Capítulo 02

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Jorge - Goiânia, 10 de Janeiro 2020.

--- Olha irmão, não tenho mais idade e nem fígado pra isso - falei rindo para um Mateus jogado no chão do estúdio que ficava na casa dele - juro que parei de contar as cervejas quando esvaziamos o freezer pela segunda vez.
--- Olha pelo lado bom - ele se sentou e pela primeira vez essa semana ele estava mais bêbado que eu - temos um álbum novo, prontinho pro fim das férias.
--- Esse tá sofrido viu, não vai sobrar um corno vivo - gargalhamos e me levantei - vou pra casa, tenho que buscar o Davi amanhã cedo.
--- A Marcella saiu com a Fernanda ontem, disse que ela tá bem, que perguntou de você - falou meio receoso, afinal foi nesse estúdio que eu fiquei na semana que ela me deixou, escrevendo e bebendo.
--- Ainda não vi ela pessoalmente desde que... "Cê" sabe - comecei a juntar minhas coisas e podia sentir os olhos dele me queimando - Já tem o que? Uns seis meses? Eu tô bem.
--- Tá nada, essas folhas de papel aí provam isso - falou rindo olhando pra pilha de papel onde estavam as novas musicas, lhe lancei um dedo de meio que o fez rir ainda mais alto - mas aí, você vai lá pros meninos no fim de semana?
--- Vou nada, combinei com ela de ficar com o Davi até segunda - sorri de lado - irmão, como sempre, foi um prazer.
--- Você sabe que pode vir pra cá, né? - revirei o olho - é sério, você é da família.
--- Mateus, relaxa, eu não vou me enforcar no pé de manga e nem vou ficar nos puteiros da beira da estrada - falei rindo - vou é descansar, porque fevereiro tá aí e a nossa rotina vorta, graças a Deus.
--- "Cê" que sabe, a Marília  convenceu a Marcella - nos abraçamos e fui indo em direção a porta - se mudar de ideia vamos estar lá.
--- Beleza, mas acredite, Jorginho aqui não está pra festa - sai dali rindo, mas louco pra chegar em casa.
    A estrada de terra que levava até a fazenda já estava escura e só se via ao longe as luzes da casa acesas, confesso que o peito apertou quando lembrei que estaria sozinho naquela casa enorme, é uma merda quando as escolhas dos outros mudam a nossa vida.

Flash back on

cheguei de mais um fim de semana de shows, estava morto e o pouco de energia que eu ainda tinha o Davi tinha consumido me fazendo de cavalinho. Fora ele, todo o restante da casa estava estranho, silencioso. 
A babá levou o Davi pra cama, algo que eu estranhei, minha mulher sempre fazia questão de fazer isso, e eu subi para o quarto. Ao entrar me deparei com uma pilha de malas e me senti horrível por não me lembrar de alguma viagem planejada.
A minha ficha só caiu quando ela veio do banheiro com uma feição séria, bem diferente da que ela costumava carregar nas minhas chegadas. Ela estava indo embora, e mesmo que eu não soubesse o motivo, com certeza a culpa era minha. Nos encaramos e me sentei na cama, um nó se formava na minha garganta, mas engoli o choro e a esperei falar encarando o chão.
--- Eu não sei por onde começar - ela falava com uma voz trêmula, eu permanecia encarando o chão com medo de a olhar e encontrar meus erros estampados no rosto da mulher que eu amava - olha pra mim? por favor.
--- Experimenta começar pelo início - ergui o olhar, ela puxou a banquetinha da penteadeira e sentou de frente pra mim - onde foi que eu errei? Como foi que eu destruí minha família, Fernanda? 
--- Não tem nada a ver com você, Jorge - ergui uma sobrancelha e a deixei continuar - eu to indo embora por que eu não mereço você, eu não mereço seu amor, não mereço sua fidelidade, não mereço nada do que juramos no altar lá fora...
--- Para de bobeira amor - toquei seu rosto, onde já havia um rastro de lágrimas - você merece muito mais...
--- Jorge, eu tenho outra pessoa - meu coração parou, retirei minha mão do seu rosto e a olhei sem ter certeza de que tinha escutado certo.
--- Como é que é? - talvez minha voz tenha subido um tom - você está me dizendo que tem um amante, Fernanda? 
--- É isso, eu não posso mais - as lágrimas escorriam no meu rosto - por isso eu to indo embora, você merece alguém melhor - voltei a encarar o piso - vou levar o Davi pra um hotel em Goiânia até eu arrumar um lugar...
--- Você não vai pra hotel nenhum, meu filho não vai passar por isso - levantei da cama secando o rosto - fica aqui uns dias, pede pra alguém dar um jeito na casa de Itumbiara.
--- Me perdoa, você não merecia isso - escutei ela dizer quando eu já estava na porta do quarto.
---- Eu sei - saí batendo a porta atrás de mim.

Pergunta bobaWhere stories live. Discover now