8 - Juliano

691 74 37
                                    

O elevador para no décimo terceiro andar e o cheiro de canela me leva até a Kelly, que está sentada em uma antessala que também funciona como recepção da presidência. Porra, que mulher cheirosa! Nunca conheci alguém igual à loirinha, e nem estou falando no perfume que costuma rescender dela.

Ela é inteligente. Doce. Inocente. Engraçada. Tão sincera que, às vezes, beira a falta de filtro. E, surrealmente, parece gostar mais de Ricardo do que do dinheiro da nossa família, porque, além de não ter aceitado as roupas que eu quis dar de presente, ela também insistiu em pagar a Jaqueline (que está longe de ser barata).

Uma mulher apaixonada e nada interesseira. Meu irmão não tem a mínima noção do filho da puta sortudo que ele é.

Vejo-a olhar fixamente para a tela do computador, vermelha e toda encolhida na cadeira, e o meu coração, que parece ter se apegado a Kelly em tempo recorde, também se encolhe. Teria acontecido algo para ela estar tão diferente da pessoa risonha e cheia de vida de hoje de manhã ou seria apenas a presença de Ricardo retraindo-a?

- Trouxe o seu sapatinho de cristal, Cinderela - brinco, ajoelhando-me para colocar a sandália recém-consertada no pé delicado. - Tá tudo bem?

- Por que não estaria? - Minha amiga desvia o olhar da tela do computador para mim e fica ainda mais vermelha. - Ai, meu Deus...levanta daí, Juliano! - ela pede baixinho. - Ricardo pode não gostar de te ver conversando comigo durante o expediente, sabia?

- Meu irmão é um chato, Kellyzinha - digo, olhando para a sala dele e me levantando. - Aposto que ele nem percebeu que você tá diferente.

- Não. Não percebeu. - Ela faz uma carinha triste (e fofa). - Eu te disse que o seu plano não ia funcionar...

- Hoje ainda é o primeiro dia, princesa. Não perca a esperança. - Sorrio para encorajá-la. - Você trouxe roupa pra gente ir treinar mais tarde?

- Olha o tamanho da minha bolsa, homem! O que você acha?

Ela mostra uma bolsa preta e pequena e eu respondo imediatamente:

- Acho que não. Quer passar na sua casa quando sairmos daqui, então?

- Eu...

- O que você tá fazendo aqui, Juliano? Temos nenhuma reunião? - Ricardo interrompe a nossa conversa. Viro-me na direção da voz dele e o vejo encostado na porta da sala, impecável como sempre.

- Não, irmão. Eu vim ver a Kelly e devolver a sandália dela consertada...ela teve um pequeno acidente, mais cedo.

- Hum, sei. E você está bem, Kelly? - ele se dirige, mais formalmente, à minha amiga, que cora e abre a boca algumas vezes antes de conseguir falar.

- Es...estou sim, senhor. O...obrigada. - Ela baixa a cabeça.

Kelly está tão apática que tenho vontade de a sacudir. Reage, mulher, bota um cro...não, espera! Bota um sorriso no rosto!

- Er...Ricardo, por que não aproveitamos que eu tô aqui pra discutirmos as campanhas dos nossos próximos lançamentos?

- Pode ser. Kelly, eu não tenho nenhum compromisso agora, não é? - Ela balança a cabeça. - Ótimo. Vamos pro meu escritório, então.

Sigo Ricardo e sento na cadeira em frente à dele, admirando a vista da cidade através das enormes vidraças. A sala é tão impecável quanto seu dono; não há nada fora do lugar ou uma partícula de poeira sequer sobre as cortinas e móveis luxuosos e imponentes.

- Sabe a linha de geléias nova? - começo. - Achamos que...

- Você tá interessado na minha secretária, Juliano? - meu irmão me corta, arqueando uma sobrancelha interrogativamente.

- Eu? Claro que não, Ricardo, você sabe que eu não me envolvo com nenhuma mulher. Por quê? - Sim, por que ele está querendo saber?

- Porque eu nunca te vi babando tanto em cima de alguém. E você ainda tá com essa história...?

- Eu não tava babando em cima da Kelly, nós somos amigos. Você entende o conceito de amizade, não entende?

- Entendo, mas não costumo carregar as minhas amigas no colo - ele debocha.

- Você já tá sabendo? Puxa, as fofocas correm mesmo rápido por aqui! - debocho também. - Não vejo nenhum problema em carregar uma amiga no colo...ainda mais uma tão bonita e cheirosa quanto a loirinha.

Enfatizo as palavras bonita e cheirosa e os olhos azuis dele se estreitam, o que é bastante interessante. Talvez o tapado do meu irmão não tenha percebido, mas está caidinho pela Kelly...e morrendo de ciúme. Juntá-los não vai ser tão difícil quanto ela pensa.

- Bem, se você não quer me ouvir falar sobre marketing, eu vou me despedir da loirinha e voltar pro meu escritório. Tenho muito trabalho me esperando. - Levanto da cadeira e começo a andar até a porta. - Te vejo depois, irmão.

- Juliano?

Paro imediatamente.

- O que foi?

- A minha secretária tem nome, e não é loirinha.

- Sei que o nome dela é Kelly, Ricardo, mas você me conhece. Gosto de apelidos. - Pisco um olho.

Saio do escritório contendo a minha vontade de rir da cara dele e, propositalmente, não fecho a porta. Então, sento em cima da mesa da minha amiga e pergunto alto:

- Você trabalha até que horas, hoje?

- Até o mesmo horário que a sua secretária, Juliano. Cinco horas - ela responde, digitando alguma coisa no notebook.

- Certo...e você quer que eu passe por aqui ou prefere me encontrar no estacionamento?

- Não pre...

- Shhhhh! - interrompo-a, baixando o meu tom de voz e me aproximando mais dela. - Apenas responda, nada de dizer que eu não tenho que te levar. Explico depois o porquê.

- Ah, eu...te encontro no estacionamento? - ela diz, confusa.

- Perfeito! Até mais tarde, loirinha.

Despeço-me dela com um aceno e aperto o botão do elevador, esperando-o por um minuto ou dois. Quando as portas se abrem e eu entro, ouço:

- Você tá diferente hoje, Kelly...

-

Oi, gente! Passando com um capítulo novinho em folha por motivos de: covid. Estarei isolada até quarta, então espero atualizar todos os meus amados livrinhos - se Deus quiser e o meu filhote deixar, claro.

Um beijo e eu espero que vocês tenham gostado! Dani.

Um Clichê Para KellyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora