Treze pássaros azuis - IV

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Entre tantas reflexões, pensamentos vis, acontecimentos errôneos, propósitos insolentes, levantei um questionamento equivalente e bruto; que despedaçou-me e converteu-me à miúdos grãos. Que me dividiu como joio e trigo, bom e mau, benemerente e indigno.

Sem nenhuma cautela, causando uma confusão letal, infernal e psicanalítica. Tal inquirição erudita ecoava e ressoava dentro de um corpo vivo-morto, nas entrelinhas de uma esperança manchada e quase desesperançosa; todavia, tudo tão enciclopedista que deve ser dito: Em que espelho ficou perdida a minha face?

Posso afirmar, com toda propriedade obtida através de experiências irredutíveis e pouco favoráveis; também sou capaz de utilizar um modo poético, quem sabe uma linguagem banal e artística ou simplesmente seguir uma sapiência que zomba de minha própria desgraça, como se fosse cômico o estado em que estou; igual a ser justo com quem foi injusto. Semelhante à causa e efeito, isto... o trágico karma.

Cecília Meireles poderia facilmente recitar para mim seu edulcorado e lancinante poema, denominado como "Retrato".

É resplandecente, congênere à água cristalina, que não reconheço mais o meu rosto, minhas expressões, tudo esvaiu-se. Franzo o sobrolho e nem incompreensão consigo transmitir; meu olhar carrega um sopro vazio e até minhas labiosas são amargas. Sinto minhas mãos trêmulas paradas, sem força e sei que o meu coração bambo brinca de contagem regressiva comigo.

Aonde será que eu estou? Onde posso me encontrar outra vez? Me perdi dentro de mim, nesta imensidão frívola que sou, neste hermetismo profundo, neste oceano cavo. Em minha boca há apenas gosto do que fui e já não sou.

Busco, incansavelmente, o méleo garoto sonhador, o adolescente rebelde, o homem insaciável. Eu sou a personalização de uma juntura desqualificada. Isto me traz acrimônia e azedume, me arranca à paz, dia após dia.

Qualquer molécula do meu ser, cada uma delas, Min Yoongi deturpou. Tragou-me aos poucos, no convívio de sorrisos, dinheiro e mais. Entre aquele riso gengival que emanava um perigo solapado, uma bondade disfarçada, escondendo uma violência.

Ele era bom demais para ser verdade, e eu mau demais para ser mentira.

12 de outubro de 2015.

Em poucas horas terei, enfim, dezenove anos. Agora posso oficialmente fazer coisas que faço desde os quatorze, só que legalmente, exemplos: dirigir, entrar em boates, comprar bebidas alcóolicas; como minha mãe sempre diz, já posso ser preso.

Seria cômico, se não fosse trágico no presente.

Ainda é dia doze, todavia, são onze da noite. Eu nasci às exatas uma hora e treze minutos da madrugada; por esta razão nossas festas sempre começaram pela alvorada e tem seu fim ao almoço do dia treze.

Há pouco enchemos a casa com balões diversos, estou sendo literal; posso me visualizar nadando entre eles, em um devaneio infantil e tolo. Deixamos vários na varanda, igual à quem entrega um anúncio para o mundo.

Desta vez não existe um tema, conquanto casou bem, visto que esse ano todos estavam ocupados demais com seus acontecimentos pessoais, ninguém entregaria cinco minutos de suas vinte e quatro horas para decidir entre uma temática e outra. Somos seres corroídos e o significativo nunca tem nosso tempo, o importante escorre por entre nossos dedos, sem que sequer déssemos conta.

Meu dia fôra fatal, me carcomia ferozmente; pensei em Jeon praticamente em cada segundo; devo ter me tocado três ou quatro vezes nas últimas duas horas, não é controlável. Algo dentro de mim está nublado, um céu sujo, poluído. Sinto-me assim como criatura, humanamente podre.

INSACIÁVEL • jjk + pjmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora