Adormeci e estou sonhando ou o álcool está me fazendo alucinar? Porque os meus sonhos tendem mesmo a ser estranhos, mas eu também bebi bem mais do que deveria e me sinto confusa. Nada parece fazer sentido na minha cabeça.
Não faz sentido eu estar em uma boate no sábado à noite, completamente embriagada.
Não faz sentido um barman lindo estar flertando comigo.
E, sobretudo, não faz sentido o meu amigo estar perguntando se eu quero beijá-lo, nem as minhas pernas moles, a minha boca seca e o meu corpo queimando.
Estou quase certa de que entendi errado o que ele disse, afinal, Juliano nunca se ofereceria para me ensinar a beijar. Ele é gay e eu...bem, eu quero o irmão dele. Amo Ricardo.
- Desculpa! - Tento me afastar e me desequilibro, envolvendo o pescoço largo com os braços para não cair. Ele me agarra pela cintura instintivamente e os nossos corpos se aproximam.
- Você tá me pedindo desculpa pelo quê, Kellyzinha?! Por ter se desequilibrado?! - Juliano arqueia uma sobrancelha. - Porra, acontece! Aconteceria até se você não tivesse bebido, os seus saltos são muito altos!
- Não tô pedindo desculpa por ter me desequilibrado não, Juliano, até porque pedi antes de me desequilibrar! Tô pedindo desculpa por não ter entendido direito o que você disse! - Rio de nervoso. - Você obviamente não perguntou se eu queria te beijar, eu é que tô bêbada pra caralho!
- Eu perguntei sim, Kelly! Foi exatamente o que eu perguntei! - Ele aumenta o aperto acima do meu quadril. - Quer me beijar?!
A boca do meu amigo está tão perto da minha que eu consigo sentir o hálito morno nos meus lábios, uma mistura de menta e cerveja. Fixo os meus olhos nos dele, vendo-os brilhar apesar da pouca luminosidade, e o meu corpo inteiro ganha vida. Dói. Lateja. Inflama como se eu fosse um B52, e ele, o isqueiro.
(Ok, se eu tinha alguma dúvida agora não tenho mais: virei uma cachaceira. Até estou fazendo analogias entre o meu corpo e bebida.)
- Você tá muito calada, loirinha, é um não?!
- Sim, é! - E nem eu mesma acredito no que estou respondendo.
- Certo...e eu posso saber por quê?!
- Porque eu não quero nem preciso ser beijada por pena! Odeio que sintam pena de mim! - Tento me afastar outra vez.
- Pena é a última coisa que eu sinto por você, Kelly! Pode acreditar! - Juliano mantém os braços na minha cintura. - Você não beijou ninguém hoje porque não quis, o Idris Elba da Shopee tá mais do que disposto! O Thiago também!
- O Thiago não, eu não sou talarica! - Balanço a cabeça. - Droga, Juliano, por que você tá insistindo?!
- Porque eu quero te ajudar, gatinha! E talvez...?!
- Talvez o quê?!
- Talvez eu esteja muito a fim de experimentar o seu batom! É aquele de morango, não é?!
- É, sim! Posso te emprestar se você quiser!
- Não é a minha cor, e eu também prefiro experimentá-lo na sua boca! - Ele ri. - Sim ou não, Kelly?! Não vou perguntar outra vez!
ESTÁ A LER
Um Clichê Para Kelly
RomanceKelly Müller sabe que não passa de um clichê, e dos grandes (sem trocadilho): é uma secretária executiva solteira/encalhada, acima do peso, apaixonada por gatos e mais apaixonada ainda pelo chefe, o mulherengo Ricardo Bianchi. Talvez ele a notasse...