Eu posso sentir a sua presença

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Harley estava sentado no chão, o rosto escorado nos joelhos, o choro abafado no silêncio mortal do quarto. Nenhum dos outros garotos ousava dizer nada, Lucas finalmente tinha conseguido parar de chorar e agora estava escorado no ombro de Sander, então o único ruído era o nariz entupido de Dylan e os soluços que ele não conseguia controlar vez ou outra.

Eles sabiam que não havia nada que pudessem dizer ou fazer naquele momento, Harley precisava daquele tempo para processar as coisas, mas se encarregariam de lhe fazer companhia durante o processo. Então naquela noite, todos eles dormiram na casa do garoto, mesmo que ele tivesse dito que não precisava.

Sander organizou os colchões no chão e os quatro deitaram juntos, Lucas e Dylan se abraçaram para dormir confortando um ao outro e Harley deitou de costas para eles do outro lado, não conseguindo nem sequer encarar seus amigos. Ele estava grato porque eles estavam ali com ele, sabia que se estivesse sozinho na cama a falta de Nicolas lhe doeria ainda mais, mas em sua cabeça só conseguia sentir que estava vivendo um filme de terror ou um pesadelo esquisito do qual ele queria logo acordar. Não era possível que amanhã iria acordar e seu grande amor não estaria ali para lhe dar bom dia e sorrir com os olhos amassados de sono. Ele nem achava que estava pedindo por muita coisa, embora reconhecesse que bem... Queria que alguém que estava morto vivesse ao lado dele, mas achava que aquele não era um pedido tão impossível de se conceder, não quando o relacionamento deles tinha sido absurdo desde o começo.

Mas ele precisava aceitar, de formas como não estava preparado ainda para encarar a realidade, a viver sem ele. Sabia que a única coisa que acalmaria seu coração seria o tempo, porém tinha certeza que acordaria todas as manhãs e pensaria nele e recordaria seus momentos juntos até os últimos dias de sua vida.

- Ei, você quer um abraço também? – Sander perguntou de brincadeira, já que os outros dois estavam abraçados confortavelmente.

Harley estava de costas para ele, mas o amigo conseguiu ver a cabeça do outro balançando de forma positiva, reação que ele jamais tinha esperado receber. Na cabeça de Sander, ele havia feito a piadinha apenas para quebrar a tensão do ambiente.

- É sério? – perguntou surpreso e se aproximou do amigo? – Você quer um abraço meu?

O outro balançou a cabeça em afirmação de novo, e então Sander o abraçou por trás, colocando os braços ao redor dele de uma forma um tanto protetora. Harley voltou a chorar ao receber o apoio do amigo, o que partiu o coração de todos naquele quarto. Aquela foi uma longa noite, tão longa que eles mal conseguiram dormir por conta das lágrimas, das lembranças e da vontade de poder voltar no tempo e viver tudo aquilo de novo.





Nicolas estava deitado em sua cama depois de seis meses, mas não a reconhecia mais, como se sequer fosse dele. Seu quarto também lhe parecia estranho, o de Harley foi seu lar por tanto tempo que não sentia como se pertencesse mais ali, porém sabia que precisava se acostumar à vida de ceifador novamente.

Evan havia lhe preparado um chá quente e deitou com ele na cama para lhe fazer companhia. Ele contou algumas histórias que achou que eram divertidas e até ousou algumas piadinhas – que não eram seu departamento – mas Nicolas não conseguia nem se esforçar para rir. Havia momentos em que achava que estava tudo bem, mas apenas alguns minutos depois lembrava de Harley e de seus amigos e as lágrimas lhe voltavam aos olhos. Evan o acolheu nos braços e disse que era melhor que ele chorasse tudo o que precisava chorar agora, mas não imaginou que o amigo choraria noite adentro, um choro pesado e dolorido que o fez repensar uma série de coisas.

Meu Querido CeifadorWhere stories live. Discover now