pt.6 do desespero, [bagunça]

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Louis Tomlinson parou.

Com as mãos recobertas por luvas de procedimento, posicionou uma sobre a outra em seu próprio peito. O corpo pesado de cansaço apoiado de maneira comedida na madeira da porta dupla que separava o ambulatório de uma saída lateral do hospital. Vestia todos os paramentos necessários para isolamento de contato e aerossol, a máscara N-95 ferindo a ponte de seu nariz com o aperto. Foi solicitado à paciente com Fibrose Cística contaminado por uma bactéria específica que estava sob os cuidados de outro enfermeiro, uma consulta interprofissional sobre um curativo para lesão por pressão na região lombossacral, e Louis preferiu além de dar a consulta e a prescrição, executar o curativo.

O que lhe custou um tempo considerável, já que a gravidade do assistente havia assustado alguns profissionais e Louis precisou prestar quase toda a assistência de enfermagem sozinho - dando banho, trocando acesso venoso pois havia sujidade, executando o curativo, conferindo a administração de medicações e as prescrições das mesmas, no caso de algum estagiário ter deixado passar uma dosagem errada. Por sorte, as evoluções de enfermagem estavam legíveis e completas, bem como as anotações. Apenas um técnico realizou os procedimentos que cabiam junto a ele, pois não queria expor membros mais novos da equipe à risco.

Parado, perto do banheiro para retirar os equipamentos, sentiu-se desacelerar aos poucos. O trabalho era o melhor escapismo para não permitir certos pensamentos atravessarem sua mente. Ao retirar seus equipamentos de proteção individuais e lavar as mãos, a imagem que ele viu de si mesmo era exatamente essa: desordem, bagunça, tragédia. Não só haviam manchas ao redor de seus olhos, como também toda a região estava inchada - uma conjunção óbvia de suas noites mal dormidas e do estresse que passava com o trabalho e a especialização. Ele estava tão acabado, que as maçãs de seu rosto poderiam ser usadas para cortar uma salada, as bochechas começavam a afundar e sem a barba parecia que ele era um dos walkers de the walking dead.

Às vezes, Louis sentia as solas de seus pés tão desgastadas que o simples ato de manter-se em pé era demasiado doloroso. Um esbarrão de uma de suas colegas quase fizera com que ele fosse lançado ao chão, de tão débil e enfraquecida que se encontrava a casca que apelidou de corpo. seu cabelo permanecia desgrenhado apontado para tantas direções que os fios estavam fragilizados após tantos puxões que Louis dera como forma de aliviar a tensão de um plantão agitado - e como alívio para todos os pensamentos corrosivos entorno do rumo que o Destino parecia estar traçando pelo caminho que ainda havia para percorrer.

- Louis, você tá horrível - Niall disse assim que entrou na sala de descanso com dois copos de 400 ml de café puro, um deles destinado enfermeiro, que tinha deitado de bruços.

Há dias Louis carregava um sentimento estranho em seu peito, que ele sabia ser em partes pela consolidação de Harry enquanto sua alma gêmea e também pelo resfriamento súbito de seu relacionamento. Parecia, as vezes, que parte de si mesmo tinha se transformado em uma matéria incompatível com seu corpo, como se água e óleo coexistissem na mesma pessoa, e tal como na natureza fossem impossibilitados de se misturar. Densidades de si mesmo interagindo e repelindo uma à outra.

- Eu quero morrer - respondeu, sentando a contra gosto e franzindo o nariz. Niall engoliu em seco, estendendo o café fumegante que mantinha em mãos.

Uma coisa era certa, apesar dos inúmeros acontecimentos que faziam Louis odiar o Destino e suas nuances, Niall era uma que quase o fazia amá-lo. Ao longo dos anos de amizade, Niall continuava sendo a mesma figura sólida e permanente em sua vida, mesmo após conflitos vorazes o suficiente para mandar duas pessoas para pólos opostos do planeta, ele continuava ali, firme, presente.

Louis levantou os olhos do tecido acolchoado, para mirar os olhos igualmente cansados de Niall. A semana não estava perdoando ninguém no aspecto trabalho, visto que Niall tinha o cabelo espetado e o rosto com várias espinhas ameaçando saltar em sua bochecha direita, como resultado do estresse. E mesmo imerso em tantas obrigações, ele conseguia algum tempo para ouvir Louis e suas lamentações sobre o Destino, suas angústias e inseguranças sobre coisas as quais ele não possuia controle algum.

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