Cinco filhos, dois cachorros, uma vaca, um porco e galinhas

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Nicolas já havia pegado no sono depois de todas aquelas palavras amorosas trocadas com Harley, mas o garoto ainda estava de olhos abertos, encarando o teto do quarto. Ele olhou para o relógio e notou que passava da meia noite, mas seu cérebro não queria parar de funcionar. Rendido, levantou e foi buscar alguma coisa para comer no andar debaixo, quem sabe mastigar qualquer coisa o ajudasse a ficar com sono.

Seu pai estava dormindo no sofá da sala quando ele desceu, a televisão ligada em um filme de guerra – o barulho do tiroteio era alto, mas o homem dormia profundamente como sempre fazia. Dormir no sofá era praticamente parte da rotina dele, o que Harley achava um tanto bizarro, já que ele tinha uma cama bem confortável no andar de cima.

Ele foi até a cozinha e pegou alguns cookies de chocolate, enquanto subia novamente para o quarto. Ao passar pelo escritório, percebeu que sua mãe estava trabalhando no computador. Antes que pudesse controlar suas pernas, se pegou parando diante da porta, o olhar cravado nela e uma sensação desconfortável no peito... E então ele percebeu por que não conseguia dormir: A história da mãe de Nicolas ainda estava assombrando sua mente.

- Trabalhando? – ele perguntou.

A mulher levou um susto e olhou para ele surpresa.

- Harley – disse – Ainda acordado? Amanhã você tem escola.

- Eu fiquei com fome – ele mostrou a ela os cookies.

Ela assentiu e então o assunto logo acabou, deixando um clima desconfortável no ar. Era sempre assim, os dois nunca tinham muito o que conversar, como se fossem dois robôs apenas programados para o básico, como se nem sequer fossem parentes. Aqueles silêncios desconfortáveis às vezes eram preenchidos com "Como vai o trabalho?" ou "Como vai a escola?" e respostas automáticas, para logo o silêncio desconfortável retornar e eles decidirem ir cada um para um canto. Isso é o que acontece quando você não cresce com a presença dos seus pais.

Mas hoje Harley estava cansado de tudo aquilo.

- Mãe... – ele começou – Você gosta de mim?

A mulher se espantou novamente com a pergunta e não conseguiu olhar direto nos olhos dele.

- O quê? O que você está perguntando?

- É uma pergunta simples – ele suspirou.

Ela hesitou e ele notou. Ao invés de responder logo de cara, mesmo que fosse para mentir, ela hesitou. E para Harley, aquilo já era a resposta.

- Deixa pra lá – continuou e deu as costas – Boa noite, mãe.

Ela não falou mais nada, não correu atrás dele ou coisa do tipo, e então o garoto apenas caminhou de volta para o quarto e afundou no colchão, ainda com os cookies na mão, que agora ele não tinha mais a menor vontade de comer.





- Harley.

Ele estava quase dormindo quando ouviu batidas na porta do quarto, uns vinte minutos depois do ocorrido. Ele disse que ela podia entrar já que a porta não estava trancada, mas não levantou da cama para falar com ela. Ele estava magoado, profundamente ferido que ela nem sequer quis mentir que gostava dele.

- Eu trouxe o seu favorito – a mãe falou e colocou uma caneca nas mãos do garoto, sentando no colchão ao lado dele.

O garoto olhou para o líquido dentro da caneca e percebeu que era leite e mel, algo que não bebia desde que tinha uns oito anos, mas não quis brigar sobre aquilo também, já que era óbvio que ela não sabia quais eram as bebidas favoritas dele e tinha tentado fazer um agrado. Àquela altura, Nicolas tinha acordado com o barulho da voz dos dois e tentava entender o que estava acontecendo ali no meio da noite.

Meu Querido CeifadorWhere stories live. Discover now