12 - Kelly

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- Juliano - chamo, após alguns minutos de silêncio.

- Oi - ele responde automaticamente.

- Eu...

Droga, Kelly, agora você tem que dizer alguma coisa! Além de tê-lo chamado, você está calada há tempo demais!

Movo-me no assento, encostando a cabeça na janela do carro para tentar me afastar um pouco mais do irmão de Ricardo. Quando abro a boca para falar, enfim, o meu maior segredo escapa em um murmúrio:

- Eu nunca beijei ninguém...

Meu rosto começa a arder de vergonha. Por que, Jesus, por que eu havia tocado no assunto? Juliano não é burro e certamente vai saber o porquê de eu estar pensando em beijos!

- Você realmente sabe encerrar um silêncio, não é, loirinha? - Ele ri, mantendo os olhos fixos no tráfego anormalmente intenso para a hora. - Ainda consegue ser surpreendente.

- Surpreendentemente sem noção - retruco, atordoada. - Podemos falar sobre outra coisa?

- Desculpa, Kelly, mas não. Não podemos. - O carro para em um sinal vermelho e meu amigo me encara. - No dia em que a gente se conheceu, eu te disse que era muito observador, lembra?

- Lembro, sim. - Baixo o olhar para as minhas mãos.

- O que eu não te disse é que, além de muito observador, eu também sou muito curioso - ele enfatiza o muito de ambas as frases. - Você não pode jogar uma bomba dessas e sair correndo, princesinha.

- Como se eu pudesse sair correndo daqui, né? - resmungo. - O que você quer saber?

- O porquê, claro! Como é que alguém chega aos...quantos anos você tem mesmo, vinte e cinco?

- Vinte e quatro.

- Tá, eu vou reformular a pergunta. Como é que alguém chega aos vinte e quatro anos sem nunca ter beijado na boca? Você tava vivendo em um convento ou embaixo de uma pedra?

O sinal abre. Juliano para de me olhar e volta a dirigir.

- Você dirige bem, Juliano - elogio. - Mais rápido do que eu tô acostumada, confesso, mas bem mesmo assim. Imagino que esse carro corra bastante.

- Corre, sim. É um Lamborghini Aventador, um dos carros mais rápidos do mundo - ele fala despretensiosamente.

- Ahn...é por isso que o cinto de segurança é tão diferente?

- Mais ou menos. O cinto não é um item de série, mas eu pedi pra instalarem porque gosto de velocidade. Eu costumava correr com ele.

- Correr, correr? Tipo, corrida ilegal? - Arregalo os meus olhos.

- Nem toda corrida é ilegal. Existem pistas apropriadas pra correr.

- E você ainda corre?

- Não mais. Foi apenas algo que eu fiz em uma fase da minha vida - ele diz em um tom triste. - Agora você pode responder à minha pergunta, por favor?

- Bem... - Passo as mãos pelo meu cabelo, perguntando-me, mentalmente, porque diabos ele teria começado a participar de corridas de carro (clandestinas ou não). Seria a emoção? A adrenalina correndo pelas veias? - Eu nunca beijei ninguém porque...

- Porque...?

- Porque ninguém quis. Nenhum homem nunca quis me beijar, Juliano.  Sequer tentaram - esclareço baixinho.

- Impossível, loirinha. - O irmão de Ricardo balança a cabeça.

- Acredite em mim, é possível. Eu tava lá.

Um Clichê Para KellyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora