Lan WangJi sai do Departamento de Direito. Sai da universidade. Sai de algo que consistiu em sua vida durante seis anos. E aquele era o passo que faltava para WangJi estar completamente livre para voltar.

A casa em que Lan WangJi entra não é a mesma na qual ele entrou há treze anos, quando chegou ao Canadá com seus pais e seu irmão. Também não é tão grande e tão habitada como aquela. Mas era seu lar. Havia sido seu lar – e o de Lan XiChen, seu irmão – depois de terem perdido os pilares de sua família, seus pais.

Lan WangJi anda pela casa procurando pelo seu irmão, até que o encontra na salinha dos fundos que funciona como um pequeno depósito. Lan XiChen está ajoelhado em frente a uma caixa, mexendo nos objetos que estão dentro dela. Lan WangJi se ajoelha ao seu lado e imediatamente identifica o conteúdo da caixa.

Era uma das caixas com os objetos de seus pais e, no momento, XiChen está olhando para um caderno de anotações de sua mãe, no qual ela escrevia coisas aleatórias sobre seu dia a dia, seus filhos e até receitas de comidas que ela raramente fazia.

— As caixas vão chegar uma semana depois da gente, no máximo. — Lan WangJi diz observando o irmão.

Lan XiChen sorri fraco.

— Eu sei, estou apenas me despedindo. Dando um "até logo", na verdade. — O irmão responde enquanto guarda os objetos de volta na caixa.

Os dois se levantam quase ao mesmo tempo, fazendo jus ao que todos falavam: que Lan WangJi e Lan XiChen pareciam irmãos gêmeos. As pessoas costumavam dizer isso pela aparência semelhante dos dois e pela conexão que apenas irmãos gêmeos demonstram.

— Todas as suas malas já estão prontas? — XiChen pergunta assim que ambos saem da sala dos fundos. WangJi assente e eles continuam caminhando juntos pela casa, observando cada detalhe dela pela última vez.

— Então só nos resta esperar pelo caminhão que vem buscar as caixas e irmos para o aeroporto. — Lan XiChen fala.

WangJi percebe o nervosismo do irmão quando ele recita os planos em voz alta para tentar se acalmar, para convencer a si mesmo de que isso está acontecendo. Mas não há nada a responder que mudará a situação ou acalmá-lo de verdade. Eles estariam novamente na China em algumas horas, e aquela havia sido uma decisão mútua.

Não fazia mais sentido continuar no Canadá sem os seus pais, afinal tinha sido por eles que a família havia viajado para o Canadá há treze anos. Lan WangJi e Lan XiChen sentem falta de muitas coisas que só haviam no seu país de origem. Eles querem e precisam voltar.

Lan Wangji quer voltar. Ele precisa voltar, e este é um sentimento que o consumia desde o primeiro dia naquele país tão diferente, longe de tudo que ele já conhecia e já estava acostumado. WangJi sente algo o chamando de volta. Ele sabe o que é, e necessita disso.

CHINA.

A mansão de Lan QiRen continua tão idêntica a como era há treze anos que Lan WangJi consegue até se sentir como um pré-adolescente de novo. Ele obseva os portões enormes e bem desenhados que dão entrada ao grande jardim de seu tio, Lan QiRen, o qual nunca deixava ninguém que não fosse de sua confiança cuidar.

De dentro de carro, no qual os irmãos são levados em direção à mansão, a mente de Lan WangJi divaga para um momento de muitos anos atrás. Para dois meninos – por volta dos sete, oito anos talvez? – sentados em um dos bancos que ficam distribuídos ao longo do jardim. Um deles gargalhando alto enquanto tenta colocar uma flor no cabelo do outro, que faz uma cara emburrada, como se não achasse aquilo nem um pouco engraçado.

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