Prólogo - Kelly

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Um monte de clichês. A minha vida se resume a eles, ou melhor: eu sou a junção de todos eles.

A menina inocente do interior, que sai da casa dos pais para estudar e tentar uma vida melhor na cidade grande.

A loira meio desligada e com cara de burra, que tem um nome que passa a mesma impressão.

A solteirona acima do peso que não consegue namorar ou ter amigos por ser terrivelmente tímida, e mora sozinha com os seus gatos.

E a secretária executiva eficiente que é contratada para trabalhar para um CEO deslumbrante e mulherengo justamente por sua timidez e falta de beleza, mas que se apaixona apesar de todos os avisos que recebeu da chefe do RH.

- Vou te dar um conselho, Kelly: não se apaixone pelo Senhor Bianchi. Dar em cima dele, então, nem pensar...é o caminho mais rápido para a demissão. Fui clara?

- Cristalina. Mas... - hesito, sem coragem de perguntar quantas vezes aquilo teria acontecido antes.

- Mas o quê? Você quer saber se aconteceu antes? Incontáveis vezes - a elegante senhora de cerca de 50 anos admite, desgostosa. - Ricardo é lindo, solteiro, educado...talvez eu mesma me apaixonasse, se fosse mais nova e desimpedida. O trabalho acaba levando a uma certa proximidade e todas se apaixonam, achando que serão correspondidas.

- E nunca foram?

- Não. O chefe só namora modelos e socialites, nunca o vi com ninguém "normal", por assim dizer. - Ela pega na minha mão. - Você me parece uma menina ajuizada. Por favor, não faça com que eu me arrependa de ter te dado a vaga...

- Não vou. Obrigada pelo voto de confiança, senhora Carla. - Sorrio.

E, no mês seguinte, eu estava completamente apaixonada por Ricardo Bianchi e sua beleza morena. Mesmo após três anos eu ainda não sei muito bem o que acontece comigo quando ele está por perto; simplesmente paro de respirar e de raciocinar. Talvez uma coisa esteja ligada à outra e eu não pense direito por pura falta de oxigênio, mas o fato é que o amo - e ele não faz a menor idéia.

Amo-o da ponta dos cabelos negros levemente ondulados ao bico dos sapatos de cromo alemão sempre engraxados e brilhantes, passando pelos olhos azuis com leves rugas nos cantos quando ele sorri.

Amo os ternos italianos perfeitamente talhados e o corpo perfeito e bem definido de ombros largos e quadris estreitos.

Amo que ele seja alto e me faça sentir pequena e delicada, mesmo sendo, bem, grande e tendo um metro e setenta.

E tenho que chamar a atenção dele, mesmo que eu seja mais uma a perder o emprego.

O problema? Eu não sei sequer por onde começar...

Um Clichê Para KellyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora