Capítulo 21

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✿*:・゚LEMBRANÇAS ゚・:*✿

Lembro-me que, quando ainda crianças, vivíamos a pregar peças na senhora, Liz, a mãe de Sebastian

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Lembro-me que, quando ainda crianças, vivíamos a pregar peças na senhora, Liz, a mãe de Sebastian. Sem contar todas às vezes que comemos todos os biscoitos feitos por ela e culpamos o cachorro da casa. O coitado como não podia se defender saia como o errado na história, todas às vezes. Lembro-me que houve uma vez em que papai recebeu visitas, na casa de campo, e pediu para servirem chá. Nós dois, eu e Sebastian, como crianças espertinhas trocamos o açúcar pelo sal. O convidado de papai cuspiu tudo no chão no mesmo instante e de brinde papai ainda perdeu um grande negócio em que fecharia. Lembro-me exatamente das palavras proferidas pelo senhor:

— Deveria educar melhor essas pestes! Isso é um desrespeito com a minha pessoa. Eu me nego a ficar aqui e a fechar qualquer tipo de negócio com alguém que não sabe controlar nem ao menos crianças.

Papai, claro, ficou uma fera conosco. Mas graças aos céus nenhuma punição nos foi dada, recebemos apenas grandes reclamações. Acabei ficando arrependida e escrevi uma cartinha pedindo desculpas ao amigo de papai. Não obtive nenhuma resposta sobre a carta enviada. Então acredito que o perdão não nos tenha sido concedido.

Pelo que me lembro sempre fomos crianças espertas demais e diria que até muito petulantes. Sim! Esse era um adjetivo que nos definia bem. Petulância. Fazíamos o inferno na vida dos adultos quando íamos à casa de campo. Eu fazia o possível para tirar a paciência de mamãe e vê-la irritada. Ela não demorava muito para perder totalmente a sua postura. Ia aquela casa somente por obrigação e para supervisionar algum evento — quando se era dado. Mas, no fundo, eu sabia que ela gostava que aprontássemos, pois, ela arrumava qualquer pretexto para voltar a cada de Londres.

— Essas crianças já esgotaram a minha paciência. Hoje mesmo voltarei a Londres para ter um pouco de paz. — Ela vivia a dizer.

Eu vivia a falar para Sebastian que se eu não gostasse da pessoa com quem seria obrigada a casar-me eu acabaria fugindo. E ele disse que também, ele fugiria comigo. Em muitas de nossas brincadeiras imaginávamos viver em outro mundo, muito mais legal e justo. Um mundo onde mulheres não eram obrigadas a se casarem e onde melhores amigos poderiam morar juntos para sempre. Era um sonho bobo de criança, mas, no fundo, queríamos que aquilo pudesse ser real. Ou pelo menos uma fração daquele grande desejo. Pelo menos em parte, viver em mundo com igualdade e sem tantos julgamentos. Um lugar onde a felicidade estava nas coisas mais simples.

Uma vez lembro-me de um quase acidente que aconteceu no lago. Graças a Deus nada de ruim aconteceu de verdade. Devo destacar que se algo pior não aconteceu foi por consequência de Bash, ele sempre me protegia.

Era um dia ensolarado de verão e eu e Sebastian tínhamos acordado cedo naquele dia. Passamos o dia a brincar de correr por toda a casa, a senhora Liz juntamente a mamãe já não aguentavam mais correr atrás de nós dois. Florence havia levado uma de suas amigas chatas e elas ficaram todo o tempo trancadas no quarto brincando de bonecas. Já no final da tarde estávamos exaustos, após uma leve garoa que havia caído nos sentamos na grama ainda molhada.

— Mamãe irá querer me matar. — Falei enquanto tirava o cabelo molhado de suor das bochechas.

— E quando ela não quer? — Sebastian riu. — Mas por que você pensa que ela quer sua morte dessa vez?

— Rasguei o vestido novo que ela me deu. — Coloquei os dedos no buraco que havia ficado no vestido cor de abóbora.

— Onde?

— Aqui! — Levantei a barra do vestido para ele ver.

— Não. Onde você o rasgou?

— Na madeira solta do estábulo. Lembra que você saiu primeiro e eu demorei um tempo lá dentro? — Ele assentiu se recordando. — Demorei porque meu vestido ficou preso na madeira. Quando tentei me soltar o tecido rasgou.

— Então foi um acidente. Ela não vai te matar porque você rasgou um vestido sem querer, e esse vestido era feio mesmo.

— Não é feio nada. — Mostrei a língua para ele.

Ficamos calados por vários minutos. Apenas sentados olhando para o nada.

— Deveríamos apostar uma corrida até a margem do lago. — Sebastian me empurrou e eu dei uma cotovelada nele. — Aí! — Ele resmungou.

Tínhamos brincadeiras um tanto brutas, mas nunca chegamos a realmente brigar. Ocasionalmente surgiam discussões bobas de crianças, mas nunca passamos, mas de um dia guardando remorso um do outro. E aquilo era bom. Era bom saber que um sempre estava disposto a perdoar o outro independente da gravidade do problema. Pois, para nós dois era mais fácil o perdão do que ficar longe um do outro.

— Não sei não. Acho que deveríamos apostar corrida em outro lugar, já está ficando de noite. Pode ser perigoso.

— Você tem medo do escuro, Aurora? — Ele perguntou e eu neguei com a cabeça. — Então não tem motivos para se preocupar. Apostaremos a corrida sim.

Assenti. Até porque não tinha mais o que fazer e quando Sebastian colocava algo na cabeça não tinha quem pudesse tirar. E eu não queria mostrar para ele que era frágil. Eu gostava do jeito que ele me travava. Como igual apesar de eu ser menina. Confesso estar com medo, mas, no fundo, também queria aquilo. Então apostamos a corrida e tudo saiu bem, chegamos a margem do lago e ninguém caiu.

— Preciso ir ao banheiro.

— Tem que ser agora, Bash? Não dá para esperar nem mais um pouco?

— Prometo que será rápido. Me espere aqui que já volto. — E então ele correu para longe.

Sentei próxima à água e molhei minhas mãos. Um pouco mais cedo eu havia pegado um anel de mamãe, escondida, eu sabia ser errado, mas mesmo assim fui lá e peguei. Sequei minhas mãos no vestido e quando olhei para uma delas, a direita, vi que o anel não estava mais. Por um momento me desesperei. Mamãe certamente ficaria muito brava. Me ajoelhei e comecei a procurar com os olhos e então vi um brilho refletindo no fundo. Me estiquei mais e quase perdi o equilíbrio, senti duas mãos em minha cintura e ao olhar vi ser Sebastian. Fiquei aliviada e ele me puxou de volta.

— Quer morrer?

— Desculpa. O anel de mamãe caiu e eu pensei que poderia alcançar.

— Pensou errado, Aurora. Como uma pessoa que não sabe nadar faz esse tipo de coisa? — Ele me olhou e meus olhos se encheram de lágrimas. — Desculpa. Eu só... Tenho medo de te perder.

Continuei calada. Agora começava a ventar e a noite caia rápido. O frio percorria meu corpo e meus lábios já tremiam.

— Entre. Eu pego o anel para você. — Assenti, mas não sai de perto dele.

Tive medo de algo também acontecer a Sebastian. Por mais que ele soubesse nadar. Eu tinha medo de perde-lo.

Ele realmente conseguiu recuperar o anel de mamãe e eu tratei de guarda-lo no mesmo lugar e não pegar mais sem a permissão dela. Foi o último dia em que vi Sebastian, papai agora estava muito ocupado com o trabalho e não voltaria mais lá com tanta frequência. E eu fui esquecendo dele, do lugar e dos sentimentos, puros, de criança.

O Amor De Um Conde Where stories live. Discover now