Meu corpo é o templo do prazer... E da culpa - I

51K 5.7K 8.7K
                                    

💋

Nunca imaginei como seria o meu futuro ou planejei-o, talvez a minha sede humana fizesse-me opor-me ao desconhecido, forçando-me a viver um dia de cada vez, lentamente.

Quantas coisas são capazes de nos tirar a paz, quantos vínculos perpétuos e indivisíveis, quantos vícios podem nos possuir, domar-nos, algo capaz de corroer-nos por dentro e fazer-nos questionar quem realmente somos.

Qual é o seu vício? O que te instiga a viver?

Roer as unhas, puxar a pele ressecada dos lábios, batucar, estalar os dedos, fumar, jogar, beber, comer.

Meu vício é diferente, eu sou insaciável, minha gana por sexo me torna bastante esquivo, cega-me, com uma força apta para fazer-me arrancar a minha própria carne e lançar-me à pura ruína, em nome de uma única coisa: o desejo.

Genuíno almejo carnal e blasfemo, que faz o meu corpo ferver como as brasas do inferno e que traz-me a paz do céu.

Meu sexo me levou para muito longe, e não sei se posso me orgulhar profundamente da minha jornada, mas garanto que jamais faria diferente.

Os demônios que habitam-me são como anjos divinos, que buscam a profana e eterna alegria em um simples tocar na intimidade, na exploração do próprio corpo, com o sexo mais quente, suado, molhado e delicioso.

Durante muito tempo, meu tesão fôra um problema, mas, nos últimos anos, mostrou-se a solução para essa melancolia infinita que me recobre.

Eu sou assim e não há ambiguidade em nunca estar saciado.

[...}

O destino, às vezes, nos leva para caminhos inusitados.

Sabe quando há momentos em que nada mais faz sentido em sua vida? Quando parece que todos os elementos que te mantém em pé caem como meras pedras de dominós, naquela sincronia absurda, que até deixa um questionamento apático no ar.

Bem, é exatamente assim que sinto-me.

Penso que, talvez, eu tenha movido a peça errada no xadrez e levei um xeque-mate distraído. Talvez eu realmente tenha sido o causador da minha própria fatalidade.

Quando a Clarice Lispector disse para termos cuidado na hora de cortarmos nossos próprios defeitos, ela tinha razão. É muito possível que eu seja o responsável pelo desabo do meu próprio edifício. Puxei a corda bamba que me mantinha em equilíbrio e tudo desmoronou.

É, talvez seja culpa minha.

A luz forte atingiu meus olhos escuros com certa violência, forçando-me a fechá-los em um impulso breve; porém, rapidamente voltei-os para frente, cerrando os meus cílios arruivados. Era apenas mais uma câmera em minha direção.

Nunca gostei de câmeras, flashes ou ser o centro total das atenções, conquanto, ali estava eu, servindo de corpo culpado, diante de um mar de pessoas. Sentindo os olhares secos, desgostosos e pesarosos; estavam sedentos por algum tipo de justiça.

Pergunto-me: como todos poderiam enxergar esta posição como algo justo? Aquelas premissas do artigo onze: "Todos são inocentes até que se prove o contrário". Não funcionou para mim.

Varri meus luzeiros, de modo tão metódico que meu coração insistiu em bater com mais brutalidade; apesar da ansiedade que isso me causou, fez=me recordar que ainda há vida por entre essa carne que chamo de corpo. Ainda sou um ser humano, seja com pouca ou muita dignidade, permaneço sendo um igual entre todos.

Analisei pautadamente a grande sala intimidadora, cheia de pessoas importantes e outras nem tanto.

Eu achava-me preso entre um mobiliário de audiência marrom carvalho escuro, e um banco de acolchoado frouxo. Sentado ao lado direito do juiz, e o juiz ao lado esquerdo do escrivão.

INSACIÁVEL • jjk + pjmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora