oito

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Tranco meu portão sob olhares de meus vizinhos. Compreendo a preocupação de todos e agradeço, mas não sou quadrada e vou ficar bem. Me despeço de Raquel com um abraço. Logo sua mãe me abraça.

— Se precisar fica lá em casa, pode ir. — ela murmura em meu ouvido.

— Obrigada. — agradeço e vou em direção a Renan.

Ele pega minha mochila, põe no guidom e me ajuda a subir na moto.

Sempre soube onde o menino dos meus sonhos mora, mas nunca entrei em sua casa. Por fora é aceitável comparada a minha. Ele estaciona em frente sua casa, eu desço. A rua estava pacata. Estou com vergonha de entrar em sua, de falar com seus familiares, estou c vergonha dele. Que situação mais desagradável. Ele abre o portão e faz sinal para eu entrar, assim o faço. Passo pela pequena varanda e logo Renan abre a porta. Ouço o som da televisão, estavam assistindo novela.

Paro atrás do mais velho quando o mesmo freia sua caminhada.

— Cade minha mãe? — Pergunta a alguém.

Quando ele sai de minha frente vejo que a pessoa sentada ao sofá, era uma menina de minha escola. Novidade? Ela é uma das que me apelidaram.

— Tá na cozinha. — informa me fitando.

Renan pega em minha mão e me guia para a cozinha. A casa é bonita, nada luxuosa, mas havia pisos até nas paredes. Realmente muito aconchegante. O sofá é novo, a televisão de plasma. Óbvio que tudo isso é simples para muitos, mas para mim que nunca tive, é algo fantástico.

Entramos na cozinha e meus olhos correm pelo local. Novamente cerâmica em tudo. Pia grande, eletrodomésticos novos. Sua mãe está de pé enchendo a panela de pressão com água, enquanto canta algum hino da igreja.

— Cheguei — Ele diz, jogando a chave em cima da mesa. Sua mãe se vira e antes de dizer algo, ela me analisa.

Meu corpo treme, fico vermelha.

— Essa é a sua namorada, Renan?
— indaga um pouco rude.

— É mãe.

Sua confirmação me faz ter certeza de que ela já sabia que eu viria

— Quantos anos você tem, menina?

— Dezessete — Respondo acanhada. Os olhos dela me analisam.

— Ah. Parece ter menos. Põe comida pra ela, Renan — Ela ordena.

— Senta aí. — Ele pede colocando minha mochila em cima da mesa. — Tô cheio de fome.

Sua mãe o encara por alguns segundos.

— Os marginais não te dão comida? — Ela pergunta ironicamente.

— Ih, começa não.

A mãe de Renan não é de muitas palavras, ou talvez não tenha ido com minha cara. Nós dois comemos e subimos para seu quarto, novamente me vejo surpresa pelo simples fato do mesmo ter um banheiro no local.

— Pode deitar. Você deve estar cansada — ele pega o controle e me dá — tem Netflix.

Eu não faço ideia do que seja. Opto por deixar o controle remoto de lado. Observo atentamente seu quarto, é bem arrumado, o cheiro de desinfetante é notório. Sua mãe cuida bem casa.

— Tem certeza que não vou incomodar?

— Claro que tenho. Relaxa, Alícia. — me conforta — eu vou cuidar de você.

Renan se aproxima fazendo-me deitar na cama. Ele põe seu corpo em cima do meu e mantém seus olhos nos meus. Incrível como esse homem me passa segurança

— Eu tenho tanto medo de ser sozinha.

— Você não é. Eu tô aqui.

Ele esconde seu rosto em meu pescoço depositando alguns beijos ali. Passo minhas mãos por suas costas.

— Bebê? — chamo.

— hum?

— Você esta fedendo. — Confesso o fazendo rir.

— Aí, tá bom ficar assim com você.

Seus respiração bate contra meu pescoço, me arrepiando. Infelizmente não estou com cabeça para essas coisas.

— Vai tomar um banho.

— Tá bom, Dn Marta. — levanta bufando.

Enquanto Renan entra no banheiro eu busco meu celular. Acabo por lembrar que o esqueci com Raquel, tudo bem, pego depois. Retiro meu óculos e deixo ao lado da cama. Deito relaxando meu corpo e tudo o que aconteceu hoje vem em minha mente como uma drástica cena de filme. Permito-me soltar algumas lágrimas antes de pegar no sono.

Não sei quanto tempo se passou mas ouço um barulho estranho, logo um vento gélido corre ao quarto. A luz se apaga e sinto o colchão afundar. A cama é de solteiro o que facilita para Renan me abraçar por trás. O cheiro do sabonete em sua pele me remete a sensações incríveis.

— Agora o cheiro está bom. — Murmuro.

— Tá acordada, safada? Esse short não tá me ajudando muito. — Ele diz puxando o pano do meu short para baixo.

— Desculpa — surro rindo e me viro, ficando de frente para ele — melhorou?

— Agora eu vou querer sua boca.

— Ah filho, então o problema é com você.

Ele ri.

— Desculpa pela minha mãe, ela é assim mesmo carrancuda. Depois que te conhecer melhor, vai te amar.

— Não tem problema. No mínimo ela deve estar achando ruim, uma desconhecida em sua casa. — Comento constrangida.

— A casa é minha, Alícia. Ela tem a casa dela, mas fica aqui junto com a minha prima. — explica — ela cuida da casa, eu pago ela.

— Você construiu essa casa sozinho?

— Não. Essa casa eu comprei do Ale. Minha mãe vivia me expulsando de casa por conta da vida que levo, tomei jeito e comprei meu barraco.

A força de vontade dele me surpreende.

— A sua prima não gosta de mim. — comento rindo — sabia que ela estuda comigo? Vive me xingando junto com outras meninas.

Renan parece ficar surpreso com minha confissão.

— Essa porra tem a vida toda fodida e quer zoar alguém?

— Como assim? — Indago curiosa.

— A mãe morreu de HIV, o pai sumiu. Minha mãe que cuida. Vive querendo sentar pra mim...

Ele se dá conta que falou besteira e se cala.

— hum, bom saber. — digo e me viro novamente.

— Ah para de graça. Ela é menor de idade. Tem nem peito direito.

— Eu também — Murmuro.

— Não tem? — ele aperta um de meus seios — que isso aqui então?

— Sem graça, para!

Seus dedos correm por minha barriga, fazendo cócegas na mesma. Tento fugir de suas mãos enquanto solto gargalhadas. Dou um impulso e o empurro, fazendo o mesmo cair da cama.

Pela primeira vez depois de tudo, eu estava rindo.

Entre Rosas -(DEGUSTAÇÃO) Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon