Até mais

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A noção do tempo é muito interessante, embora todos os minutos e horas tenham a mesma duração, eles sempre passam na velocidade oposta à que queremos. Harley aprendeu isso na última semana, enquanto se apegava a cada segundo e se esforçava para não sofrer todos os dias em que se via obrigado a pegar no sono. Cada dia era um dia a menos com a pessoa que ele amava e tinha medo do que ia acontecer quando se visse sozinho. Nicolas era parte da sua cama, de seu quarto, de sua casa, de sua vida. O quão estranho seria acordar e não o ver mais lá?

Ele abriu os olhos naquela manhã e olhou para o rosto adormecido do ceifador, suas bochechas arredondadas, a franja levemente encaracolada, seus bonitos e grandes olhos ainda fechados, e sorriu. Porém, diferente dos outros dias, seu sorriso estava dolorido hoje, quase como se estivesse se forçando a isso...

"Nós prometemos um ao outro sorrir todos os dias até o final, mas será que consigo manter minha promessa no último dia?"

Harley engoliu em seco ao imaginar que amanhã seu grande amor não estaria mais ao seu lado, ele não teria mais para quem sorrir e alguém para abraçar, a partir de amanhã ele teria que se acostumar com a solidão que tanto tinha gostado de abandonar.

Nicolas pegou devagar nas mãos dele e entrelaçou seus dedos, o que assustou o garoto, já que ele continuava de olhos fechados, como se estivesse dormindo. O ceifador não disse nada e seus olhos continuaram fechados até que finalmente conseguisse sorrir. Nicolas então abriu os olhos e sorriu, mas o sorriso dele também parecia forçado.

"Bom dia, meu marido", ele repetiu como vinha fazendo todos os dias desde que os dois se casaram.

"Bom dia, meu marido" o outro respondeu e o puxou para um abraço apertado, talvez o mais apertado que deram até agora.






Dylan planejou uma festa de despedida para o ceifador, algo que Harley achou um tanto deprimente, mas todos os outros concordaram, então acabou rolando. A festa seria no quarto do garoto mesmo, já que aquele era o lugar número um de reunião deles – e também era o local onde o viram pela primeira vez, em dias diferentes. Então eles trouxeram refrigerantes, doces, pizza e alguns jogos para animar a um tanto pesada ocasião. O ceifador também pediu para assistir novamente a filmagem do dia do baile e Lucas ficou muito empolgado ao ver aquele momento pela primeira vez. Dylan, é claro, se gabou por um bom tempo de seus dotes com a câmera, mas Lucas brigou com ele por conta das partes que não dava para enxergar nada, já que o mais novo estava surtando e chacoalhando a imagem.

Eles também jogaram cartas, uno e banco imobiliário e Harley ganhou em todas as partidas de todos os jogos, o que ele achou bem irônico já que estava prestes a perder a coisa mais importante de sua vida. Talvez aquele ditado de "sorte no jogo, azar no amor" fosse mesmo verdade.

Mas, apesar de tudo, Dylan estava certo. Enquanto jogavam, Nicolas estava sorridente e animado, gargalhando dos gritos de seu melhor amigo enquanto saboreava os doces que mais gostava. Ele não estava triste por sua partida e aquilo confortava o coração de Harley, quem sabe se despedir com sorrisos fosse mesmo bem melhor.

Nicolas estava prestes a fazer uma jogada importante quando todos ouviram um barulho estranho vindo de dentro do guarda-roupas do dono do quarto, o que fez com que eles se entreolhassem e o ceifador engolisse em seco, levantando de súbito. Fazia tanto tempo que ele não ouvia aquele som que já tinha desacostumado, então foi como um choque de realidade ter que ouvi-lo novamente.

- O que é isso? – Harley perguntou confuso.

- É o meu relógio... – o outro respondeu e caminhou até o guarda-roupa, o abrindo devagar.

Meu Querido CeifadorWhere stories live. Discover now