Pergunta boba

Capítulo 15

CAPÍTULO 15

19 de janeiro de 2020, 10h40 - Aeroporto Santa Genoveva - GO

Marina

O longo trajeto até aqui havia sido muito silencioso, estávamos ambos perdidos - ou presos, sei lá - nos nossos próprios pensamentos. Me despedir de um Davi sonolento tinha sido muito difícil e doloroso, ficamos apenas dois dias juntos, mas aquele garotinho havia roubado uma boa parte do meu coração, sem contar é claro, a outra parte - aquela que seria despedaçada, muito em breve - que eu havia entregue pro pai dele. Burra eu? Talvez, mas a burra mais apaixonada e feliz desse mundo.

Chegamos no aeroporto e ele parou o carro na área reservada para embarque de aviões particulares - ele era muito conhecido aqui, então ninguém criou nenhum tipo de problema - e o silêncio, pela primeira vez desde que nos conhecemos, estava irritante.

--- Jorge, fala alguma coisa pelo amor de Deus - falei me virando pra ele, que me olhou com um sorriso meio contido nos lábios.

--- Não quero me despedir de você - senti um nó se formar na minha garganta, tudo havia mudado drasticamente depois dele dizer o que sentia, e mesmo que eu ainda não tivesse retribuído a frase, estava claro que eu me sentia da mesma forma - não queria que você precisasse ir embora, não sei como que vai ser acordar sem você do meu lado.

--- Nossa, uau - falei e isso o fez rir - não queria ter que te deixar, parece que meu coração está prestes a ser arrancado do meu peito, sabe, não era pra estar doendo tanto... tenho tantos motivos pra ir, mas você me deu tantos motivos pra querer ficar - falei já com lágrimas escorrendo dos meus olhos.

--- Amor, não chora - me inclinei em sua direção e me apoiei em seu peito - vou te ver em breve, é egoísta da minha parte te querer aqui - sorri com a sua frase, ele sempre tentava carregar o mundo nas costas - isso aqui que a gente tem é forte, eu sinto, e vai longe.

--- Eu espero que você esteja certo - disse e senti o coração dele acelerar de leve, ele ergueu meu rosto e me beijou delicadamente - to apaixonada por você - separamos o beijo sorrindo, como dois adolescentes apaixonados, senti meu celular vibrar e era uma mensagem da Karina avisando que eles estavam chegando - vou sentir saudade demais! Meu Deus, por que deixou eu me apaixonar por um homi de tão longe, hein? Vamos ter uma conversa séria hoje, viu! - falei rindo e olhando pro céu, ele gargalhou.

--- Sabe por que? Por que eu só tem aqui em Goiânia - nos beijamos mais uma vez e a única coisa que eu sentia era vontade de congelar esse momento.

--- Posso te pedir uma coisa? - ele sorriu grande, aquele sorriso que enruga o canto dos olhos, e assentiu - vamos tirar uma foto? Preciso disso pra lembrar que foi tudo real.

--- Isso é pergunta que se faça? - ele me puxou rindo e pegou o celular abrindo a câmera frontal, tirou a foto e nos beijamos mais uma vez.

Depois de alguns minutos ali abraçados escutei um barulho de carro ao nosso lado, Karina e Henrique desceram e nós também, de um modo geral todo esse processo foi silencioso. Depois de colocar as malas no avião eles se despediram do Jorge e embarcaram, nos dando alguns minutos de privacidade antes da decolagem.

--- Promete que não vai dirigir bêbado? - perguntei abraçada a ele, com um nó imenso na garganta, mas segurando o choro.

--- Promete que não vai enlouquecer? - sorri ainda abraçada a ele - se você prometer eu também prometo.

--- Vou sentir saudade - nos beijamos demoradamente - preciso ir.

--- Me avisa quando chegar - separamos os corpos mas mantivemos as mãos dadas, caminhamos até a escada de entrada do avião. Lhe dei mais um selinho e comecei a subir. Quando cheguei na porta ele me chamou - Mari, te amo. Não esquece!

--- Também te amo, até breve!.

O comissário fechou a porta e fui me sentar na cadeira atrás da Karina, deixei algumas lágrimas silenciosas rolarem e escutei o Henrique sussurrar pra minha irmã "é o primeiro tchau deles, deixa ela... você lembra como é, né?" .

Respirei fundo e desejei com todas as minhas forças que realmente fosse somente o primeiro.

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