Luzes da Vida

⋆⊰ Capítulo 10 ⊱⋆

A semana se passa como um piscar de olhos dia após dia. A rotina segue seu curso normal, da casa para o trabalho e do trabalho para a casa, sem conflitos pelo caminho. Eu deveria estar bem com isso, mas estou muito ansiosa.

Mesmo que meus encontros com Ryan tenham sido em ocasiões infortunas, o fato de ele não ter aparecido mais me perturba bastante. Tenho o procurado pelas ruas na esperança de vê-lo outra vez. Ainda quero tentar mudar seu pensamento, lhe dar algo que possa trazê-lo alguma esperança, um abraço que seja, mas ele desapareceu como uma mera ilusão.

Uma ilusão que está vívida em minha mente dia e noite.

É manhã de sexta-feira e pela madrugada a chuva se iniciou, constante e persistente. Está uma manhã muito fria, tanto que encontrar coragem para sair da cama se torna um desafio.

É o meu último dia no trabalho e deve estar chovendo assim pelo tanto que eu o abominei. A partir de segunda-feira seremos eu e essa casa vazia todos os dias, durante um longo mês.

Desço as escadas com pressa enquanto coloco um casaco grande. Tyler toca a campainha impacientemente para sair da chuva e sua irritação me traz uma vaga satisfação.

— Aposto que estava se divertindo com o meu desespero. — Ele reclama.

— Eu estaria mentindo se dissesse que não. — Debocho, arqueando as sobrancelhas.

Tyler estreita o olhar afiado sobre mim e suspira fundo o aroma da torta de frango que tirei do forno há pouco.

— Você está perdoada! — Ele me fita por um canto de olho e um sorriso travesso cruza seu rosto.

— Você é inacreditável! — Maneio a cabeça desacreditada dessa criatura perante mim.

— Como se você não gostasse de me ter bajulando a sua comida. — Ele retruca enquanto guarda o guarda-chuva molhado.

Antes de fechar a porta encaro o temporal contínuo lá fora e não posso deixar de pensar em Ryan pelas ruas com toda essa chuva. Será que ele tem onde se abrigar?

Pensar que ele pode estar passando frio em algum lugar aperta meu coração.

Com o passar do dia a chuva cessa por algumas horas, dando um respiro para aqueles que precisam se aventurar ao ar livre.

O trabalho não foi nada além do habitual e mesmo que encerremos no horário, ao olhar para fora, posso ver a fraca noite se fazendo presente pelo céu nublado.

— Quer que eu te acompanhe? — Tyler questiona cauteloso, encarando a vaga escuridão.

— Não, vai chover e você precisa ir pra casa logo. Eu te ligo quando chegar. — Ele hesita, me encarando com desaprovação e suspira frustrado quando começa a chuviscar novamente.

— Tudo bem, me liga. Até amanhã!

Tyler aperta meus ombros em um meio abraço e segue seu caminho com pressa.