pt.2 da tragédia, [não querer]

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Phoebe, a irmã mais nova de Louis, costumava ser uma criança medrosa que corria para se esconder sob as cobertas do irmão sempre que se sentia angustiada por alguma coisa. Dessa maneira, eles sempre amanheciam assistindo Shrek e repetindo todas as falas. Talvez isso pudesse ser considerado uma piada de mau gosto, mas parecia que todos os Tomlinson carregavam problemas no que se resumia à sentimentos. 

Quando Mark foi embora, Louis passou a não esperar mais que ela fosse para seu quarto. Pelo contrário, ele quem levantava, as meias sujas escorregando sobre o piso liso e o travesseiro embaixo do braço — abandonava a própria cama porque não sabia como lidar com aquela ardência que tomava não apenas seu peito mas também fazia sua cabeça latejar em estresse. Era nos braços da irmã mais nova de todas as quatro, que ele conseguia sentir o sossego escorregando sob sua pele e acalmando todo aquele fogo chamado saudade, tristeza e decepção. 

Com aquela pouca idade, e um vocabulário igualmente escasso de variedade, e muito Shrek em sua mente, Louis assimilou a dor à uma cebola. E, depois de adulto, ele tinha pouco a acrescentar em sua concepção já fixada. A dor, em congruência com a cebola, tinha camadas — depois dos vinte Louis começou a sentir um pouco de vergonha de pensar assim, então associou ao efeito dominó basicamente para repetir à si mesmo a exata mesma coisa que pensou ao longo de anos e anos à fio: começa com um motivo superficial, começa leve, e depois são tantas coisas cadenciadas acontecendo que a dor assumia uma imagem monstruosa e sufocante. A ponto de ele nunca conseguir falar sobre.

Era uma experiência singular e particularmente intensa. E ele não teve dúvida de que passava ao menos algumas nuances de todo jogo que significava e definia a dor naquele momento, e ambas advindas de um mesmo tópico: o amor.

Conforme o 72 se fazia presente em uma gravação enegrecida contra a tez pálida de seu pulso, diante do azul poderoso e envenenado dos olhos de Taylor, ele sentiu dor. E não apenas por si próprio, mas porque no olhar de Taylor ele conseguia captar emoções diferentes flutuando nas íris bonitas: angústia, medo, inverno, tempestade... dor. Ele assistia os lábios róseos curvando-se para baixo, o queixo afiado tremelicando, e lágrimas inundando o azul mais apaixonante sob o qual ele já pôs os olhos. 

Louis recusava-se a prestar atenção nos traços finos dos números, mas precisou encostar a cabeça no apoio do sofá enquanto sentia o Destino cravar a porra de um carimbo em sua pele, como se ele fosse parte de um rebanho caminhando para o abate. Por um ínfimo, mas longo o suficiente segundo, Louis sentiu o coração bater em um ritmo estranho — erraticamente, tantas vezes que precisou arfar por ar enquanto levava uma das mãos ao peito. Parecia que seu miocárdio tinha se perdido no próprio ritmo e agora lutava para encaixar-se à um completamente diferente.

— Baby... — a própria voz parecia incapaz de manter-se firme diante da constatação daquilo que ele mais temeu desde que aprendera sobre o maldito cronômetro.

Louis não ia pensar sobre fisiologia de predestinados, e não daria atenção ao post-it laranja neon que apareceu pregado em sua testa — de uma forma metafórica — com os dizeres:

Predestinados podem compartilhar a mesma frequência cardíaca, e é comum que um eletrocardiograma se apresente da mesma maneira para ambos: por isso a necessidade de exames complementares.

Era uma anotação boba, de seus anos de faculdade. Louis bufou, assustando Taylor.

A distância física entre os dois era ínfima — menos de vinte centímetros entre as mãos sobre o estofado do sofá — E, no entanto, parecia haver um abismo distanciando o casal. Louis sentia o estômago retorcer de forma estranha enquanto o peito ardia em chamas dando indícios de uma crise de ansiedade; e dando forma física à toda aquela dor que eprmeava a atmosfera entre eles. 

Timer after time [lwt+hes]Where stories live. Discover now