Provas |17

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Nenhum lugar para correr.
Não há lugar para se esconder.
Isso é loucura, loucura, loucura.
Loucura, loucura, loucura.

Madness – Ruelle

PROVAS [17]

[ Narrador: on ]


" Querido Diário,

Não hesito em me sentir estranha e infantil nesse momento. Aliás, poucos jovens ainda possuem um diário e muito menos escrevem nele como faziam na adolescência. Porém, a vontade de escrever o que sinto está se tornando um incômodo forte em meu peito, um incômodo insuportavelmente bom.

Hoje na aula, aprendi que nosso sistema nervoso periférico é dividido em dois. Somático e autônomo. Resumindo, o somático está relacionado aos processos de controle voluntário. Como por exemplo o fato de eu estar escrevendo agora. Quem faz os movimentos com minha mão sou eu. Obviamente, o autônomo seria o contrário. Ele está relacionado aos controles involuntários, como o fato do meu coração bater ou então eu respirar. Eu não mando nisso, certo? Acontece involuntariamente.

E no meio da aula, enquanto ele olhava para mim com um sorriso de canto, pude perceber que meu sistema nervoso periférico autônomo é quem está no controle daquela situação, e não eu. Confesso que isso não é nem um pouco gratificante e que tudo seria mais fácil se eu estivesse no controle, porque, de forma involuntária, eu o amo.

A metáfora que me perdoe, mas nos conectamos de forma esplêndida, assim como o Sol e a Lua. A única diferença é que somos dois amantes livres, não tristemente separados. O único obstáculo a se observar sou eu mesma. Tenho medo, receio, hesitação e mais seus diversos sinônimos. Ele é uma galáxia inteira, rico de constelações e nebulosas. Enquanto eu, querido diário, sou apenas uma matéria sem luz.

Mas me sinto cada vez mais próxima dele, como escrevi antes, de forma involuntária. Como se ele fosse um buraco negro, me puxando para cada vez mais perto. Meu coração agradece por isso, meu cérebro ainda continua hesitante e eu, uma mera humana, estou presa nesse debate de razão e emoção.

Será que posso levar em consideração a ideia dele ser o Sol que iluminará a minha Lua?

Cailin Tullis • 29/08/2011"

Aquela memória parecia querer atormentar Cailin pelo resto do dia, o que a levava a pensar em sua mudança. A resposta para aquela última pergunta seria com certeza um não, e ela negava de todas as formas voltar a ser cega a ponto de se deixar enganar por alguém.

E esse era o ponto. Ela não queria ser enganada novamente, o que era um pouco irônico para a situação em que ela se encontrava. A doutora odiava confessar, mas estava em um campo minado e a qualquer momento uma bomba iria explodir.

Após um suspiro pesado provido de um longo e cansativo dia, Cailin sai do metrô, caminhando na direção contrária a de sua hospedagem. Lembrava claramente das palavras de Yoongi ao fazer referência a Baekhyun. Ele havia afirmado que o doutor já teve Yoongi e seus amigos como pacientes. Porém, sua memória martelava em sua mente que no primeiro dia de trabalho, Baekhyun havia dito que nunca teve-os como pacientes.

Seus pensamentos se resumiam em um só: descobrir qual dos dois estaria mentindo.

Após adentrar o apartamento, subir até o andar escolhido pelo elevador e tocar a campainha, Cailin observa o rosto de seu amigo confuso por vê-la ali. O mais velho estava com um engraçado avental e com os dedos melados de farinha e achocolatado em pó.

Pyromaniac [myg]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora