quatro

1.2K 134 4
                                    


Me viro de um lado para o outro na cama, ouvindo vozes. Abro meus olhos e esfrego os mesmos. A voz tão galanteadora para mim, era a de Renan, mas logo ouço outro alguém falar. Me sento na cama e corro minha mão em busca do meu óculos que estará ao chão. Ponho o mesmo e me levanto. Percebo a tempo que estou vestindo apenas um short e um sutiã. Vou em busca de minha blusa, visto e saio do quarto.

Renan, um outro homem — desconhecido — e mamãe estavam na sala. Minha mãe com uma feição tristonha, logo me levou a ter certeza de que acontecerá algo com meu pai.

Meus olhos foram de encontro com os de Renan, fazendo-me sentir um sentimento airoso. Logo retomo meus pensamentos.

Meus olhos foram de encontro com os de Renan, fazendo-me sentir um sentimento airoso. Logo retomo meus pensamentos.

— O que está acontecendo? — Indago preocupada.

— Seu pai... — Mamãe tenta dizer.

Renan desvia seus olhos para a mulher e logo volta para mim.

— Alícia, nós encontramos seu coroa. Ele estava na comunidade de outra facção. — Ele coça a cabeça — o problema é que bateram um rádio pro chefe. Ele ficou puto e mandou ir buscar o velho.

Agora compreendo o desespero de minha mãe. Mas por que diabos esse cara tinha que se enfiar em uma favela de facção rival? As drogas roeram seus neurônios.

— E o que acontece, Renan?

Ele encara minha mãe e faz sinal para que eu o seguisse para o lado de fora de casa.

— Não! Eu quero ouvir. — mamãe ordena. O jovem da de ombros.

— Ele já deu a ordem pra passar.

— Não tem como intervir? Renan, você pode me ajuda. — Digo aflita.

— Pô, você sabe que sempre segurei os b.o dele, mas agora não dá.

O silêncio se fez presente, silêncio este que fora quebrado por minha mãe que se colocou a chorar. Estamos vivendo um pesadelo há anos, desde que meu pai entrou nesse caminho maldito.

— Já foram buscar ele?

— Ainda não sei. Posso falar com você ali fora? — O mais velho pede.

— Eu já volto, mãe.

Ela não esboçou nenhuma reação.

Acompanho Renan ao lado de fora da casa. Meus olhos correm por seu corpo e param em sua pistola na cintura. Desde quando ele usa essas coisas? Ele para de caminhar e eu encosto o portão atrás de nós.

— Trouxe pra você.

Ele tira um celular do bolso. Não sei qual é a marca, nem se presta. Nunca tive um celular.

— Não precisa, sério. Você não deveria se incomodar. — Digo.

— Claro que precisa. Eu quero falar com você e não posso, cara. — Ele pega minha mão e põe o aparelho na mesma — é seu. Depois trago um carregador.

Assinto.

— Tudo bem, mas você precisa me ensinar a usar. — abro um sorriso — é bonito. Aperto o botão ao lado e o aparelho liga, tocando uma música padrão — olha, que incrível!

Ele sorri me olhando.

Por que esqueço de tudo quando estou com ele? Pode o mundo estar desabando ao meu redor, eu não me importo contanto que ele esteja com seus olhos aos meus.

— Tu é muito simples, isso me deixa ainda mais na sua. — Comenta — posso te pedir um beijo?

— Eu não sei. Seria egoísmo meu? Quer dizer, meu pai está prestes a morrer nas mãos do seu chefe.

— Qualé, o cara te espanca, te chamou de vagabunda na frente da comunidade toda e você ainda defende? — Dispara irritado — essa porra merece morrer.

Permito que meus pensamentos voem até o dia em que esse momento errôneo aconteceu. A comunidade estava em festa, mês de junho. Raquel me emprestou uma roupa, — um short curto — me senti bem usando ele. Quando Arnaldo, meu digníssimo pai me viu, fez questão de me humilhar — como sempre — só não me agrediu porque um amigo de Renan viu tudo e o empurrou. Todos na comunidade sabe o que ele faz comigo, os traficantes ainda não deram um corretivo nele porque mamãe e eu somos queridas, por aqui, pelo menos pelos moradores  e mesmo fazendo um perfeito papel de palhaça, eu peço para que não façam nada com o mesmo.

— Ele é meu pai — Digo com a voz baixa. Tentando me convencer disto.

— Ele não merece ter você como filha, princesa.

Sinto sua mão em meu queixo. Logo nossos lábios se unem. Porra, eu amo isso.

Me afasto quando ouço o barulho do portão. Era o acompanhante — mudo — de Renan. Ele surge e nos encara, sabendo o que estávamos fazendo segundos atrás.

— Bora, a coroa surtou lá. Ficou me fazendo um monte de pergunta, irmão — Ele me parece zangado.

— Tô indo. Tem um chip aí com crédito, é só você instalar as paradas.

— Ta. Vou ver se minha amiga me ajuda.

Renan encara o homem e os dos riem.

— Tranquilo. — ele rouba um selinho — te vejo depois.

Entro em casa e minha felicidade momentânea se vai — claro que é momentânea — mamãe estava sentada no sofá, seus olhos fitam o chão.

Caminho até a mesma e me sento ao seu lado. Suspiro quando ela me encara.

— Não estou triste por ele, na verdade será um alívio. — comenta — cheguei a um estágio que prefiro vê-lo morto.

— Mãe...

— Não, Alícia. Eu sofri muito na mão desse homem.

— Então por que ainda está com ele?

— Era isso ou eu morreria de fome.

Diz e abre um sorriso forçado.

— Mas e meus avós?

Pergunto curiosa , mamãe nunca fala de seus familiares

— Esquece isso, Alícia. — Pede calmamente. — Só me desespero por saber que não tenho como nos manter. Marlúcia disse que irá me arrumar uma faxina. — ela ri — veremos.

Se refere a uma de nossas vizinhas mais chegadas.

— Renan me deu esse celular, posso vender para comprar alguma coisa. — digo mostrando o aparelho.

— Esse menino gosta de você mas eu não acho uma boa ideia, Alícia.

— A senhora o conhece desde novo, sabe que é um bom menino — Rebato. — não sei porque entrou nessa vida mas sei que não foi por opção.

— Garota, todos nós temos escolhas. Se ele escolheu a vida de marginal ao invés de trabalhador, ele não é bom para você.

Bufo endireitando meu óculos e ela se  levanta.

— Mas ele pode mudar, mãe!

— Deixe de ser boba. Depois que provam do dinheiro fácil, jamais querem outra coisa. — ela ri — não precisa vender o celular. É seu.

Ela sai de minhas vistas mas ouço a mesma mandando eu ir me arrumar para a escola. Rolo meus olhos e analiso o aparelho em minhas mãos. Samsung. Retiro a capa de trás e vejo uma espécie de fita grudada, havia o nome "Carolina" escrito na mesma.

Esse celular é roubado .

Entre Rosas -(DEGUSTAÇÃO) Where stories live. Discover now