tenho certas atitudes infantis para me distrair.

— Vai ficar bem sozinha? — Ryan questiona antes de ir.

Pedi um dia de folga para nosso chefe alegando precisar ver um médico, mas disse a eles que Jason havia me dado esse dia por vontade própria. Não gosto de mentir, mas preciso tirar essa dúvida que está me matando.

— Vou sim, não se preocupe. — O beijo, percebendo Tyler olhar para o relógio sarcasticamente enquanto espera. — Vai, antes que eu arrebente o Tyler.

— Eu também te amo! — zomba, mostrando um sorriso debochado.

— Te vejo à tarde. — Ryan beija meu rosto antes de ir e é abraçado pelo irmão quando saem.

Sei que Ryan não gosta de me deixar sozinha e odeio mentir para ele, mas não posso continuar com essa negação, fingindo que nada está acontecendo.

Procuro rapidamente o número de Craig no meu celular e ligo para ele. Sei que ele pode me tirar dúvidas e é tudo o que eu preciso nesse momento.

Alô?

— Craig, como vai? É a Ally.

Ally, que surpresa! Vou bem e você? Sinto que essa ligação não é casual.

— Vou bem e não, não é casual. Eu preciso falar com você. Será que pode me tirar algumas dúvidas?

Claro, pode falar.

Mordo o lábio, não sabendo ao certo por onde começar.

Ally? Ainda está aí? — Ele me desperta. — É alguma coisa com Ryan? Tá tudo bem?

— Não. Ryan está bem. É... — Respiro fundo, me sentando no sofá. — ...eu costumo tomar pílulas anticoncepcionais e tive o uso interrompido quando fiquei internada com Ryan. Voltei imediatamente quando recebemos alta, mas... não sei. Tem alguma coisa errada.

Acha que está grávida?

— Eu não sei. Eu menstruei no mês passado, mas esse mês...

Como sua menstruação estava mês passado? Diferente do normal?

— Não... eu acho. O fluxo foi menor.

Ally, é melhor vir me ver no hospital.

— Mas-

Se acalme. Venha pra cá e podemos conversar melhor.

— Certo.

Desligo e vejo que minhas mãos estão muito trêmulas, suando frias, e eu continuo me negando ao que está praticamente claro.

Pego minha bolsa e sem pensar muito vou para o hospital. Procuro logo o consultório de Craig e o encontro me esperando.

— Oi, Ally. Sente-se. — Ele aponta a cadeira e me acomodo ali, inquieta. — Eu quero te fazer algumas perguntas e espero sinceridade.

Assinto.

— Quando você e Ryan tiveram relações após saírem do hospital?

— Alguns dias depois. Uma semana talvez? Quando estávamos nos sentindo bem como você aconselhou, depois... foram mais frequentes.

— E vocês se protegeram?

Balanço a cabeça, negando, e ele junta as mãos sobre a mesa.

— Ally, você passou semanas internada, tomando medicamentos constantes que cortam todo o efeito que o anticoncepcional tem no corpo. Os que eu te receitei para continuar tomando em casa também cortam. — Ele diz com calma e o nó que se forma na minha garganta fica cada vez maior. — Tem tido sintomas de gravidez?

— Eu... tenho tido enjoos e bastante cansada.

Ele suspira fundo e me entrega um saquinho pardo.

— Tem um teste de gravidez aí dentro, o banheiro fica logo ali. É melhor tirar essa dúvida, não acha?

Apanho o saco parto e como se meu coração estivesse na mão, vou para o banheiro.

Faço o teste e espero o tempo pedido, desejando com todas as forças que dê negativo, mas quando vejo o segundo palito ganhando a cor avermelhada, uma enorme angústia me abate.

— E então? — Craig questiona assim que entro em sua sala e apenas assinto. — Por que está tão triste com isso?

— Eu... eu não sei se estou pronta. — Continuo a encarar o teste, tendo dificuldade em assimilar que há uma vida dentro de mim.

— Ryan é seu marido, ele te ama, isso se vê a quilômetros. Ele vai te apoiar. — Craig tenta me acalmar, mas não consigo.

— Eu não sei se tenho mente pra ser mãe, Craig. Você viu um pouco do caos que nossa família é. Eu não sei... — As lágrimas tomam meus olhos e me sinto perdida.

— Isso não quer dizer nada, Ally. — Ele segura minha mão, como um conforto e sorri. — Não leve isso como um peso. É normal sentir medo ou insegurança, não foi planejado, mas conte ao Ryan, conversem. Pode mudar esse pensamento.

Assinto, me levantando para ir embora.

— Se tiver mais dúvidas ou algo que eu possa ajudar, pode me ligar.

— Obrigada, Craig.

Deixo o hospital me sentindo o próprio caos. Nunca passou pela minha cabeça a ideia de ser mãe, eu nunca pensei sobre isso, mas isso é real e eu não sei o que fazer. E se eu falhar com esse bebê como minha mãe falhou comigo? E se eu não conseguir? E se... tenho tantos medos.

Eu posso dar a esse bebê tudo o que ele espera de mim?

[...]

Luzes da VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora