"Bom dia, loirinha! Como você tá hoje?"
Olho para a mensagem no meu celular e suspiro. Quatro dias. Quatro longos dias sem Juliano, grudada como um carrapato no irmão dele - e eu estou quase enlouquecendo. Sério, nunca passou pela minha cabeça que Ricardo pudesse ser tão...tão...
Prepotente? Sim.
Metódico? Também (mas eu desconfiava).
Chato?!
Sim, chato o define perfeitamente. Ricardo Bianchi é chato das músicas que ouve à maneira que dirige, e nós não temos nada em comum. Nada. Sequer conversamos sobre outra coisa que não seja o trabalho.
Pego o celular e digito sem pensar muito:
"Com saudade de você."
Fico olhando para a mensagem, sem saber se a envio ou não. Não é mentira que eu estou quase morrendo de tanta saudade e que penso nele a cada segundo dos últimos dias, mas não sei se devo dizê-lo e...
Foda-se, amigos também sentem a falta um do outro.
Clico em enviar e a resposta é rápida:
"Também tô sentindo a sua falta, Kelly. Muito. Até da sua tagarelice..."
Sorrio. Eu e Juliano nos falamos tão pouco nos últimos dias que eu não sei do que estou com mais saudade: das nossas conversas, de treinarmos juntos, das músicas que a gente costuma cantar (bem mal) no carro, do sorriso dele ou dos nossos bei...
Não pense nos beijos, Kelly. Simplesmente não pense, ordeno-me em pensamento. Apesar da pegada, Juliano é gay. Ele estava te fazendo um favor.
Outra mensagem é enviada para o meu telefone:
"E o Ricardo?"
"O que tem ele? Você quer saber como ele está?", tento desconversar.
"Claro que não! Posso te ligar?"
Meu celular toca antes mesmo que eu comece a digitar o sim. Atendo rindo.
- Estamos ansiosos hoje, não?
- Ansiosos e cansados. Tenho a impressão de ter andado por todas as cidades de São Paulo.
- Mesmo? - Enrolo uma mecha de cabelo no dedo indicador. - E onde você tá hoje?
- Em Holambra, conhece?
- Não conheço nada além da minha cidade e Curitiba, mas tenho muita vontade de visitar Holambra. É uma colônia holandesa, né?
- É sim, tem até um moinho. Estamos desenvolvendo uma linha de geléias de flores, então eu vim checar se a produção daqui consegue suprir a nossa demanda.
- Entendi...e vocês pretendem fazer a geléia na fábrica de Vinhedo?
- Sim, eu estive lá ontem e não é tão longe. Espero que dê certo, as geléias ficaram muito boas.
- Quais são os sabores?
- Lavanda, hibisco e rosas.
- Você bem que podia trazer a de lavanda pra eu experimentar - brinco. - Adoro cheiro de lavanda, e imagino que o gosto seja tão bom quanto o cheiro.
- Tô levando as três pra você, loirinha. A de lavanda, a de rosas e a de hibisco. - Ouço-o rir do outro lado da linha. - Você pode agradecer me contando como estão as coisas com o meu irmão...algum progresso?
- Creio que sim. - Mordo o meu lábio inferior. - Ele me levou todos os dias do trabalho pra academia e da academia pra casa.
- E...?
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Um Clichê Para Kelly
RomanceKelly Müller sabe que não passa de um clichê, e dos grandes (sem trocadilho): é uma secretária executiva solteira/encalhada, acima do peso, apaixonada por gatos e mais apaixonada ainda pelo chefe, o mulherengo Ricardo Bianchi. Talvez ele a notasse...