A nova CEO

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O festival d'A Colheita acontece anualmente, em meados de maio. Antigamente havia duas edições por ano, mas com o sistema político cada vez mais rígido que vem tomando o país medidas para corte de verba e capital precisaram ser tomadas, e uma delas acabou resultando na única edição do festejo mais esperado pelos sul-coreanos.

Moonbyul estava no controle da empresa havia cerca de dois anos e depois de muito tentar realizar para reerguer a multinacional de sua família, ela decide tomar medidas mais drásticas. A indústria pode ser muito dura com algumas pessoas, e a vida desta mulher não estava sendo fácil há bastante tempo. Mais difícil ainda é assumir uma multinacional falida aos dezoito anos quando mal se chegou a vida adulta e logo após perder toda a família e receber um legado que não pediu, tudo isso numa única tacada. A vida fora cruel com ela, e ela era cruel com quem cruzasse seu caminho. Com o tempo tornara-se fria, amargurada e pouco preocupada com as consequências de seus atos.

Naquela manhã, na manhã do dia d'A Colheita, um de seus favoritos — afinal, uma nova política seria implantada a empresa por ideia dela.

A asiática de traços meigos, marcantes e olhar sofrido, levantou-se empolgada após o despertador tocar. Tomou seu banho quente enquanto pensava na reunião que teria com os acionistas quando chegasse a empresa. Após certo tempo saiu enrolada em sua toalha macia e aveludada e foi até seu closet. Estava incerta sobre que roupa usar e optou por um terninho simples, básico e no seu tom favorito: branco gelo. Ao voltar para o quarto parou de frente para o espelho. Secou os cabelos cinzas roxeados e preferiu que ficasse solto.

A parede de vidro do seu quarto que ficava em um dos prédios mais altos da cidade de Seul revelou uma vista magnífica. Ela olhou fixamente para o nada e sorriu um pouco. Passou a mão pelos lados do casaco puxando eles levemente para baixo antes de pegar sua bolsa preta e pendurar no ombro. Com o celular na mão esquerda, desbloqueou a tela e enviou uma mensagem para seu motorista que a esperou na saída do prédio. Após trocarem cumprimentos, ela entrou no carro e minutos depois pararam na entrada da RBW.

A mulher saiu do carro elegantemente e colocou seus óculos escuros. Suspirou. Ergueu levemente a cabeça e entrou no prédio revestido em mármore branco e bege. Caminhou até o elevador enquanto todos a encarava — não se sabe ao certo se eram olhares de medo ou de admiração. Porém, ela não ligava. Moonbyul pressionou levemente o botão do 24° andar. O último. Que era totalmente dela (e de sua secretária cujo qual ela achava patética)!

Por alguns instantes enquanto estava parada naquele elevador de aço maciço e brilhante cujo qual ela conhecia cada detalhe, a mulher olhou para o relógio em seu pulso e ao voltar o olhar para cima deparou-se com a porta se abrindo e revelando um dos seus lugares favoritos no mundo: a sala da presidência. Esboçou um semi-sorriso antes de sair e andar pomposamente até próximo da secretaria que se mantinha imóvel. A coitada sempre se assustava com chegada da poderosa patroa! Moonbyul tirou os óculos e olhou com desdém para a mulher encolhida atrás da mesa meia-lua preta.

— Tem algo para mim? — perguntou impaciente.

— Não senhora! — respondeu.

— E como está minha agenda para hoje? — indagou. Desfez o contato visual e colocou sua pequena bolsa na mesa a procura de algo.

— Só um momento, senhora! — ela pegou seu ‘tablet’ e depois de alguns cliques anunciou: almoço com acionistas às 11h, reunião sobre a colheita às 14h… Ah! E também intervenção com os novos olheiros, em meia hora! — disse a última parte depois de uma pequena pausa.

Moonbyul parou imediatamente de mexer em sua bolsa e olhou pouco feliz para a mulher de estatura baixa e cabelo preso em coque que engoliu seco e baixou o olhar. Conhecia esse semblante de reprovação e temia pelo seu emprego.

— Eu já deixei suficientemente claro que qualquer coisa deve ser agendada para uma hora depois do horário que chego, certo?

— Sim, senhora!

— Você não é tão burra como pensei — sorriu irônica. — Que este erro não se repita, suponho que você não queira ir para o olho da rua.

Moonbyul pegou a bolsa e nem se deu o trabalho de fecha-lá, entrou furiosa para sua sala e bateu a porta (de vidro) assustando a pobre funcionária que pulou em sua cadeira.

Na sala, Moonbyul dirigir-se ao pequeno bar em madeira maciça e vidro que havia no canto. Jogou sua bolsa como estava no sofá ao lado e suspirou estressada enquanto se servia de uma boa e generosa dose de Bourbon. Tomou tudo num gole e serviu-se de mais. Ela gostava assim: puro. Uísque a fazia pensar melhor. Ela gostava de sentir o ardor quente em sua garganta enquanto degustava. Gostava do cheiro de luxúria e poder, e das lembranças que aquilo lhe trazia.

Ela caminhou para sua mesa. Ficou em pé de frente para o grande paredão de vidro donde era possível ver metade da cidade (senão toda ela) e saboreou arduamente sua bebida enquanto glorificava internamente ser dona de metade daquilo. Por um momento esqueceu-se do estresse que toda essa responsabilidade lhe trouxera, e de toda raiva que passava com seus funcionários (inúteis). Era somente ela, aquela vista maravilhosa, a glória e orgulho do império que houvera reerguido em todos esses anos. Orgulho do respeito que conseguira impor em todos ao seu redor. Ou medo e pavor, ela não se importava, e preferia, inclusive, o medo ao invés do respeito. Era difícil para uma mulher conseguir tais feitos. Para uma mulher coreana, mas ela conseguira, ela passou por cima de tudo e todos com garra. Vencera mais um capítulo e hoje — mais tarde — daria vida a um novo projeto na reunião com os acionistas. Nada deixava ela mais feliz do que o poder. Estar no controle a satisfazia a um nível inimaginável. E ela não apenas estava, como possuía todo poder que lhe era permitido. Ver aqueles pobres coitados desesperados com sua presença era seu prazer momentâneo.

Ela recuou, acomodou-se na cadeira e soltou o copo sobre a mesa com seriedade. Passou as mãos pelos cabelos e soltou-os sobre o ombro esquerdo. O telefone toca, ela atende e revira os olhos.

— Mande eles entrarem!

Between Us || HwabyulWhere stories live. Discover now