Capítulo 28: Especial; Cochichos e corredores

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Especial: Cochichos e corredores, uma mente à redenção; Lembranças, Sétima.

O dia estava consideravelmente radiante. Raios solares invadiam as brechas e aberturas nas paredes, uma brisa fresca consequente de uma chuva passageira se abrigava no Instituto e os corredores estavam silenciosos, nada de gritos ou choros. 

Impressionantemente que seja, eu escutava risos e gargalhadas manhosas, sem nenhum resmungo ou reclamação vindo a seguir. Era gracioso de se ouvir, me fazendo desligar um fita de músicas da década de 80 que ganhei há alguns meses como agradecimento por fazer 9 anos de nascimento.

Andei a passos ansiosos e curiosos até as grades de meu quarto, me deslumbrando em uma cena graciosa que nem os sons das risadas das duas garotinhas que pulavam em poças de águas decorrentes da chuva passada. Eram a Ju e a Lu, ou a 118 e 123. Suas gargalhadas eram emocionantes de se ouvir, passavam a alegria que elas estavam sentindo.

Eu estava me sentindo em um déjà-vu.

O que eu estava sentindo?

- Olha a minha garotinha. - Vejo minha mãe se aproximar com uma feição esgotada demonstrando um sorriso. - O que você está pensando? - Se abaixa e segue com o olhar para onde eu estava assistindo.

Suas roupas eram vermelhas, diferentes das outras mulheres e garotas que usavam vestimentas brancas encardidas, diferente de mim, que tinha roupas marrons.

Ela deu um breve sorriso vendo as meninas de, se eu não me engano, 6 e 4 anos.

- É desagradável dormir e ficar molhada pela água proveniente da chuva, que goteja ou entra pelo teto e paredes, mas é radiante vê a breve felicidade das helians quando saltam ou brincam com as poças. - Ela pega minhas mãos e as beija - Como você vai? 

Eu não sei porque, mas estava me sentindo fraca, não estava sentindo meu corpo.

- Pela Deusa, Sétima. O que é isso? - Ela levantou as mangas de meu vestido vendo meu braço com queimaduras - Por que não obedeceste os lacaios? Você precisa filha, precisa sobreviver para viver.

- Eles queriam que eu machucasse a Ana, ela estava chorando e implorando para que não. Eu não podia fazer isso, não poderia machucar elas igual aos lacaios. Não quero me transformar neles... - Digo chorosa

- Minha querida - Ela acaricia meu rosto - Eu sei que pode ser difícil mas você precisa fazer de tudo para viver, mesmo que seja matar. Me prometa que vai ser uma boa menina, vai ser obediente. - Uma lágrima caiu de seu rosto e eu a acompanhei

- Eu não quero ser eles. - Fungo com o nariz - Eu não quero olhar para aqueles olhos tristes e assustados enquanto tiro a vida deles. Eu não consigo...

- Shi,shi. Calma minha querida. Você precisa ver por outro ângulo, o mais bonito. Sempre tente ver o lado bonito das coisas. Você só precisa acordar para ver. Você precisa ver que você será a libertadora delas, as libertará da dor de suas vidas, encerará. Pegue a dor delas e viva pelas mortes delas. - Ela segura minha cabeça com força - Há tanta coisa para você ver e conhecer, gente que precisa conhecer. Você é especial minha querida, especial para mim, precisa sobreviver a isso tudo para viver depois.

- Por que eu tenho que mata-las? Elas não merecem isso.

- Eu sei, minha querida. Elas nasceram com o intuito de morreram, será um benefício para elas se você as mata-las. Poderá fazer isso rápido e o menos indolor possível, diferente do que os lacaios fariam. - Eu olho para baixo e me concentro em acabar com as lágrimas - Você nasceu sendo especial, nasceu para matar, para sobreviver. Você precisa ver isso. Me prometa, você irá ser obediente para conseguir diminuir o sofrimento das helians e viver.

A Loba SelvagemWhere stories live. Discover now