— Pode chamar-me de Aurora, senhora. Gosto de tocar piano e ler livros. A leitura é o meu passatempo favorito.

— Pode chamar-me de Olivia, também. — Ela sorri. — Gostaria de ter tempo para a literatura. O bordado ultimamente ocupa todo o meu espaço de tempo. Você gosta de bordar, Aurora?

— Na verdade, não sei. Ainda não aprendi. Mamãe já me ensinou, mas nunca tive legítimo interesse. Se a senhora gosta tanto tentarei mais uma vez.

A porta se abre e prendemos nossa atenção à quem adentrava. Charles abriu a porta e sorriu para nós. Beijou a testa de sua irmã e depois foi ao encontro de Lily e beijou-lhe a mão. Venho ao meu encontro e também beijou minha mão, mas foi um beijo mais demorado. Senti meu rosto queimar de imediato e puxei a mão com delicadeza.

— Desculpem-me novamente pelo atraso, vim o mais rápido que pude. Perdão pela ausência ontem e por deixar as senhoritas esperando. Não foi minha intenção.

— Tudo bem. Imprevistos acontecem.
— Dei de ombros. — E Lady Olivia é muito agradável.

Ele sorriu e por fim assentiu. O clima parecia ficar cada vez mais tenso.

— Por que não leva a senhorita Beaufort para conhecer meu jardim? É muito bonito e tenho certeza que ela irá adorar. Enquanto isso conversarei um pouco mais com Lily. — A duquesa fala como se não houvesse nada de mais.

Então estava explicado a brisa de flores que invadira o ambiente um pouco antes. A duquesa possuía um jardim em sua propriedade.

— Gostaria de conhecer o jardim? — Charles pergunta olhando nos meus olhos.

— Tudo bem. Por que não?

Caminhamos para o lado oposto a entrada da casa. O jardim de Olivia ficava nos fundos da casa. Era muito bonito. Cravos, acácias e lírios enfeitavam todos os lados. As flores eram de variadas cores e eu estava fascinada com aquele lugar.

— Bonito, não é mesmo?

Charles tirou-me de meu profundo devaneio. A verdade é que estávamos muito próximos, mas eu não queria afastar-me.

— É sim. Esse lugar é maravilhoso!

— Qual a sua flor favorita?

— Não tenho uma flor favorita.

Olhei ao redor. Como alguém poderia ter uma flor favorita olhando aquela imensidão de beleza? Eu não poderia escolher só uma, todas me encantavam. De jeitos diferentes, mas mesmo assim me fascinavam.

— Você é a primeira moça que escuto dizer isso. Suponho que até a primeira pessoa. — Ele sorri de canto.

— Pode chamar-me de Aurora.

Ele assente. Se abaixa e arranca uma flor. Uma camélia branca.

— Qual o significado desta flor?

— Perfeito encanto.

Agora sim, o ar ficara pesado de vez. Ele prendeu seus olhos azuis aos meus. Por um minuto desaprendi até a respirar. Talvez fosse, por nunca ter tido um homem olhando para mim daquela forma antes. O senhor Brandon começou a dar pequenos passos em minha direção. Ficamos tão próximos que eu podia sentir sua respiração. Dá essa flor para mim, significava o quê?

Ele se inclinou um pouco mais e eu não pude evitar. Minha mão foi ao encontro do rosto dele tão rápido quanto um piscar de olhos. Quando senti minha mão de encontro a sua pele macia uma ardência tomou conta de minha palma, ele de imediato colocou a mão na bochecha onde eu o acertara.

— Você perdeu o juízo? — Ele deu um passo para trás, ainda sem tirar a mão do local atingido.

— Não pense que é porque dançamos e depois o senhor trouxe-me a um lugar bonito que eu o deixaria beijar-me.

— Oh, céus! Eu não iria beija-lá! Eu... apenas colocaria a flor em sua orelha. — Ele pronunciou as palavras com uma súbita sinceridade.

— Não ache que por ser uma mulher eu seja burra, guarde as suas desculpas sem cabimento para você. Passar bem, senhor Brandon!

Sai do jardim batendo o pé. Entrei na sala onde Olivia e Lily estavam de uma forma brusca.

— Aconteceu algo, querida? — A duquesa levantou de imediato. — Você está vermelha.

Definitivamente era de raiva!

— Pergunte para Lord Brandon. Pelo visto ele adora beijar moças sem o consentimento delas.

— Meu irmão beijou a senhorita? — Ela pareceu ficar surpresa.

— Não, porque eu não deixei.

— A senhorita tem certeza que não houve um mal-entendido? Meu irmão tem um profundo respeito pelas damas da sociedade. Não creio que ele a beijaria, ainda mais sem a sua permissão.

— Não foi um mal-entendido. Obrigada novamente pela hospitalidade. A senhora é uma ótima pessoa, mas não posso dizer o mesmo de seu irmão. Espero que nos encontremos mais vezes.

Ela assentiu parecendo ainda atordoada com a notícia. Guiou-nos até a porta e esperou até que entrássemos na carruagem.

— Charles não me parece o tipo de homem que beijaria uma moça sem a permissão dela. Mas se você diz acredito em você. — Lily declarou. — Como você impediu o beijo?

— Com um, tapa. O que mais eu poderia fazer?

— Você bateu no Conde de Spencer?

— Para ser mais exata no rosto. Bati no rosto dele. — Suspirei. — Eu apenas não raciocinei direito. A verdade é que eu não queria fazer aquilo. Mas foi o impulso do momento.

— Você tem coragem. — Ela declarou por fim.

Enquanto a carruagem andava, pedi para o cocheiro parar um pouco no Hyde Park. Eu queria andar, pensar um pouco. Descemos no parque e andamos por vários minutos. Lily disse estar ficando tarde e então tivemos que voltar para casa.

Desta vez mamãe não me encheu de perguntas. Penso que ela queria esperar até o outro dia. Sentei na sala e comecei a folhear um livro. Nosso mordomo adentrou a sala com um lindo buquê de amarílis.

— Chamarei Florence. — Levantei-me e fui em direção às escadas.

— Não, senhorita. O buquê é para você. Aqui está escrito, Aurora Beaufort.

Fiquei sem palavras por um minuto. Será que o Marques havia mandado-me flores? Mamãe foi mais rápida que eu. Antes mesmo de eu cogitar a ideia de descer os degraus — nos quais eu já havia subido alguns — mamãe pegou o buquê e depois o cartão.

— Ande. Leia!

Peguei o cartão e abri devagar.

"Aurora Beaufort,

Como a senhorita disse-me que não tinha uma flor predileta resolvi mandar a que mais me chamava atenção. Receba como um pedido de desculpas pelo mal-entendido, apesar de eu não ter culpa. As amarílis significam orgulho e beleza. Penso que são características que definem bem sua personalidade.

Charles Brandon."

Fechei novamente o bilhete e mamãe perguntou-me do que se tratava. Contei o que havia acontecido, mas omiti algumas partes como a de andarmos sozinhos pelo jardim e a do quase beijo. Ela por fim assentiu e disse-me que eu deveria agradecer o senhor Brandon pelas flores. Concordei em agradecer apenas pessoalmente, se eu ainda o visse. Eu não queria ser insensível ao mandar apenas uma carta, era certo que eu devia a ele um pedido de desculpas.

Mas o que não saia de minha cabeça era o questionamento. Será que eu havia me precipitado? Charles realmente não iria beijar-me? Eu esperava que não tivesse me enganado e distribuído um, tapa sem razão na cara de um Lord. Mas se venho a acontecer foi porque certamente ele mereceu. Ele não deveria ter se aproximado tanto enquanto estávamos sozinhos.

O Amor De Um Conde Where stories live. Discover now