Capítulo 09

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CAPÍTULO 09

Jorge

--- Gostei da moça - meu pai falou quando saímos da cozinha - ela parece ser mais inteligente que bonita, e olha que ela é muito bonita.

--- Também gostei dela pai - rimos alto - mas isso não muda nada, ela não ta querendo gostar de ninguém.

--- Essas mulheres modernas são tudo doida - rimos alto mais uma vez.

Conversamos por uns minutos sobre alguns animais da fazenda, mas eu pouco prestei atenção, estava mais atento as duas lavando louça na cozinha, de onde estávamos eu era capaz de vê-las pelo vidro, mas não conseguia ouvir a conversa. A curiosidade me consumia e a preocupação também, afinal minha mãe saber ser cri-cri quando quer. Me distrai com meus pensamentos até que meu pai chamou meu nome.

--- Jorge, ficar olhando ai não vai te fazer ouvir a conversa - o olhei e ele me encarava sério e de braços cruzados - te conheço a quase 40 anos, sei que você ta preocupado com o que sua mãe ta falando pra moça.

--- Ela já é cheia de mágoas e medos pai, se a mãe falar algo errado vou perder tudo que falei esses dias - respondi rindo.

--- Filho, você acha mesmo que ficar repetindo igual um papagaio vai te ajudar? - ele disse sério - você precisar demonstrar meu filho, ficou casado sete anos e não aprendeu nada?

--- Seu Zé, é o senhor mesmo? - perguntei pra quebrar o clima da bronca que ele estava me dando - conheci ela esses dias, tô nem criando expectativa, deixa rolar.

--- Tá criando não, ja tá é de quatro pela moça - rimos alto - vamo entrar logo, se não esse vitrô ai vai estourar de tanto você olhar.

Voltamos para a cozinha e eu as encarei, o clima parecia tenso e elas encerram o assunto de imediato.

--- Bora véia? - mantive meu olhar fixo na Marina, que parecia meio desconfortável.

--- Vamos sim, Marina foi um prazer imenso te conhecer viu, espero te ver mais vezes - elas se abraçaram e meu pai foi cumprimenta-la.

--- O prazer foi todo meu - ela respondeu com as bochechas vermelhas.

--- Jorge, vê se cuida direito dela viu - disse enquanto eu os acompanhava até o carro - pede comida pra vocês ou leva ela pra almoçar, não tinha nem pão no armário meu filho, que você ia dar pra ela tomar café? Te criei assim não!

--- Ela me trouxe bêbado pra casa ontem, mãe, não deu tempo de planejar - ela me olhou feio e deu um tapa no meu braço - daqui até mais tarde eu penso nisso mãe, esquenta não. Vão com Deus tá.

--- Você também filho, se cuida - dei um beijo nela e eles entraram no carro.

Fiquei alguns minutos ali na varanda os observando sumir na estrada e me preparando para o dia que viria pela frente, depois de ontem já entendi que se eu disser a coisa errada é o suficiente pra ela ir embora. É claro que eu entendo todos os medos dela, mas queria que ela entendesse que ela ainda pode ser feliz.

Não que eu me sinta a pessoa capaz de fazer isso, mas ele poderia me deixar tentar. Claro que havia uma vozinha dentro de mim berrando que eu mal tinha assinado os papéis do divórcio e já tava querendo me enroscar, mas o que eu posso fazer se ela mexeu comigo?

Sorrindo com esse conflito interno voltei para dentro da casa e a encontrei observando as fotos que estavam em cima da lareira, me aproximei lentamente e a abracei pela cintura e depositei um beijo na sua nuca.

--- Homem de Deus, não faz isso - ela disse rindo - depois eu te ataco aí e você vai reclamar.

--- Eu não tenho essa sorte - respondi rindo e a abraçando mais apertado, notei que ela se arrepiou inteira, depositei mais um beijo acompanhado de uma leve mordida em seu ombro, ela se virou para mim e sorriu mordendo o lábio.

***

Estávamos esparramados no tapete da sala, ela deitada em meu peito e eu traçava linhas imaginárias sobre a tatuagem das suas costas, o único barulho era o da nossa respiração. Olhei o relógio de pulso e eram quase onze da manhã.

--- Nada disso parece real, sabia? - ela disse se sentando e abrindo um sorriso que me deixou abobalhado - a gente aqui, você sendo você, eu sendo eu.

--- Também acho - me inclinei e lhe dei um selinho - em que mundo a mulher mais linda que eu já vi ia estar só de calcinha e soutien no meu tapete? - ela revirou os olhos rindo.

--- Ah Jorge, me poupa vai - cruzei os braços ainda rindo e a deixei continuar - você é famoso, as pessoas tatuam o seu rosto, você pode ter praticamente qualquer mulher que quiser.

--- Na teoria parece tão bom né? - rimos juntos - mas na prática não é bem assim, eu e o Mateus vamos fazer quinze anos de carreira, mas ficamos "famosos" como você falou aí, tem uns onze - ela me olhava prestando atenção - desses onze, eu passei dez com a minha ex.

--- Meu Deus não creio - disse rindo e eu a acompanhei - você é um santo, não é possível. Nunca escorregou? Nem uma vezinha?

--- Mesmo que os boatos da internet digam o contrário, eu nunca trai ela - a cara de descrença dela era quase ofensiva - que foi? minha mãe me criou direito tá.

--- Tenho dificuldade de acreditar, mals aí - respondeu rindo - vamos mudar de assunto? Eu só quero paz com você hoje.

--- Certo, vamos falar de comida - disse rindo quando escutei o estômago dela roncar - quer sair pra comer? Podemos pedir comida em algum restaurante também...

--- E se a gente usar esa cozinha incrível que você tem? - a olhei com uma sobrancelha erguida - não é possível que não tenha nada cozinhavel nessa casa, Jorge.

--- Você quer cozinhar? É sério isso? - disse me levantando e tentando pensar no que poderia ter no armário, tem mais de ano que não sou eu que faço compras - ela fez que sim com a cabeça ficando com cara de criança sapeca, me levantei e ofereci a mão para que ela se levantasse - Então tá bom, você que manda, mas preciso de um banho antes.

--- É um convite Senhor Jorge? - disse sorrindo.

--- Só se você quiser! - ela foi caminhando na minha frente abrindo o soutien, não vou mentir, estava me sentindo um filho da puta de muita sorte.

Pergunta bobaWhere stories live. Discover now