☠ XII - O outro lado da luz ☠

Mulai dari awal
                                    

Elisa e Henrique a encaravam estupefatos, impressionados com a coragem da futura pirata. Haya considerou não contar o resto para não assustá-los, mas já estava na metade de sua história, não poderia simplesmente parar agora.

— Foi então que tive uma ideia não muito cristã... com sua própria adaga, decepei a cabeça de Goot e levei-a aos outros piratas, exigindo levarem-me de volta. A figura de uma garota segurando a cabeça de seu capitão em uma das mãos e a adaga ensanguentada na outra era perturbadora demais até mesmo para aqueles homens sem lei. Então, eles fizeram o que eu disse.

— V-você decepou... a cabeça...? — gaguejou Elisa, trocando um olhar horrorizado com Henrique.

— Apenas fiz o que era necessário para sobreviver. Em meio ao desespero, fazemos qualquer coisa. Você também faria!

— Não tenho muita certeza... — disse Elisa em um riso nervoso. Só de imaginar a cabeça decepada nas mãos de Haya já lhe embrulhava o estômago.

— Bem, e o que aconteceu depois? — quis saber Henrique. — Você disse que sua carreira de pirata se iniciou ao ser levada à força para o mar, mas se eles a levaram de volta...

— O novo senhor da mansão de Eglinton não me aceitou de volta — cortou ela em tom amargo. — Ele culpou-me pelo ataque dos piratas e baniu-me da cidade, o maldito idiota. Eu me casaria com ele anos mais tarde, mas isso não vem ao caso... O fato é que, sem um lar para retornar, os piratas aceitaram-me em seu bando. Louis Johnson, o novo capitão, disse-me estarem gratos por tê-los livrado da crueldade de Goot e que me ensinaria a lutar e a navegar.

— Louis, como o seu filho? — arriscou-se Elisa.

— Sim — Haya sorriu. — O velho Louis foi para mim o pai que nunca conheci. Ensinou-me tudo de que precisava para sobreviver no mar, levou-me à ilha de Nova Providência e apresentou-me a piratas famosos, como Skyller e John Fox. Mas a nossa parceria não durou muito. O navio de Louis sofreu um naufrágio a caminho de Cabo Horn, eu fui uma das únicas sobreviventes e por um milagre consegui chegar à orla do Cabo ainda semiconsciente. Foi então que conheci James...

Haya voltou ao tom amargo na última parte de sua fala, então encarou Elisa e Henrique, que continuavam a olhá-la em expectativa.

— Mas isso também não vem ao caso — suspirou ela. — Estou tagarelando sobre o meu passado quando devíamos estar discutindo o presente. — Seus olhos cravaram-se em Henrique. — O que era aquilo que roubou de Skyller? Você sabe que arriscou-se demais ao pegá-lo, não sabe?

Henrique remexeu-se em desconforto, desviando o olhar para Elisa, que o incentivava com um gesto brando. Não sabia bem o porquê, mas tinha a sensação de que Haya não era como os outros piratas.

— Tudo bem — concedeu ele, puxando o caderno do interior de sua jaqueta. — Mas eu não o roubei, o diário sempre pertenceu a minha família.

Haya esticou-se para pegá-lo, e ao fazê-lo, sentiu um estranho formigamento ao redor de seu bracelete.

— O que foi? — preocupou-se Elisa, porque ela tinha congelado no lugar.

Haya lutou para afastar os pensamentos de seu braço e concentrar-se no diário. O formigamento devia ser apenas impressão.

— Nada — garantiu ela, investigando as páginas do caderno. — Eu nunca soube que William Kidd tinha escrito um diário, embora isso fosse uma prática comum entre os piratas. Eu mesma escrevi um enquanto estive presa, esperando ser executada. É claro que ele se perdeu quando Skyller explodiu o prédio...

Sua voz foi sumindo ao concentrar-se na narrativa do pirata.

— Ele estava preso também... deve tê-lo escrito em seus últimos dias de vida...

Libertália: Raízes PiratasTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang