Aurora, um nome nada convencional para a época, está em sua primeira temporada. Não que ela precise, até porque já está prometida para um marquês, mas sua mãe insiste para que ela tenha a experiência de debutar. Contudo, seu noivo, desde a infância...
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— Charles! Me escute não é o que você está pensando.
Ele continuou sem olhar-me nos olhos. Pedi para Sebastian ficar no estábulo que eu conversaria com Charles sozinha. Era melhor ele escutar somente a mim. Mas não posso negar que eu estava aflita por medo dele não acreditar em minhas palavras, eu não queria o perder. Não queria me afastar dele. Após tanto medo e tanta negação eu havia finalmente entregado meu coração a ele. E ele não podia reivindicar o direito de cuidar dele, não sem antes me escutar.
Já estávamos a beira do lago da casa. Minha vontade era de joga-lo lá dentro. Qual era a dificuldade em parar e me escutar? Tenho certeza que nenhuma parte do corpo dele cairia. Ele até poderia estar chateado, mas não me escutar era totalmente errado. Tirar suas próprias conclusões não o ajudaria em nada e ele apenas ficaria com mais remorso de mim. E pior, sem reais motivos.
— Quer saber de uma coisa... Eu cansei. Não vou ficar correndo atrás de você tentando me justificar. Eu sei muito bem que não aconteceu nada de mais dentro daquele estábulo. Minha consciência está limpa!
— Eu volto antes de o prometido para te fazer uma surpresa, e é assim que você me agradece? Obrigada pelas boas-vindas! — Ele falou em um tom irônico e era possível notar a raiva em sua voz.
— Não aconteceu nada naquele estábulo! Ele é um amigo de infância e me abraçou e beijou. Na bochecha. Ele me beijou na bochecha. — A esse momento eu já parara de andar. — Se você não confia em mim realmente não deveríamos nos casar. — Gritei por conta da distância já considerável.
Me segurei para não derramar nenhuma lágrima. Eu não podia chorar por alguém que não acreditava em mim e em meus sentimentos. Segurar o choro sempre era pior, mas chorar naquele momento também não me ajudaria em nada. Você é forte, Aurora! Eu tentava me convencer.
Uma tempestade forte começou a desabar do céu. Meu vestido começou a ficar encharcado muito rápido. Charles parou por alguns segundos, ainda de costas para mim, mas voltou a andar e foi embora. As minhas últimas palavras ditas não saíram da boca para fora, eu realmente pensava aquilo. Por que eu iria me casar com alguém que não confiava em mim? Eu não queria um casamento moldado em cima de desconfianças e mais desconfianças.
Me virei de frente para o lago, a chuva se intensificava cada vez mais. Lembrei da minha vó, a mãe da minha mãe. Ela adorava a chuva e tinha infelizmente falecido quando eu ainda era criança. Ela também tinha me ensinado a apreciar essa obra-prima. Os pingos entrando em contato com a minha pele, meus cabelos começando a ficar pesados por conta da água. O frio da brisa que passava entrando em contato com meu corpo me faziam arrepiar. Virei-me para a casa e observei a água da chuva escorrer pela soleira da porta. E então um trovão. O barulho de um grande e alto trovão ecoou e eu me assustei. Um passo para trás e quando vi já estava caindo.
