Jonas

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Eu estava com enxaqueca fodida, Lauren ja tinha ido embora e eu estava ali de frente o portão tentando criar coragem pra entrar com uma criança, Jonas tinha me feito o favor e estava no ultimo sono dos anjos.  Minha mãe provavelmente estaria na igreja uma hora dessas então talvez eu tivesse mais tempo para pensar numa explicação boa.

Abri o portão devagar pra não acordar Jonas, dei a volta pelo corredor e entrei pelos fundos, o deixaria no meu quarto primeiro. Achei estranho a porta dos fundos estarem abertas, mãe sempre fechava quando saia, dei de ombros e segui até meu quarto. Coloquei o catarrento na minha cama e liguei o ventilador pra ele, só então fui esconder o dinheiro dentro do meu guarda roupa.

Sai de fininho pelo corredor e engasguei com a cena que vi na sala, mainha estava dormindo aconchegada nos braços, de nada mais, nada menos que a mulher da pizzaria, eu não lembrava o nome dela nem a pau.

— mãe... — Dona Sinuh, recatada do lar, evangélica estava apenas de top e short, eu não queria jugar, não, longe disso, mas era muita hipocrisia do caralho, qual é! Vai me dizer que ela era do cartel de trafico tbm? —mãe!

— filha? — ela me olhou torto enquanto buscava seus óculos no encosto do sofá. — o que está fazendo aqui? Você tinha que estar trabalhando.

— e a senhora tinha que estar na igreja, mas já que não estamos em nossos locais corretos, me explique o que está acontecendo porque sinceramente eu até acho fofo a senhora ter alguém, mas... é meio complicado porque você preferia que eu embuchasse de zé aleatório do que namorar meninas.

Qual era o nome dela mesmo, Elis, Eloá.

— eu... Eu sinto muito que tenha visto uma cena de pecado dessas filha, eu juro que vou conversar com pastor para que ele ore em mim.

– ELISABETH! Lembrei teu nome — apontei pra mulher branca, rechonchuda, suas bochechas estavam tão vermelhas que pareciam tomates.

— eu gosto da sua mãe, mas parece que ela não está no mesmo planeta que a gente neste momento, eu vou colocar minhas roupas e pegar o caminho da roça antes que ela comece a falar em línguas.

— Elisa... — minha mãe se virou para a sapatão fofa, e vi o brilho em seus olhos, elas se amavam. Porra isso era tão legal que eh conseguia deixar todo o meu problema com o quartel de drogas de lado.

— já chega desse personagem Sinu, sua filha não tem mais cinco anos de idade.

— eu preciso pensar! — ela caminhou pelo corredor indo até a cozinha. Elisa evitava me olhar enquanto colocava as calças.

– sua mãe as vezes me dá medo, na verdade vocês duas me dão medo.

— ela foi boa em esconder você... — peguei sua jaqueta xadrez e entreguei a ela, só então frizei os olhos num porta retrato que tinha na estante da sala e vi uma foto de mim e mainha na saida da igreja e Elisabeth estava lá, bem no canto. Em outro porta retrato Elisa estava conversando com minha mãe ao fundo, enquanto uma selfie minha na festa de aniversário tomava quase todo o espaço. — na verdade ela não é tão boa em esconder você, eu que fui muito burra em não reconhecer os sinais.

— que sinais?

— ela nunca quis se casar, sempre recusava qualquer convite dos varão viúvo da igreja, uma vez eu vi ela xingando o perfume do pastor, falando que odiava kaiak.

Elisa gargalhou se sentando no sofá.

— eu super aprovo vocês duas, tenho nada contra não, é até bom sabe, você parece legal.

— eu faço pizza.

— vou xingar minha mãe depois por ela esconder você. 

Elisabeth decidiu esperar Sinu, minha mãe estava falando sozinha na cozinha enquanto fazia café.

— você não chegou de caminhão — minha mãe ofereceu a xícara para Elisa e depois para mim.

— eu vendi ele, aquela foi minha última viagem. Resolvi me aposentar, até porque não vou ter mais tempo para viajar.

— mais tempo? — Elisa e Sinu disseram ao mesmo tempo.

— é que eu tô... bem complicado...

— você tá grávida? — Elisa perguntou enquanto Sinu me olhava zangada.

Eu ia responder quando um choro vindo do meu quarto tomou conta da casa e eh olhei para as duas.

— esse garoto da vizinha que chora toda hora, ja falei pra Bernadete não dar doces pra ele que da dor de barriga, mas eles são muito irresponsáveis.

Veronica me daria uma surra se visse onde seu filho estava nesse momento, numa casa se doidas.

— não é o filho da vizinha mãe, é o Jonas — caminhei até o meu quarto sendo acompanhanda pelas duas sapatonas. — Sinuhe e Elisa, esse é o Jonas. — o menino assim que me viu parou de chorar e abriu um sorriso banguela.

— caraca, nem acredito que serei avó aos trinta e cinco anos

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— caraca, nem acredito que serei avó aos trinta e cinco anos.

— filha, onde você arrumou essa criança?

— o nome dele é Jonas Iglesias Cabello. Eu adotei ele antes se vir pra cá.

— assim do nada? Tu ganhou ele no bicho! Pior, você comprou ele com aquela mulher da novela que rouba crianças! Temos que chamar a polícia.

— não é nada disso dona Sinu, Jonas é um garoto muito esperto, eu o adotei tenho todos os documentos dele, ele é meu filho e vai ficar conosco até ele crescer.

— finalmente crianças nessa casa – Elisa pegou um frasco com álcool em gel e passou nas mãos, antes de segurar o garoto no colo, o menino pareceu gostar dela pois começou a apartar seu nariz enquanto fazia sons com a boca.

— se tu tiver metida com tráfico minha filha, eu te dou uma surra — Sinu tirou o fone de ouvido do bebê e deu um beijo na sua bochecha.

— nada disso, desinfeta essa mão antes de pegar ele — Elisa apontou o frasco de álcool, Sinu fez cara feia, mas foi limpar as mãos antes de pegar o filhote da Vero.

Ignorei as duas babonas e fui tomar banho, pelo menos agora ficaria tudo bem, sem que minha mãe soubesse da origem exata do Jonas e do dinheiro que estava no meu guarda roupa. Elisa pediu pizza, enquanto Sinu trocava a fralda e dava mamadeira pro garoto.

Uma semana se passou com a gente naquela rotina, eu cuidava de Jonas, minha mãe ia na feira, Elisa ia trabalhar, Jonas chorava minha mãe brigava comigo por ter dado doces a ele, mas ele nem comia ainda. Só então ela se tocou que estava saindo mais uns dentes do garoto, e aquilo era a causa do chororo todo. Lauren enviou os documentos pelo motoboy, carteira de vacinação, plano se saúde e uma ficha de adoção, além de um malote com mais dinheiro e uma ficha de compra e venda do meu caminhão, ao menos aquele dinheiro eu conseguiria depositar. Minha mãe me obrigava a ler vários artigos sobre bebês, eu lia para Jonas que pareceu gostar da minha voz, o menino até dormia.

Na verdade cuidar do pequeno tampava um pouco a saudade que eu sentia de Lauren e Vero.

Elisa entrou com a pizza, e atrás dela tinha um carro preto, parado, meu coração bateu com força, Jonas estava no meu colo tentando enfiar a mão na boca, esperei Elisa entrar e me aproximei do veículo. O vidro do passageiro abaixou e eu consegui ver quem estava lá dentro.

UMA CAMINHONEIRA SEM FREIOWo Geschichten leben. Entdecke jetzt