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Por narrador

Cojimar, Cuba

17 anos atrás

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— Tudo certo? Você já está com a pirralha? - o homem indagou, enquanto ajeitava o chapéu preto na cabeça. — Vamos logo antes que alguém apareça.

Eles estava no quarto infantil da casa, era de madrugada e por incrível que pareça, chovia lá fora. Era uma tempestade conturbada, ventava muito e galhos voavam, batendo nas janelas da casa. Trovões cortavam o ar, e de vez enquanto, raios, iluminando os cômodos da casa.

— Vamos logo! O que está esperando? Ande!

Ele apressou a mulher, grunhindo. Ela se adiantou diante do tom de voz dele, pegando a criança pequenininha, que tinha os cabelos cheios e escuros, olhinhos grandes e pele clarinha, tendo apenas três semanas de vida, a enrolando em um lençol branco. A criança dormia profundamente, provavelmente por ter sido dopada, para não acordar no meio do processo.

— Você acha... Você acha isso correto? - ela hesitou enquanto olhava o rostinho sereno da menina. — Ela... É só uma criança. Né? — Ela mordeu os lábios enquanto encarava o rosto adormecido da bebê.

— Vai dar pra trás agora? - Ele bufou. — Você não lembra? Não lembra o que essa criança te fez? Ela te separou do amor da sua vida. A culpa é dela. E você sabe que pegando ela, vamos fazer ele sofrer. Eles vão pagar por tudo o que te fizeram. Achei que isso fosse o suficiente para fazer você agir. Não amarele  agora. Nós estamos nisto juntos, e você não vai me deixar só nessa.

Sua voz era grave, e ele mantinha as mãos na cintura, em sinal de impaciência.

A mulher olhou a criança mais uma vez, e então olhou o quarto e finalmente para o rosto do homem a sua frente. E então, suspirou, segurando a menina com mais firmeza nos braços.

— Você está certo. Você está certo. Eles merecem isso. Eles vão pagar por tudo o que fizeram. E eu vou ter o maior prazer em ajudar a acabar com a vida deles. E principalmente, com a dela. Essa criança nojenta que eu vou transformar num ser infeliz. — Ela assentiu com com rapidez, em um ato decidido.

— Caminhe, então. Rápido, antes que eles acordem com algum barulho e venha aqui olhar a... olhar essa coisa. — Gesticulou para a menina com cara de nojo e então, logo estava ao lado dela.

Botou a mão esquerda na base das costas da mulher e então a guiou para fora do quarto, que era decorado em tons de rosa e amarelo, um papel de parede com passarinhos enfeitava as paredes, brinquedinhos estavam espalhados pelo chão, e um cheirinho aconchegante de bebê pairava no ar. Também tinham vários portas retratos, tanto de fotos da criança, tanto fotos com os pais e a bebê.

Apesar de só ter uma semana de vida, a menina tinha várias fotografias que enfeitavam o quarto. Fotos da mãe da menina no parto, fotos da criança no berçário, fotos do casal saindo da maternidade, fotos da bebê em casa, no bercinho, fotos com vários vestidinhos e lacinhos diferentes, fotos com familiares, primos, amigos. E claro, muitos sorrisos, abraços.

Era uma família amorosa. Eles a amavam. Mais do que qualquer coisa nesse mundo, ele tinha certeza.

O homem sorriu enquanto eles saiam da casa. Eles a amavam, e agora a perderiam. E ele não podia estar mais feliz por imaginar todo o sofrimento que causaria aquele casal, e em breve, a própria criança, fruto daquela relação. Daquela relação repulsiva.

Three Empy Words • ShawmilaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant