Vôo turbulento

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Enquanto estava no voo, Moonbyul aproveitou os privilégios da empresa aérea. Conectou o notebook ao ‘wifi’ do avião e abriu o aplicativo de planilhas onde começou a inserir números multimilionários. Cuidar de uma empresa tão grande exigia disciplina, e inteligência, coisas que a mulher tinha de sobra, características das quais, seu pai, ainda em vida, elogiava e fazia questão de se gabar. Mesmo que usasse isso apenas para seu bem, não se importando com o quê acontecesse com as pessoas ao seu redor, no fim do dia, ainda era a menina inteligente e responsável que seu pai se orgulhava, ou pelo menos, ela pensava assim.

Moonbyul colocou seus fones e escolheu no aplicativo de músicas do ‘notebook’ uma música suave, de um artista da sua empresa, afinal, ela devia, primeiro, vender qualidade, seja sonora ou dos corpos que ela explorava, a prioridade era sempre agradar o cliente, seja ele qual for. Pensando em cliente, lembrou-se que Hwasa havia agredido um de seus melhores, e assim começou a pensar em uma estratégia de como recompensá-lo, enquanto montava a planilha para os rendimentos do mês. 

Através da visão periférica, Moonbyul percebeu que a aeromoça se aproximava. Uma mulher loira, mediana e corpo não tão magro, nem tão gordo. Esta se aproximou da empresária com um carrinho metálico. Moonbyul, de má vontade, retirou os fones e encarou a mulher que tinha olhos tão azuis quanto seu uniforme. 

— Quer algo, senhora? — perguntou, educadamente. Sua voz aveludada.

— Hm, o que tem para comer? Além de você, claro! — respondeu. 

A mulher de olhos azuis cintilantes sentiu seu rosto queimar com o rubor que se formou nas maçãs de seu rosto. Sua face manteve-se estática e pouco reativa a atitude da platinada que se divertia com a situação. A aeromoça, muito constrangida respirou fundo e mexeu nos itens que havia na parte superior do carrinho, organizando-os.

— Ahn, tem amendoins, biscoitos e, chocolates para beber sucos e champanhe — sorriu simpática ao completar. 

— Okay. Quero chocolate… e você! — concluiu. 

A mulher, que parecia nunca ter recebido uma cantada tão descarada como aquela, tentou disfarçar o nervosismo que divertia Moonbyul. A platinada estava rindo despistadamente, enquanto a outra procurava por uma barra de chocolate. A loira pegou uma barra de duzentas e cinquenta gramas de chocolate, embalada num papel azul com a logo da empresa aérea, e entregou para a outra sentada no banco, Moonbyul tocou sua mão ao pegar o doce e sentiu seus dedos magros, gélidos e aveludados tocarem sua pele. A loira tratou de logo puxar a mão que estava sob a da empresária. Pediu licença e passou em cada um dos bancos, educadamente desconsertada oferecendo as comidinhas que haviam restado no carrinho de alumínio. Moonbyul seguiu ela com o olhar por um tempo, mas retomou sua atenção para o notebook. 

A aeromoça voltou para a frente do avião, em algum lugar onde os funcionários viajantes iam atrás das portas e cortinas. Algumas horas se passaram e a ronda da moça com o carrinho aconteceu mais algumas consideráveis vezes. A empresária se levantou e foi até o banheiro, percorreu o espaçoso corredor da classe empresarial, atravessou em meio aos bancos de couro bege claro, contrastando com o carpete preto. Chegou a um pequeno aro, cujo qual resguardava a entrada para uma classe inferior a empresarial, donde Moonbyul viajava. Havia duas portas de material semelhante ao plástico, também na cor bege. Em uma das portas havia uma placa preta e quadrada, com um desenho dividido sendo metade menino e metade menina desenhados em um fundo branco. Em frente a esta, estava outra, na cor azul, com uma placa que havia o símbolo de proibido. A platinada encarou a porta proibida por uns segundos e em seguida se virou, e adentrou o banheiro. 

A cabine era, minúscula toda em plástico amarelado, possivelmente encardido por tanto tempo de uso. Moonbyul fez cara de nojo ao entrar no cubículo tirou um elástico do bolso de suas calças e amarrou seu cabelo em um rabo-de-cavalo  baixo. Olhou no pequeno e estreito espelho sob a pia e percebeu que olheiras profundas se formava em seu rosto pálido. Lavou as mãos e colocou para secar no secador automático que soprou um vento quente o suficiente para deixar sua pele avermelhada. Ela ficou encarando suas mãos por um tempo, talvez estivesse trabalhando demais, talvez até viciada em trabalho o suficiente para não perceber que, talvez, estivesse prejudicando sua saúde. Muitos “talvezes”. Talvez ela devesse pensar menos. Balançou a cabeça largando seus devaneios e saiu do banheiro, dando de cara com a aeromoça de olhos azuis que saia da porta proibida. 

Between Us || HwabyulOnde as histórias ganham vida. Descobre agora