- Juliano - chamo, após alguns minutos de silêncio.
- Oi - ele responde automaticamente.
- Eu...
Droga, Kelly, agora você tem que dizer alguma coisa! Além de tê-lo chamado, você está calada há tempo demais!
Movo-me no assento, encostando a cabeça na janela do carro para tentar me afastar um pouco mais do irmão de Ricardo. Quando abro a boca para falar, enfim, o meu maior segredo escapa em um murmúrio:
- Eu nunca beijei ninguém...
Meu rosto começa a arder de vergonha. Por que, Jesus, por que eu havia tocado no assunto? Juliano não é burro e certamente vai saber o porquê de eu estar pensando em beijos!
- Você realmente sabe encerrar um silêncio, não é, loirinha? - Ele ri, mantendo os olhos fixos no tráfego anormalmente intenso para a hora. - Ainda consegue ser surpreendente.
- Surpreendentemente sem noção - retruco, atordoada. - Podemos falar sobre outra coisa?
- Desculpa, Kelly, mas não. Não podemos. - O carro para em um sinal vermelho e meu amigo me encara. - No dia em que a gente se conheceu, eu te disse que era muito observador, lembra?
- Lembro, sim. - Baixo o olhar para as minhas mãos.
- O que eu não te disse é que, além de muito observador, eu também sou muito curioso - ele enfatiza o muito de ambas as frases. - Você não pode jogar uma bomba dessas e sair correndo, princesinha.
- Como se eu pudesse sair correndo daqui, né? - resmungo. - O que você quer saber?
- O porquê, claro! Como é que alguém chega aos...quantos anos você tem mesmo, vinte e cinco?
- Vinte e quatro.
- Tá, eu vou reformular a pergunta. Como é que alguém chega aos vinte e quatro anos sem nunca ter beijado na boca? Você tava vivendo em um convento ou embaixo de uma pedra?
O sinal abre. Juliano para de me olhar e volta a dirigir.
- Você dirige bem, Juliano - elogio. - Mais rápido do que eu tô acostumada, confesso, mas bem mesmo assim. Imagino que esse carro corra bastante.
- Corre, sim. É um Lamborghini Aventador, um dos carros mais rápidos do mundo - ele fala despretensiosamente.
- Ahn...é por isso que o cinto de segurança é tão diferente?
- Mais ou menos. O cinto não é um item de série, mas eu pedi pra instalarem porque gosto de velocidade. Eu costumava correr com ele.
- Correr, correr? Tipo, corrida ilegal? - Arregalo os meus olhos.
- Nem toda corrida é ilegal. Existem pistas apropriadas pra correr.
- E você ainda corre?
- Não mais. Foi apenas algo que eu fiz em uma fase da minha vida - ele diz em um tom triste. - Agora você pode responder à minha pergunta, por favor?
- Bem... - Passo as mãos pelo meu cabelo, perguntando-me, mentalmente, porque diabos ele teria começado a participar de corridas de carro (clandestinas ou não). Seria a emoção? A adrenalina correndo pelas veias? - Eu nunca beijei ninguém porque...
- Porque...?
- Porque ninguém quis. Nenhum homem nunca quis me beijar, Juliano. Sequer tentaram - esclareço baixinho.
- Impossível, loirinha. - O irmão de Ricardo balança a cabeça.
- Acredite em mim, é possível. Eu tava lá.
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Um Clichê Para Kelly
RomanceKelly Müller sabe que não passa de um clichê, e dos grandes (sem trocadilho): é uma secretária executiva solteira/encalhada, acima do peso, apaixonada por gatos e mais apaixonada ainda pelo chefe, o mulherengo Ricardo Bianchi. Talvez ele a notasse...