Pesadelos |27

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Mas nós nunca vamos sobreviver, a não ser que
Fiquemos um pouco loucos.
Não, nós nunca vamos sobreviver, a não ser que
Fiquemos um pouco loucos.

Crazy – Alanis Morissette

PESADELOS [27]

[ Cailin ]

Abra os olhos.

Foi o que ouvi, e obediente, abri.

Por um momento, me enganei ao pensar que minha visão estava apenas se acostumando à falta de luz daquele desconhecido local para mim. Mas era a tão temida escuridão ali.

Literalmente, a escuridão.

Meu corpo recebia estímulos de minhas sinapses nervosas assim que percebi que flutuava e que não conseguia enxergar nada. Era uma terrível sensação aquele intenso frio na barriga ao não estar tocando em absolutamente nada.

Como se eu estivesse caindo. Assim como a boba Alice, caindo na toca do coelho branco.

Mas ali não havia nenhuma comida ou bebida mágica para crescer ou diminuir de tamanho. Muito menos um coelho falante.

Estimulada pelo medo e pela adrenalina liberada em minhas veias, grito inutilmente na tentativa de aliviar qualquer que fosse minha tensão. Mas não existia ninguém ali. Apenas eu e minhas lágrimas que, ironicamente, flutuavam ao meu redor. Eram pequenas gotas salgadas que me faziam companhia naquela estranha solidão.

Ousei até conversar com elas e, mentalmente, me perguntei se estava ficando louca. Ao mesmo tempo que pareciam segundos ali, também pareciam horas. Não sabia distinguir o entranho relógio contrário em meus pensamentos.

Tique-taque. Um pequeno barulho sussurrado em meus ouvidos. Tão claramente que procurei o som novamente, iludida.

Mas o som retornou. Tique-taque. A cada tique, um taque mais alto. Desesperadamente, tampo os ouvidos quando o som já se tornava ensurdecedor. E quando sinto minhas mãos molhadas do sangue de meus ouvidos, grito de dor pelos tímpanos estourados.

E é só quando caio no apagado gramado, que o som tem seu fim.

Não conseguia ouvir mais nada, estava surda. E encolhida no chão, temia levantar e encontrar mais um obstáculo que seja. Choro sozinha, impossibilitada de escutar os meus próprios murmúrios, sentindo as lágrimas escorrerem livremente como se brincassem de pega-pega. A única sensação que sentia era a dor. E o único sentimento que estava ali comigo era o medo.

E é quando em minha frente, a alguns metros, enxergo a pequena fagulha do fogo. Crescendo, se alimentando cada vez mais daquela escuridão. E provavelmente de mim.

Mas ela cessa, e de olhos arregalados, observo pessoas saindo do fogaréu. Pensando intensamente em como aquilo era impossível, me levanto lentamente na esperança de receber ajuda deles.

Caminho na direção do fogo, com o rosto e as mãos sujas de meu sangue. E assim que chego perto o suficiente para reconhecer os rostos, paro meus passos.

Pyromaniac [myg]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora