☠ XII - O outro lado da luz ☠

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Toda a costa oeste da ilha tinha sido tomada pela agitação dos piratas, que andavam apressados de um lado a outro, carregando suas armas e gritando uns com os outros, ansiosos e animados. Tinham consciência de que poderiam morrer em batalha, mas a expectativa de que finalmente algo de diferente iria acontecer para os tirar do marasmo eterno em que estavam incrustados era maior que o medo da morte.

Em meio ao rebuliço, Skyller corria por entre suas forças para certificar-se de que tudo estava bem. Louise já iniciara a evacuação de mulheres e crianças, e sua primeira ordem era que os piratas lhes dessem cobertura até que todos estivessem em um local seguro. Ele não podia se descuidar de nenhuma de suas frentes.

— Skyller, precisamos de algo para surpreendê-los — disse a voz de Sarah por suas costas. — Fox é ardiloso.

— Não precisa me dizer isso, Sarah, eu o conheço muito bem — tornou ele, virando-se para ela inabalável. — O caminho da gruta está seguro?

É claro que o tesouro e a ampulheta seriam sua maior preocupação, ambos deram tudo de si para protegê-los até aquele momento.

— Ninguém conseguirá cruzar a linha até ela, eu mesma preparei uma armadilha com bombas. A menos que queiram acabar sem as pernas, não ousarão se aproximar.

Skyller assentiu seriamente.

— Ótimo. Não se esqueça que James Blythe está com ele. Ele pode ser ainda mais perigoso que Fox.

Sarah soltou uma gargalhada de escárnio, desembainhando sua espada e passando um dedo por sua lâmina.

— James e eu temos um longo histórico. Minha lâmina adorará terminar o serviço que começamos anos atrás.

Skyller trocou um olhar de cumplicidade com ela, sorrindo em satisfação. O desprezo que sentiam por Blythe era recíproco.

— Agora preciso preparar aquela surpresa para Fox — confabulou ele, esquadrinhando o mar à sua frente com os olhos. — O Revenge ficará de tocaia, oculto por aquelas rochas, com força de fogo total. Eles não esperarão um ataque vindo daquela direção, pelo mar.

Um sorriso malicioso brincou pelos lábios de Sarah. Não podia negar que gostava daquela aura de combate. Podia sentir o cheiro da batalha se aproximando, sempre uma oportunidade para mostrar do que era feita. Ver os homens caindo aos seus pés, um a um após serem abatidos por seu sabre, era um prazer inconfessável.

— Vamos lá, então — encorajou ela, erguendo sua espada. — Venceremos mais essa!

— Não cheguei até aqui para entregar tudo o que conquistei a John Fox — reforçou ele, com a expressão mais sombria de que Sarah se lembrava.

Agora restavam apenas pouco mais que seis horas. Skyller afastou-se para preparar o navio, seu trunfo final. O Revenge, o mesmo galeão que os levara até a ilha, não só era um bom navio de cruzadas, mas também uma máquina de guerra impressionante, e apesar de muito tempo ter se passado desde sua última batalha contra Garret, ele permanecia quase que em perfeito estado. Ao observá-lo da enseada, seu capitão não passava de um ponto irregular diante de sua grandeza. Skyller tinha certeza de que podia vencer Fox com ele, seu velho companheiro de aventuras.


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Após uma longa caminhada, Haya finalmente parou às margens de um pequeno riacho para se lavar e comer, o que Elisa agradeceu. Logo ela tinha se recomposto, não mais restando vestígios de sua jornada anterior.

Libertália: Raízes PiratasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora