Os Pássaros Partiram

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No templo xintoísta, no quarto do ronin, Akarui.  O homem estava pensativo, sobre duas coisas. A primeira, e também a no qual ele considerava menos importante, era sobre o que havia conversado com Aiko, e que a miko tinha pedido para ele pedir desculpas para a jovem Yoko; o portador de Hinoha tentava não pensar muito nisso, porém já tinha passado um dia sem conversar com as duas. A segunda coisa era pensando em encontrar os outros Katanas de Sangue, já havia matado um deles, faltava nove, "Onde eles estão." pensava consigo mesmo.

Para o segundo pensamento, lembrou do fato que Kyoto era a capital, portanto se fosse para palácios do governo, encontraria os Katanas de Sangue ou pelo menos informações sobre o paradeiro deles.

O ronin tentava esquecer sobre sua discussão com Aiko, mas não conseguia. Afinal ele se importava sim com ela e também com Yoko. Devido a dias viverem no mesmo lugar e interagirem quase o tempo todo, começou-se a criar um vínculo com ambas, mesmo não querendo.

Então, o Fukushū-sha decidiu que estava na hora de novamente ir atrás dos seus inimigos. Andou até o primeira andar e saiu pela porta da frente.

-Espere.- O espadachim escutou isso vindo de dentro, quando virou-se Mahina.
-Ah, você. O que quer? Eu já estou indo.- Falou o aprendiz do falecido Sato Saigo.
-Quantos ainda faltam?
-Nove.
-Nossa, ainda existem muitos ainda. Tem certeza que consegue?- Perguntou a miko.
-Está duvidando de mim?
-Estou sim.
-Então saiba que vou acabar com todos eles. Não irá sobrar nenhum!
-Você não tem medo de morrer fazendo isso? É a coisa mais perigosa que já vi alguém tentar fazer. Posso nunca ter visto nenhum deles, mas sei que possuem katanas imortais. Akarui, você sabe o poder delas, e isso pode ser demais para você.
-Você já viu um deles.
-Já vi?
-Naquele dia, onde um homem usando uma máscara de oni apareceu. Você lembra-se dele?
-Claro que lembro.- Respondeu a mulher.
-Ele era um Katana de Sangue. As duas espadas que usava eram katanas imortais.
-Nossa, não percebi.

Akarui colocou em sua cabeça o chapéu cônico, deixou a máscara de kitsune no ombro esquerdo, a sacola de dinheiro no obi juntamente com Hinoha.

-Sobre o que disse sobre medo.- Falou o ronin.- Eu não tenho medo de morrer fazendo isso. Porque eu não estou fazendo essa vingança porquê estou vivo, é a vingança que me mantém vivo. Eu não tenho medo porquê eu preciso fazer isso.

Com essas palavras, o homem, andou pela estrada, distanciando-se pouco a pouco do templo. Enquanto a sacerdotisa o olhava, a outra miko que era aprendiz de Mahina apareceu, Aiko. Ela viu o ronin andando mas já estava longe demais para conseguir escutar suas despedidas.

-Ah, não. Ele já foi...- Disse a jovem.
-Sim. Queria falar com Akarui?- Perguntou a senhora.
-Bem, eu...- Aiko ficou com as bochechas vermelhas de vergonha.- queria sim falar algo...
-o que era?
-Não vou dizer para você.
-Aiko, Aiko. Aquele homem está nos ajudando bastante, recuperando as katanas imortais. Porém, quando isso acabar muito provavelmente ele voltará para a casa dele, ou algum outro lugar. Portanto, trate ele bem, mas nada mais que isso. Além do mais, você recentemente tornou-se uma miko e sabe muito bem o que deve e não deve fazer, não estou certa?
-Sim, eu sei... Mas eu não iria fazer nada que você tá pensando!
-Garota, eu confio em você. Você vai quebrar essa confiança?
-Não, de jeito nenhum.
-Ótimo.

Aiko quando completou dezoito anos, deixou de ser uma aprendiz de miko para uma sacerdotisa de fato. E ela sempre quis isso. Mas devido a isso, teria que passar o restante de sua vida morando e cuidando do templo, além de manter sua castidade, por ser proibida a ter qualquer tipo de relacionamento sexual com alguém. A mulher até que gostava dessa ideia e não tinha problema com isso, porém sempre ficava com uma pulga atrás da orelha, por não poder possuir relacionamentos com alguém, não poderia ter filhos, algo que era um grande sonho seu.

-O senhor Yosen também já partiu?- Indagou a jovem.
-Sim. Saiu antes de Akarui. Diferente de Akarui, não sei se ele irá voltar.- Respondeu Mahina.

