Capítulo 08

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Marina

Acordei ainda não era sete da manhã, definitivamente o meu relógio biológico é um cretino! Me levantei lentamente tentando não acordá-lo, dei uma espiada pela janela e o sol estava terminando de nascer, e sim, já fazia um calor ridículo.

Peguei minha bolsa que havia largado sobre a cadeira junto ao vestido, peguei meu kit higiene, um short e meus chinelos e fui pro banheiro. Realizei meu ritual matinal que consiste em fazer xixi, lavar o rosto e escovar os dentes - me julguem, skin care não é coisa pra mim, uma reles mortal - fiz um coque daqueles bem mal feito, meu cabelo estava embaraçado e eu estava com zero vontade de resolver isso. Após investir um total de sei lá quantos minutos nessa "produção", vesti o short, calcei os chinelos e saí silenciosamente do banheiro.

O observei por alguns minutos, dormia tranquilamente, parecia até mais jovem, se ignorar os charmosos fios brancos no cabelo e na barba, sorri bobamente para cena e sai do quarto. Confesso que meu coração perdeu uma batida quando dei de cara com uma Senhora - que obviamente era uma senhora, mas não parecia - nos encaramos por uns segundos, claramente constrangidas.

--- Eu não sabia que meu filho tava acompanhado, meu Deus que vergonha - ela disse rindo, meu rosto queimava.

--- Ai meu Deus, quem tá com vergonha sou eu, Dona? - ela sorriu, o mesmo sorriso do Jorge.

--- Genô, meu bem, pode me chamar de Genô - sério, eu com certeza ia entrar em combustão espontânea - vamos começar de novo? Bom dia linda, como você se chama?

--- Marina, dona Genô - respondi baixo, ela riu - eu não sabia mesmo que a senhora estava aqui.

--- Que tal tomar um café? A gente aproveita e se conhece melhor - disse saindo em direção a cozinha, a acompanhei ainda muito sem graça. A cozinha já estava tomada pelo cheiro de café e bolo fresco - eu não estava aqui, cheguei agora a pouco.

--- Eu tô muito envergonhada - disse a observando abrir os armários - posso te ajudar?

--- Não meu amor, senta ai, a governanta adora mudar as coisas de lugar - disse sorrindo docemente - meu marido queria vir ver os cavalos, e como sabia que o Jorge tava em casa vim também, ele tem ficado muito sozinho aqui nos últimos tempos.

--- Que legal isso, a senhora cuidando dele - me assustei com passos e vi um senhor que era cópia do Jorge entrando.

--- Zé, essa é Marina - ele me estendeu a mão com um sorriso tímido e eu apertei sua mão retribuindo o sorriso - Então Marina, a gente nunca para de cuidar da cria, eles crescem, casam, tem filho, descasam e a gente continua cuidando.

--- Eles sempre são pequenos pra gente - o Seu Zé disse se encostando ao balcão, bem ao meu lado - a Patiele mesmo, olho pra ela e vejo um menininha - D. Genô levou algumas coisas pra mesa que estava atrás de nós - Vem moça, vamos comer.

--- E você meu bem, tem filhos? - perguntou docemente assim que nos sentamos.

--- Tenho sim, uma moça, faz quinze esse ano - ele me olharam abismados, sorri por já estar acostumada com a situação - espero sempre poder cuidar dela também, muito bonito isso.

--- Uma moça mesmo, quase a idade da minha outra neta, a Nicole - ela disse sorrindo.

***

Engatamos em um papo muito bom, eles eram divertidíssimos. Depois de uma meia hora eis que aparece Jorge, mais constrangido que eu, na cozinha. Ele parou ao meu lado de braços cruzados.

--- Eu vou querer saber o que ta acontecendo aqui? - ele perguntou e todos rimos - Bença mãe, bença pai - ele disse dando um beijo no alto da cabeça dela e se sentou ao meu lado.

--- Filho, como que você guardou essa menina da gente? Um amor - o olhei com um sorriso tímido.

--- Ô mãe, eu mesmo acabei de achar - gargalhamos, ele encheu a xícara dele e os pais começaram uma conversa paralela sobre algum cavalo da fazendo ou coisa do tipo, ele tomou um gole generoso enquanto eu mastigava uma fatia de pão caseiro, ele se aproximou de mim mais um pouco e depositou um beijo no meu rosto - dormiu bem? ronquei muito?

