prologue

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— Hey. Achei que você não viria, amor.

Senti meu corpo estremecer.

Amor.

Uma coisa que eu não sinto por ela a muito tempo.

A menor andou até mim. Seu rosto estava vermelho, olhos inchados, cabelos desgrenhados. Eu não lembro qual foi a última vez que eu a vi arrumada, ou sorrindo.
Era sempre assim. Todos os dias, eu era invadido por uma onda de negatividade.

Eu juro que tentava entender. Tentava entender todos os seus problemas com autoestima, todos os seus problemas com os seus familiares, todas as suas inseguranças. Eu juro que tentava.

Mas eu não conseguia. Eu não conseguia mais sentir empatia. Sempre que ela vem chorando em meus braços e diz que me ama, eu tento dar o meu máximo para sorrir e conforta-lá, apoia-lá e ajudá-la. Mais a muito, muito tempo, eu sinto apenas indiferença.

Parei de sentir meu peito doer a cada soluço, parei de sentir pena quando ela contava mais um defeito que achava em si mesma. Eu não consigo mais ama-la. Por mais que doa, eu não consigo mais sentir nada por ela. Eu acho que, ficar no meio dessa relação, está me causando tudo menos compaixão.

Eu estava sufocado.

Precisava respirar, sair dessa, pensar direito.

Eu mereço mais do que ficar ouvindo choros e mais choros, lamentações e mais lamentações.

— Camila, precisamos conversar. — Segurei em seus braços delicadamente, quando ela tentou me abraçar. Segurei minha vontade de revirar os olhos quando vi os seus, lacrimejarem.

— Aconteceu algo? Você está bem? — Ela fungou e tentou me tocar, e eu, sem hesitar, afastei meu braço.

— Eu não posso mais ficar com você. — Falei direto.

Ela arregalou seus olhos grandes para mim, parecendo assustada. Em seguida, cambaleou um pouco para trás, segurando no sofá branco, ao seu lado. Ela olhou para o chão, ficou assim por alguns segundos e fungou. Eu já estava sem paciência.

Eu sei. Ela já passou por muita coisa.

Ela sofre com baixa autoestima desde que tinha dez anos de idade. Já sofreu com distúrbios alimentares, já ficou internada, já tentou suicídio.
Descobriu apenas aos doze anos que tinha depressão e ansiedade. Ela sempre acordou no meio da noite em crises de choro, tremedeiras, sonhos irreais, com medo de coisas que nem existiam. Descobriu sua síndrome do Pânico. O medo absurdo de sair na rua, de interagir com pessoas, de se aprofundar em relações.

Ela sempre foi problemática, e eu, desde sempre senti vontade de cuidar e proteger ela.

Não mais.

— Eu... Eu... O que eu fiz de errado? — Ela me olhou. E eu vi lágrimas livres rolarem de seus olhos. E eu não senti um pingo de pena.

Sua face vermelha pelas lágrimas, derrepente, ficou pálida.

— O que você fez de errado? — Segurei minha vontade de rir ironicamente. — Você passa o dia todo se lamentando. O dia todo chorando pelos cantos. Nem na escola você para, Camila! Eu não suporto mais você. — Tentei não alterar meu tom de voz. Eu não queria ser grosso. Só queria colocar um ponto final naquilo de uma vez.

— Eu sei, Shawn. Eu sei que sou insuportável, mais você prometeu me ajudar a passar por isso. — Ela me olhou e novamente baixou a cabeça. — Eu achei que estávamos indo bem e-

— Não Camila, não estamos indo bem. — A interrompi. Ela novamente me encarou, assustada. — Este relacionamento está saturado, só você que não vê. Eu me sinto sufocado no meio das suas lágrimas. Eu não aguento mais essa sua situação decadente. — Vi algumas gotas caindo no chão, então, percebi que eram suas lágrimas.

Three Empy Words • ShawmilaWhere stories live. Discover now