Ambas voltaram para o templo. Começaram a subir as escadas para o primeiro andar. Porém a mais nova quis conversar algo sobre algo com a senhora.

-E pensar que nossa família aumentou em tão pouco tempo.- A jovem mulher falou com um sorriso no rosto.
-Família?- Indagou a mais velha.
-Sim. Mesmo nós não possuindo laços sanguíneos, você considera a mim e Yoko como família, não?
-Claro que sim. Já falei antes vez que vocês duas são como filhas para mim.
-Sim eu lembro. Mas, Matsu e a irmã dele, Hinata. Você também os considera como família?
-Eles ainda são novos aqui. Mas não possuem lugar para morar além daqui. Eu vou cuidar dessas crianças como se fossem minhas. Agora vão ficar aqui e irei ensina-los muitas coisas.
-Então a resposta é sim?
-Sim. Essa é minha resposta. Os considero como família
-E o senhor Akarui e o senhor Yosen. Você os considera como parte da família?

As duas haviam acabado de chegar ao segundo andar, e andavam agora até a cozinha. Quando a miko mais velha escutou isso, parou de mover-se.

-Como assim? Por que consideraria eles?- Respondeu Mahina.
-Mas os dois são importantes. E também ficam aqui.
-Eles estão apenas por enquanto. Yosen mora em outro lugar; Akarui não me disse onde vive, mas sei que irá embora quando terminar o que está fazendo.
-Então por isso não podemos considera-los como se fossem parte de nossa família? Só porquê não vão ficar aqui para sempre?
-Sim. E também não possuímos parentescos com os dois.
-Você, assim como eu, assim como todos. Não tem parentesco algum com ninguém. A única exceção é Matsu que é irmão de sangue de Hinata. Mas todo o restante, não possuí nada.- Falou a jovem com convicção

Ficou um silencio de alguns segundos entre elas, depois dessa frase.

-Verdade.- Respondeu a mais velha.- Me expressei mal. O que quis dizer é que, eles não vão morar aqui. Já possuem as próprias famílias e casas. Estão apenas de passagem, passagem essa que provavelmente nunca retornarão. Compreende?
-Acho que entendi.
-Eu digo isso de Yosen, pois Akarui não fala nada sobre ele. Tentei perguntar mais sobre seu passado, se tinha família, casa ou qualquer coisa. Porém, não responde nunca.
-Eu também já tentei. Por que será que o senhor Akarui não responde?
-Não sei. E prefiro não insistir em perguntar. Recomendo que faça o mesmo.

Próximo delas, em um dos quartos do lugar. Estavam as crianças, Matsu, Yoko e Hinata. Conversavam para passar o tempo.

-Matsu, quando crescer e for adulto, o que tem vontade de fazer? Tem algum sonho?- Perguntou a aprendiz de miko.
-Eu não sei. Acho que nunca parei para pensar nisso.- Respondeu Tokugawa.
-E você Hinata? Tem algum sonho de vida?
-Ah, eu... eu não sei.- Respondeu a garota.
-Sério isso!?- Yoko ficou revoltada com as respostas.- Sonhos servem para se ter um objetivo na vida. E isso é algo bom.
-Passei muito tempo vivendo na rua, apenas eu e ela. Depois disso eu comecei a focar mais no momento de agora do que no futuro.- Respondeu Matsu.
-Compreendo o seu motivo. Mas ainda não é razão para não ter sonhos.
-Por que é tão apegada a isso?
-A vovó me disse uma vez, "Uma vida bem vivida é aquela onde realiza-se todos os seus sonhos.".
-Mas quando a pessoa alcança-se o sonho e realiza-o. Logo em seguida não teria outro? Então é impossível realizar todos.
-Eu sei... Mas quando mais perto chegarmos melhor, não é mesmo?
-Talvez...

A pequena Hinata escutou a conversa, porém mal entendeu a situação.

-E espadachim?- Indagou Yoko.
-Como assim?- Perguntou Tokugawa.
-Você tem vontade de se tornar um espadachim? Como o senhor Akarui, por exemplo.
-Não... para ser algo assim é preciso ser corajoso. E eu não sou nem um pouco. Fujo de tudo. Sou um covarde.
-Não!- Falou Hinata.- Irmão você não é covarde. Você é a pessoa mais corajosa que conheço.
-Obrigado Hinata. Mas só está falando isso porquê é minha irmãzinha.- Respondeu Matsu.
-Não é por isso!
-É sim. Eu sei.


Katanas de SangueWhere stories live. Discover now