--- Sim e sim - falei rindo - mas só acordei cedo por que dormimos cedo - ele sorriu - e você? ressaca bateu ou ta bem?

--- Eu dormi muito bem, com você do lado não tem como dormir mal - senti meu rosto aquecer e aparentemente isso o divertiu - me perdoa pelos roncos, bêbado é uma desgraça.

--- Você nem estava tão bêbado, Jorge - falei rindo - queria até dirigir.

--- Eu sempre quero dirigir - rimos um pouco mais alto e os pais dele se viraram para nós.

--- Vocês combinam - o pai dele falou - faço gosto - meu rosto ia ficando cada vez mais quente, obviamente eu havia perdido a capacidade de falar.

--- Zé, vai matar a menina de vergonha - todos rimos - filho, a gente já vai indo, passei só pra ver se você precisava de alguma coisa.

--- Tá cedo mãe, fiquem e almocem com a gente - eles sorriam um pro outro, mostrando a cumplicidade que havia ali - a Marina não se importa, né?

--- Claro que não, vai ser um prazer imenso poder conhecer os senhores melhor - respondi de imediato, ele todos sorriram em minha direção.

--- Eu ia adorar, mas a Pati tem um festa grande hoje e vou dar uma mão pra ela - ela disse rindo de alguma piada interna deles - bora véio?

--- Vamos sim, só preciso mostrar uma coisa pro Jorge - eles dois se levantaram e saíram da cozinha.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, cada uma terminando de tomar o seu café até que ela se levantou e começou a recolher as coisa da mesa, prontamente me levantei para ajudá-la. Senti que ela queria protestar, mas não o fez, apenas me observava em silêncio. Conheço esse olhar, é aquele olhar de análise, toda mãe tem.

Após recolher toda a louça ela fez menção a iniciar a lavagem, obviamente eu a impedi.

--- Nem pensar Dona Genô, pode deixar aí que eu lavo - disse já indo em direção a pia - a senhora já fez esse café maravilhoso, nada mais justo do que eu lave a louça.

--- Deixa meu bem, eu lavo - cruzei os braços e a encarei.

--- D. Genô, é sério - ela se recostou na pia e eu peguei a esponja - isso aqui é coisa do meu dia a dia, nada de especial.

--- Você não remete em nada as mulheres que eu ja vi com o meu filho - encarei a pia enquanto ela falava - gosto disso, as dondocas que ele já me apresentou eram um nojo - disse rindo e eu a acompanhei.

--- Vixe D. Geno, tenho nem condições de ser dondoca - falei rindo, ela pegou um pano de pratos e começou a secar as peças que eu enxaguava.

--- O que você faz da vida? - perguntou casualmente - pelo seu sotaque, sei que não é daqui - sorri com a pergunta e isso a divertiu, aos poucos o clima estranho ia se dissipando.

--- Sou de São Paulo, vim com a minha irmã pro aniversário do cunhado dela, o Juliano - notei pelo canto do olho que ela prestava atenção em tudo que eu dizia - sou advogada.

--- Jura? Eu não imaginaria nem em mil anos - disse rindo - você tem cara dessas blogueiras do instagram, bonita assim ia fazer muito sucesso na internet viu, é o sonho da Nicole, a minha ex nora incentiva muito ela com isso.

--- Não tenho muito pique pra internet não D. Genô, na minha fase disso eu ja tava sendo mãe, cuidando de casa, conciliando estudos - respondi rindo - mas minha filha gosta muito.

--- Você não vai perguntar da minha ex nora? - desliguei a torneira e a olhei.

--- D. Genô, não tem nada que eu precise saber sobre a ex esposa do Jorge - ela cruzou os braços e me encarou, com uma genuína curiosidade estampada no rosto - conheci seu filho a dois dias, se tiver algo pra eu saber ele vai me contar, eu jamais faria esse tipo de pergunta capciosa pra senhora.

Antes que ela pudesse responder eles voltaram pra cozinha, Jorge nos encarou com uma sobrancelha erguida.

Pergunta bobaWhere stories live. Discover now