☠ X - À meia-lua ☠

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Quando Zaki disse que iriam ver a sua avó, Elisa imaginou que ela seria uma senhora idosa, gentil, bondosa e de vestes simples, uma espécie de anciã a quem todos consultavam quando precisavam de algum conselho. Jamais esperava encontrar o que via agora em sua frente: uma mulher negra de meia idade, altiva, com um rosto que emanava poder por onde passava. Ricamente adornada com pulseiras, braceletes e colares, suas roupas poderiam ser a de alguma rainha africana perdida no tempo.

— Vó? — chamou Zaki. — Temos visitas.

Ela virou-se para o grupo, os grandes olhos negros fixando-se aos de Elisa de forma perturbadora. Talvez fosse porque encarava a mulher com o choque estampado na face, ou talvez porque sua boca permanecia aberta, em uma involuntária expressão de fascínio.

— Você esperava que eu fosse feia.

Não era uma pergunta. Elisa contorceu-se em desconforto, forçando-se a sair de seu estado de torpor. Suas bochechas coraram de vergonha.

— Não esperava, não — mentiu ela, desviando o olhar.

Sem se abalar, Makanda sorriu para o grupo, indicando o interior da cabana em um gesto convidativo.

— Entrem! Sejam todos bem-vindos à minha casa.

Henrique e Elisa trocaram um olhar desconfiado, mas como Nadine e Eric já se adiantavam, não tiveram outra opção a não ser segui-los.

O interior da cabana era um cômodo simples, com apenas uma cadeira ao centro, onde a mulher sentou-se majestosamente. A luz do sol entrava pelas frestas de palha, projetando uma iluminação fantasmagórica, e o cheiro impregnado de ervas fortes completava a aura sobrenatural do ambiente. Um enorme tapete de pele de leopardo estava esticado à frente, onde Makanda os convidou a se sentarem. Apesar de improvável, Elisa forçou seu cérebro a acreditar que aquilo não era um animal morto de verdade. Só assim conseguiria se sentar ali.

— Bem... o que os trazem tão longe da vila?

— Makanda, coisas estranhas vem acontecendo na ilha desde que estes dois chegaram — disse Nadine em tom acusatório.

— O que não é culpa nossa — protestou Henrique.

— Talvez não diretamente — tornou ela. — Mas não podemos negar que a magia da ilha mudou quando conseguiram atravessar a fronteira. Algo de muito errado está acontecendo aqui.

Os olhos de Makanda faiscaram para a garota.

— Explique-se melhor. Há algo de estranho que presenciaram? Ou a sua magia tem se manifestado de maneira estranha?

— Não senti nada de diferente com a minha magia — disse ela um pouco decepcionada, como se o seu dom tivesse a obrigação de lhe dizer o que estava acontecendo. — Nós encontramos um garoto estranho no meio da floresta, ele nos levou até a gruta do tesouro.

— Um garoto? — Makanda franziu a sobrancelha.

— Sim, eu nunca o vi antes, mas ele disse que conheceu o meu pai, o que nos leva a acreditar que ele seja nativo da ilha e só agora se manifestou — agitou-se Nadine, encarando Makanda com mais intensidade. — Diga, Makanda: acha que o que ele disse é verdade?

Elisa não podia deixar de sentir-se desconfortável ao lembrar-se de Omar. Por que ele lhe parecia tão familiar quando ninguém mais na ilha parecia conhecê-lo? Fosse como fosse, ela resolveu guardar essa informação para si mesma até que estivesse certa sobre a sensação que tinha do garoto.

— Não faço ideia. Mesmo depois de tanto tempo, a magia da ilha ainda nos é estranha e o espírito de seu pai nunca se manifestou desde... desde muito tempo, mas acho que essa é uma boa oportunidade para tentar contactá-lo novamente. Se ele apareceu para esse garoto, pode se manifestar para você também, só assim poderemos obter algumas respostas.

Libertália: Raízes PiratasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora