pt.12 do amor, [precisar]

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A garganta de Harry protestou vigorosamente conforme seu nervosismo lhe fazia engolir em seco pela terceira, ou sexta vez, em tão pouco tempo. O braço doía um pouco sob o casaco, fruto da sessão de fisioterapia com Niall - e os pensamentos caminhavam sob uma trajetória espiralada e confusa.

Já fazia dois meses desde o acidente com o braço, e um período de tempo não tão menor desde que Louis parou de frequentar sua cozinha durante as madrugadas silenciosas do bairro residencial - ou, a casa deles como um todo.

Uma ausência que Harry percebeu dolorosamente.

Já estava acostumado com a aproximação arisca do enfermeiro - que tal como um felino, arrodeava a mão oferecida, rosnava, e só então aceitava o afago. Louis Tomlinson era como um grande felino, desde os olhos até os passos silenciosos e meticulosos de uma pessoa com grande consciência corporal.

E agora não tinha mais daqueles momentos tão efêmeros.

Louis Tomlinson e Harry Styles eram praticamente um postulado da física, ou como asteróides orbitando uns aos outros, a porra da Lua orbitando a Terra.

Essa atração pela presença um do outro era tão densa quanto a malha do espaço-tempo.

Inevitável.

Sempre ao descer enrolado em seu moletom mostarda, as vezes portando um exemplar de Orgulho e Preconceito, cabelos sujos amarrados para cima - outras o notebook e seu óculos de grau redondo com as lentes arranhadas - qualquer que fosse a ocasião, era só colocar a chaleira no fogo que logo escutaria os rangidos da madeira.

Louis Tomlinson sempre descia as escadas devagar, com o cabelo que já passava um pouco dos ombros despontando em várias ondas castanhas, as vezes só com a calça de moletom, outras com um moletom rosa queimado. Mas sempre descia, sempre descalço, e sempre dizia "Boa noite, Styles" ainda que não verbalizasse em excesso pelo resto da noite.

Eram silêncios confortáveis, sob a luz amarelada da cozinha. Vez ou outra uma conversa rasa.

Agora o silêncio era um pouco superestimado.

Agora era Taylor quem descia as escadas todos os dias, usando o mesmo moletom de Louis - que aparentemente ele esqueceu ali. Agora era ela quem ocupava a cadeira à sua frente, com o cabelo liso escorrendo como uma cortina sobre os ombros, com olheiras tão profundas de cansaço que Harry se questionava se elas não doíam ao toque.

E ela, que sempre foi sua amiga forte e altruísta demais, parecia cada vez mais perto de ter um colapso.

Ela disse que o trabalho era difícil, a região perigosa demais, tanto que mal conseguia descobrir seu rosto da bandana, usando lentes de contato castanhas e nunca revelando o rosto nem se estivesse morrendo de sede.

E jamais usando o carro compartilhado com Harry para ir para a sede da polícia.

Harry se pegava constantemente nervoso com essa nova vida de sua melhor amiga.

Tinha medo que algo acontecesse durante as missões, porque Taylor não estava bem.

Eu sei que ele descia atrás de você

Ela disse em uma das madrugadas, e Harry queimou a mão na chaleira de água fervente.

Não desse jeito

Respondeu enquanto virava de costas para colocar a mão sob a água corrente.

Eu sei que não, H. Só... você sabe que pode sentir a falta dele também, tá?

Sua amiga agora vivia cansada, com olheiras profundas, e Harry desconfiava de que ela não comia direito porque os músculos pouco a pouco iam cedendo para uma aparência magra e fragilizada.

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⏰ Last updated: Apr 11, 2022 ⏰

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