A Colheita

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Jornal local.

Repórter Dahye.

— Estamos aqui na Praça Central de Seul cobrindo um dos eventos mais importantes do ano. A Colheita! A virada de estação é um momento muito importante para nós e em comemoração hoje, 40 anos depois do primeiro festival o evento continua trazendo alegria e girando a economia. O representante do país, em entrevista coletiva pela manhã se diz “muito contente com os novos rumos e com o progresso que temos atingido. Este festival simboliza o que há de melhor em nosso país e em nossa cultura”. Completou convidando todos a virem!
     — Dahye para Redação.

Narrador

A excitação continuava. O relógio da torre da praça marcava quase quatro horas da tarde. Hwasa seria a próxima a se apresentar e não aguentava de nervosismo e ansiedade. Ela estava parada no canto do palco com o microfone na mão esquerda enquanto a mão direita estava em seu abdome, e pelo seu rosto, um enjoo revirava seu estômago conduzindo-a ter ânsia de vômito.

A mesma mulher elegante que avisara outrora  sobre o início das apresentações, chegou perto dela e tentou acalmá-la. Funcionou. Alguns segundos depois seu nome foi gritado pelo apresentador e ela fora ovacionada pela comunidade enquanto subia graciosamente ao palco com seu short preto de cós alto e sua blusa branca de alcinha. Seu corpo não tinha nada tão amostra, mas fora o suficiente para o olhar mal-encarado de pessoas mais velhas. Na parte da plateia, ao longe em seu terno bege estava Moonbyul encostada em um coqueiro esperando a apresentação começar. A platinada acabara de chegar.

Moonbyul não parecia, de fato, alguém que era adepta de ‘shows’, festivais ou do tipo que adorava pessoas a sua volta. Seria no mínimo curioso sua ida até ali se ela não tivesse interesses pessoais ou empresariais. Ela ficou encarando pretensiosamente enquanto a morena em cima do palco cantava e dançava com maestria. Estava encantada com tanta beleza e talento tão raramente visto por ela. Em todos esses anos como presidente da RBW, nunca vira tanto talento natural e singeleza numa única pessoa.

Em cima do palco, o nervosismo de Hwasa já havia passado e ela se entregara completamente a sua apresentação que (pelos olhares atenciosos) estava apaixonante. Ela sentiu o olhar de Moonbyul queimar sobre ela e se arrepiou. Como uma desconhecida poderia lhe causar aquela sensação? O ‘show’ acabou. Ela se retirou do palco e comemorou (com as colegas que havia realizado) o sucesso que foi. Comentou como estava feliz e realizada.

Ainda perto do coqueiro, Moonbyul pediu a um de seus olheiros que falasse com a moça que acabara de se apresentar e assim ele fez. Ela retirou-se, voltou para seu carro e foi para casa.

Dois dias depois…     
Dia de teste…

Moonbyul entrou na sala de teste pela primeira vez desde que tomara o controle da empresa. Estava ansiosa, mas não deixava transparecer. A chefe estava sorrindo mais do que geralmente sorria e os funcionários chegaram a estranhar um pouco. Alguns ali não vira ela tão feliz desde pouco tempo antes do horroroso acidente que matou sua família.

Alguns minutos se passaram enquanto a diretora-executiva estava na enorme sala a espera dos candidatos. Sentada sobre a mesa conversando com os outros dois jurados ela avistou de relance a menina, cujo qual, ela assistira à apresentação alguns dias atrás. Sorriu um pouco olhando para ela e depois focou de volta no homem que conversava com ela. A cabeça da mulher estava longe. Era incomum a estranheza e mistura de sentimentos que aquela jovem moça causava nela.

Do lado de fora da sala, encostada na parede estava Hwasa que tremia de ansiedade. Suas pernas estavam bambas. A mulher do ‘show’… Aquela que ela sentiu o olhar queimar sobre ela durante toda apresentação, ela… era a dona de uma das maiores empresas de trainee da Coreia. Era muito poder, sonho de qualquer mulher que vivia naquele país autoritário de merda. Seus olhos que estavam fixos em Moonbyul há algum tempo se desfocaram lentamente e ela saiu de seus devaneios. Olhou timidamente para o chão e voltou a encarar a mulher na sala.

Moonbyul olhou para o relógio de pulso, estava cansando-se de esperar. A primeira fase de testes da nova era começaria já! Ela levantou da mesa e pediu que cada um ficasse em seu devido lugar. Sentou-se em sua poltrona no meio dos dois outros jurados e puxou a prancheta para perto de si. Olhou alguns nomes e pareceu não se importar. Chamou a sua secretária que estava na porta e apontou para Hwasa.

— Começaremos por ela!

A moça concordou, andou até a porta e chamou a morena que esperava ansiosa. Hwasa entrou na sala e cumprimentou a todos educadamente. Em seguida as cortinas foram fechadas e a porta também.

No fundo da sala havia um pequeno palco com luzes, cortina, iluminação, equipe de som e instrumentação, e tudo que o candidato tinha direito para um desempenho que impressionasse. A sala possuía isolamento acústico para que não atrapalhasse o trabalho de outros setores.

Hwasa se apresentou lindamente como no festival de primavera e obteve aprovação de todos os jurados. Duas horas mais tarde eles já haviam assistido a mais de trinta apresentações. Moonbyul estava exausta, assim como toda equipe. A audição foi encerrada e ela subiu para sua sala onde ficou até hora de ir embora.

No dia seguinte e nos próximos aconteceram mais audições. No fim da semana quarenta novos trainees foram contratados pela empresa e na semana seguinte eles seriam encaminhados para diferentes partes do mundo onde a vida deles mudaria de uma vez por todas. Definitivamente não para melhor.

Era por volta de meia-noite quando Moonbyul saiu de sua sala um pouco alterada pela quantidade de Bourbon que houvera tomado ao longo do dia. Não estava mais em suas faculdades mentais para ler e assinar papéis.

— Kim? O que você está fazendo aqui esta hora? Já não disse que não precisa ficar depois do horário? — disse. Sua voz estava um pouco embargada, mas ela manteve a postura.

— Sim, senhora. Eu só estava adiantando algumas coisas para amanhã…

— Pois bem! Vamos embora — Moonbyul andou até o elevador e percebeu que Kim ainda estava em sua mesa.

— Anda logo, mulher! Não tenho a noite toda. Meu motorista irá levá-la — soou autoritária.

Moonbyul apertou o botão chamando o elevador para descer, enquanto isso Kim arrumava suas coisas com pressa. Quando o elevador chegou ela correu até ele e por pouco não caiu; a chefe da mulher achara graça, mas disfarçou a risada. Chegando na entrada, o motorista, senhor Daeshim estava a espera. Moonbyul ordenou que ele levasse Kim e o dispensou até a manhã seguinte. Pegou um táxi e foi embora para o seu apartamento.

Between Us || HwabyulWhere stories live. Discover now